Idosa mantida em cárcere privado foi internada contra a própria vontade; veja declaração
O casal suspeito de maus-tratos e de manter uma idosa de 67 anos em cárcere privado em Maceió enviou para a produção, nessa terça-feira (4), documentos que mostram dois atendimentos da vítima em unidades de saúde, sendo a primeira em uma clínica para tratamento de dependentes químicos, e a segunda em um hospital psiquiátrico. Na declaração e no atestado médico, não houve citação do Alzheimer, doença alegada pelos dois, segundo a idosa, para tentar comprovar que ela era dependente deles.
A declaração assinada por uma assistente social da clínica feminina para pessoas com dependência química, no município de Satuba, mostra que a vítima havia sido internada de forma involuntária em outubro do ano passado, para desintoxicação de drogas e para o devido tratamento. No mesmo documento, a assistente social afirma que a idosa apresentou melhoras no comportamento, mas sem especificar qual tipo de apoio ela precisava à época. O documento foi assinado pela profissional em abril deste ano.
Já no atestado de papel timbrado da Secretaria Municipal de Saúde de Maceió, o médico psiquiatra que atendeu a idosa alega que ela se encontrava sob os cuidados médicos dele, por não apresentar condições físicas e psíquicas para o exercício das funções laborativas, ou seja, por não poder trabalhar.
O filho e a nora da vítima chegaram a agendar uma entrevista para o programa Cidade AL, mas de última hora, cancelaram o encontro. “Nesse momento, a gente vai fazer o cancelamento dessa entrevista. Acredito que amanhã de manhã já estamos conversando com o advogado, né? E aí, conforme a instrução que o advogado nos der, aí eu volto a entrar em contato para, se possível, a gente fazer essa entrevista”, disse a mulher.
Polícia ouve testemunhas
A Polícia Civil de Alagoas começou a ouvir testemunhas do caso. As pessoas que compraram a residência da idosa, vendida pelo casal contra a vontade dela, foram intimados pela segunda vez, já que não compareceram na primeira data marcada pela polícia. A delegada Rebeca Cordeiro, da unidade especializada de Crimes contra Vulneráveis, conversou com a reportagem.
“Foram ouvidas duas testemunhas, e nós intimamos as pessoas que compraram as residências, porque temos que saber como essa compra foi feita. Infelizmente na primeira intimação, eles não compareceram. Foi feita uma segunda intimação, e se eles não comparecerem, vão estar cometendo crime de desobediência e podem ser conduzidos coercitivamente à delegacia”.
Cordeiro destacou que o casal vai ser ouvido posteriormente às oitivas das testemunhas, pois precisa colher todas as provas antes de interrogá-los. “Eles têm que explicar primeiramente como a vítima era tratada, pois é um caso muito grave de maus-tratos e de cárcere privado. Como é que foi feita essa venda e o que foi feito com esse dinheiro? Porque nós temos a prova que a entrada inicial de 35 mil reais foi depositada na conta da nora, o recibo de depósito está no nome dela, e a idosa não viu a cor desse dinheiro”.
A delegada também destacou que a idosa está momentaneamente na residência de uma pessoa que já alegou não ter condições financeiras para mantê-la. “Cárcere privado não deixa de ser uma grande violência, não é? O fato de ela não ter acesso aos itens básicos de higiene, nem aos próprios medicamentos, configura quase um estado permanente de tortura. Vai ser apurado com muito cuidado. A medida protetiva foi peticionada tão logo tomamos conhecimento do fato e já foi concedida pela Justiça, com a proibição da aproximação do filho e da nora com a idosa”, explicou.
“Inclusive, solicitamos também, na medida protetiva, mas não foi dado inicialmente, a condução de algum tipo de abrigo, pois ela está morando atualmente de favor em uma casa, e a pessoa disse que não tem condições de mantê-la. É uma situação muito drástica, pois ela saiu só com a roupa do corpo de casa”, continuou.