Nordeste é a região que mais registra casos de choque elétrico, com 29,5%
No Brasil, no ano passado, ocorreram 2.089 acidentes elétricos, incluindo choques, incêndios e raios. Em comparação com 2022, quando foram registrados 1.828 casos, houve um aumento de 261 ocorrências. Dos 2.089 casos de acidentes elétricos em 2023, 781 resultaram em óbitos. Esses dados foram compilados no novo Anuário Estatístico de Acidentes de Origem Elétrica, realizado pela Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos de Eletricidade (Abracopel).
Dos acidentes registrados, 674 foram causados por choque elétrico, 67 por incêndios devido a sobrecarga de energia e 40 por descargas atmosféricas (raios). Um dado que chamou atenção é que os locais com maior incidência de mortes por choque elétrico continuam sendo as redes aéreas, totalizando 418 ocorrências, com 267 mortes. Nas residências, foram registradas 274 ocorrências, resultando em 210 mortes. Entre os acidentes residenciais, 37 mortes foram causadas por fios desprotegidos dentro de casa, 31 por eletrodomésticos e 24 devido à manutenção doméstica inadequada. Esses foram os principais fatores por trás dos acidentes residenciais.
Ainda em relação aos acidentes por choque elétrico, a região Nordeste foi a que registrou o maior número de ocorrências, com um total de 291 acidentes, representando 29,5% do total. Em seguida, vem a região Sul, com 233 casos, seguida pelo Sudeste com 189, Centro-Oeste com 146 e Norte com 127. Em termos de óbitos, a distribuição foi a seguinte: Nordeste (218), Sul (136), Sudeste (118), Centro-Oeste (94) e Norte (108). Isso significa que, no Nordeste, 73 pessoas sobreviveram aos acidentes de choque elétrico, enquanto no Sul foram 97, no Sudeste 71, no Centro-Oeste 52 e no Norte apenas 19.
“Uma notícia preocupante do Anuário deste ano é que o número de registros de mortes por choques elétricos, que em 2022 tinha diminuído, voltou a aumentar, crescendo 13,7% em relação ao ano anterior. No período acumulado de cinco anos (2019-2023), foi observada uma redução de 3,3% no número de fatalidades, entretanto, um aumento de 7,2% no número total de acidentes. Mesmo com a leve redução no número de vítimas, este não é um motivo para comemoração, pois os números continuam elevados”, explica Vinicius Ayrão Franco, presidente da Abracopel.
É importante seguir medidas de segurança ao lidar com eletricidade, como desligar a fonte de alimentação antes de fazer reparos ou manutenções, usar equipamentos de proteção individual adequados e garantir que as instalações elétricas estejam em boas condições. Além disso, é fundamental evitar o contato com água ao manusear aparelhos elétricos e jamais sobrecarregar as tomadas. Em caso de choque elétrico, é importante buscar ajuda médica imediatamente e nunca tentar tocar na pessoa enquanto ela estiver em contato com a corrente elétrica.
Fabio Amaral, sócio-diretor da Engerey, especializada na fabricação de painéis elétricos, ainda ressalta “As pessoas devem estar atentas também a utilização do Dispositivo Diferencial Residual (DR) em instalações elétricas, juntamente com a presença de sistemas de aterramento funcionais, condutores de proteção (fio terra), pontos de tomada e ter uma instalação elétrica que atenda às normas técnicas vigentes. Esses são elementos essenciais para garantir a segurança mínima necessária em instalações elétricas de baixa tensão, e é o que reduzirá as chances de acidentes causados por choques elétricos dentro de casas e edifícios”.
Marco A. Stoppa, dirigente da Reymaster Materiais Elétricos, reforça a importância da seleção adequada de materiais elétricos e da manutenção regular para garantir o funcionamento seguro de toda a instalação.
Além disso, Stoppa também chama atenção para a realização de inspeções periódicas que devem ser conduzidas exclusivamente por profissionais qualificados. “Somente eles podem detectar possíveis falhas e garantir a segurança do sistema elétrico como um todo. A manutenção preditiva em instalações elétricas é comparável a uma revisão de carro: é essencial para o funcionamento ideal a longo prazo e para evitar gastos desnecessários com reparos futuros. Investir em prevenção é investir na segurança e eficiência das instalações elétricas residenciais.”
Em relação à faixa etária, a maioria dos acidentes por choque elétrico envolve pessoas com idades entre 31 e 40 anos, totalizando 286 ocorrências e 182 óbitos. Em seguida, estão as pessoas de 41 a 50 anos, com 192 acidentes, seguidas pelas de 51 a 60 anos, com 97 ocorrências. O especialista observa que, assim como nos Estados Unidos, os acidentes envolvem principalmente indivíduos que trabalham com eletricidade, independentemente de sua experiência no assunto.
Portanto, tanto para Fábio Amaral quanto para Marco Stoppa, é fundamental investir em campanhas educativas e medidas de prevenção voltadas para faixas etárias mais propensas a esses acidentes.
Incidências de choques elétricos
As áreas de geração e distribuição de energia lideraram em incidências de choques elétricos, totalizando 418 casos e 267 mortes. Em seguida, as áreas residenciais foram apontadas como a segunda maior causa de acidentes e fatalidades, com 274 registros, dos quais 210 resultaram em óbito. “É crucial que as pessoas estejam cientes dos cuidados necessários ao lidar com eletricidade em casa e, ao detectarem sinais de problemas, busquem imediatamente ajuda especializada para evitar riscos à sua integridade física e à conservação do patrimônio”, destaca Fábio Amaral.
Segundo a avaliação da Abracopel, os acidentes residenciais geralmente são causados pela energização acidental de equipamentos elétricos com partes metálicas externas, pelo envelhecimento e pela falta de manutenção adequada dos equipamentos, pela ausência de aterramento elétrico adequado e pela falta do dispositivo Diferencial Residual (DR) nas instalações, como indicado pelas investigações.
Importância do Dispositivo Residual
O Dispositivo DR desempenha um papel fundamental na segurança das pessoas e na proteção dos equipamentos elétricos nas instalações. atua detectando correntes de fuga que podem causar choques elétricos ou incêndios, interrompendo instantaneamente o circuito e prevenindo acidentes graves. Essa tecnologia é essencial para garantir um ambiente elétrico seguro e confiável em residências, empresas e outros locais.
No Brasil, o uso do Dispositivo DR é regulado pela norma técnica NBR 5410, que define as condições apropriadas para a instalação elétrica de baixa tensão em edifícios, residências, estabelecimentos comerciais, industriais e outras áreas. Essa norma estabelece diretrizes específicas para garantir a segurança elétrica e a proteção contra choques elétricos, incêndios e outros riscos associados à eletricidade.Contudo, apesar de ser de uso obrigatório desde 1997, sua exigência não é seguida na maioria das residências, principalmente em construções antigas que não foram modernizadas. Segundo o Procobre (Instituto Brasileiro do Cobre) apenas 27% dessas edificações possuem DR.
“O dispositivo reconhece que por determinada fiação está vazando um percentual de corrente elétrica diferente do habitual, como no caso de uma criança colocando uma chave na tomada. Assim, o DR desarma os circuitos que estão ligados a ele, interrompendo o choque elétrico”.
Comparativo Internacional
O Brasil registrou 781 mortes por acidentes elétricos em 2023, e se aproxima dos EUA, que tem 1 mil por ano.
Nos Estados Unidos, os acidentes elétricos causam cerca de 1.000 mortes por ano, sendo aproximadamente 400 decorrentes de alta tensão. Em relação aos raios, eles resultam em 50 a 300 mortes anualmente. Essas estatísticas são da National Library of Medicine, a maior biblioteca médica do mundo, operada pelo governo federal norte-americano.
Segundo a instituição, há pelo menos 30 mil incidentes de choque por ano que não resultam em morte. Anualmente, aproximadamente 5% de todas as admissões em unidades de queimados em hospitais nos Estados Unidos são devido a lesões com causas elétricas. Cerca de 20% de todos os acidentes acontecem em crianças (com mais frequência em casa) enquanto em adultos, são mais comuns em ambientes de trabalho e representam a quarta causa de morte traumática relacionada ao trabalho.