Restaurada por Collor, Igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens é tombada definitivamente
Após passar por uma restauração em 2022, por meio de uma ação de Collor como senador da República, que garantiu recursos de R$ 2,9 milhões, a Igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens, em Coqueiro Seco, região metropolitana de Maceió, foi tombada, definitivamente, nessa quinta-feira (9), durante a 104ª Reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, sendo inscrita no Livro do Tombo das Belas Artes e no Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico.
A dupla inscrição do bem se justifica por sua qualidade artística singular, expressada nas soluções arquitetônicas e na combinação do estilo rococó
Durante a entrega da restauração, em março de 2022, Collor destacou a importância da restauração do prédio para a comunidade católica da região e também da conservação do patrimônio histórico. “É muito gratificante ver mais essa obra sendo realizada em favor da fé cristã. Essa igreja, que estava inteiramente destruída, esses altares, essas imagens, foram todas restauradas com muito carinho, com muito cuidado, graças ao afinco daqueles que fazem o Iphan. Isso é uma beleza, para quem tinha visto o estado em que se encontrava a Igreja Matriz de Nossa Senhora Mãe dos Homens, ver isso agora é quase um milagre”, afirmou o senador durante a solenidade, que contou com a presença do então ministro do Turismo, Gilson Monteiro.
Localizada no alto de um morro e visível desde a Lagoa Mundaú, para a qual está voltada, a igreja começou a ser erguida a partir da doação de terras por parte de moradores locais em 1790, quando Alagoas ainda integrava a capitania de Pernambuco, e foi finalizada nos primeiros anos do século XIX, sendo importante memória da ocupação católica à época do Brasil Colônia.
Destaca-se que sua construção também teve contribuição dos habitantes locais e foi realizada em etapas. Já em 1792, a capela estava pronta, sendo o passo seguinte a ornamentação com elementos artísticos em seu interior. No começo do século XIX, foram finalizadas a fachada principal e as duas torres sineiras. Em seguida, vieram o adro monumental (terreno em frente à igreja que a separa das demais edificações da cidade e servia como local de encontro e atividades dos fiéis) e três sinos de bronze, dispostos na torre direita.
O tombamento é de alto significado para a cidade alagoana, que tem Nossa Senhora Mãe dos Homens como sua padroeira, exaltada na região anualmente no dia 26 de janeiro com festejos, procissões e missas. A devoção a essa representação de Nossa Senhora foi trazida de Portugal e iniciada em Minas Gerais, antes de chegar a Alagoas. Conforme pesquisa realizada durante o processo de reconhecimento da Igreja como Patrimônio Cultural do Brasil, a imagem de Nossa Senhora Mãe dos Homens, esculpida em madeira dourada, está na edificação desde 1791. Segurando o Menino Jesus no braço esquerdo e abençoando aos fiéis com a mão direita, Maria está representada em uma escultura de aproximadamente 1,40m.
Excepcional por fora e por dentro
Ao subir as escadas em frente à Igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens, tem-se noção dos destaques mais evidentes da “excepcionalidade arquitetônica” do edifício: as influências rococó e neoclassicista e a frontaria azulejada, feita em meados do século XIX, características incomuns em monumentos religiosos no Nordeste do Brasil à época.
A técnica trazida de Portugal enfeita com azulejos em padrão floral as duas torres e o tímpano (parede decorativa acima da porta da Igreja, entre as duas torres) e é complementada com um embrechado, artifício de decoração que busca imitar a azulejaria tradicional a partir de cacos de cerâmica, conchas e pedras coloridas – uma solução encontrada pela arquitetura brasileira para problemas nas edificações da época e que torna a edificação singular na região naquele momento, aponta o parecer técnico.
Da porta para dentro, são elementos artísticos integrados, entalhados em madeira, que chamam a atenção. Retábulos, púlpitos, pia batismal, sanefas e tribunas em estilo rococó, uma fase mais suave do Barroco, assim como a imaginária e objetos litúrgicos. Tudo encomendado a entalhadores e artistas santeiros da Bahia, conforme relatos historiográficos, indicando a singularidade do bem cultural.
Apesar da perda parcial desses artefatos após desabamento do telhado em 1949, em consequência de uma tempestade, a Igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens manteve seu valor arquitetônico único, assegurando-lhe também a inscrição no Livro do Tombo das Belas Artes.