Campanha quer criar abrigos exclusivos para mulheres vítimas de violência e abuso no RS
Em meio à tragédia climática que deixa milhares de desabrigados no Rio Grande do Sul, pessoas foram encaminhadas para abrigos provisórios. Há relatos de estupro nestes locais, e seis suspeitos foram presos até esta quinta-feira (9).
Diante das denúncias, o Instituto Survivor e o Me Too Brasil angariam doações para patrocinar um abrigo que será destinado a mulheres e mães em situação de vulnerabilidade que precisam desse apoio.
A advogada criminalista Izabella Borges, especialista em violência de gênero e fundadora do Instituto Survivor, afirma que as organizações estão realizando cadastro destas mulheres para entender suas necessidades.
A ideia inicial, ela diz, era fazer doações e entregar os itens diretamente para as mães. Durante o processo de cadastro, contudo, começaram a ouvir sobre situações de violência sexual dentro dos abrigos, que teriam também crianças e adolescentes como vítimas.
A advogada afirma que as ONGs têm recebido informações de casos de abuso contra menores de 18 anos e mulheres. Por isso, a ideia é patrocinar um abrigo nas cidades de Canoas e Nova Hamburgo para receber exclusivamente pessoas nesta situação.
“Há relatos de abusos por conhecidos e desconhecidos. Uma mulher relatou que tem medida protetiva de urgência e está no mesmo abrigo que o agressor”, afirma Borges.
Em entrevista a jornalistas nesta quinta, o governador Eduardo Leite (PSDB) afirmou que até então foram registrados seis casos de abuso, alguns deles cometidos por familiares das vítimas. Em todos os casos os autores das agressões foram presos, ele disse.
Na noite de quarta-feira (8), a ministra Cida Gonçalves (Mulheres) ouviu relatos de abusos contra meninas e mulheres nos abrigos que recebem os afetados pelas enchentes no estado. E ouviu queixas de que não há onde denunciar os casos. A ministra também ouviu pedidos de abrigos e banheiros exclusivos para mulheres, além de um apelo por doações de absorventes, toalhas, roupas de cama, alimentos não perecíveis e colchões.
Na reunião foi cobrado enfoque de gênero nos protocolos de resgate em momentos de crise.
O Me Too Brasil e o Instituto Survivor abriram um canal de escuta especializada de vítimas de violência sexual. “A situação é gravíssima. Elas temem por suas vidas, têm medo, e os agressores estão lá dentro. Existe policiamento, mas o policiamento não está sendo efetivo.”
Por isso as vítimas evitam fazer denúncias oficiais, mas relatam às ONGs, de forma anônima, esses casos de violência que têm acontecido em banheiros e no entorno dos abrigos, quase sempre à noite.
Marina Ganzarolli, presidente e fundadora do Me Too Brasil, afirma que a situação de crise expõe mulheres e crianças a riscos ainda maiores.
“A violência sexual não acontece em razão da catástrofe, a violência acontece em razão da estrutura patriarcal e do fácil acesso de agressores e predadores sexuais às vítimas em situação de extrema vulnerabilidade”, afirma.
De acordo com reportagem publicada pela agência de notícias Reuters, grupos de WhatsApp que mobilizam donativos e resgates têm disparado uma série de alertas sobre episódios de abusos em abrigos, que estão sendo investigados.
Voluntários pedem que pessoas que atuam nos locais de acolhimento aos desabrigados monitorem os banheiros 24 horas por dia e solicitem reforço de segurança.