Agressão, “chupão” e faca: como pai de santo intimidava suas vítimas

 

Preso desde terça-feira (30/4) por determinação da Justiça, o pai de santo Rodrigo de Lima Baptista, de 45 anos, é investigado por usar de sua influência religiosa para abusar sexualmente de ao menos cinco mulheres já identificadas pela Polícia Civil de Araraquara, no interior de São Paulo.

Além disso, segundo denúncia do Ministério Público de São Paulo (MPSP),  Rodrigo ameaçava as mulheres de morte em seu terreiro de umbanda, no qual havia facas e armas de fogo. Entre as vítimas, uma ficou grávida e deu à luz uma menina, fruto de um dos abusos que teria sofrido do religioso.

Na denúncia em que pediu a prisão temporária de Rodrigo, o promotor Conrado Ferri Cintrão indica que o pai de santo, além de abusar da jovem que engravidou – atualmente com 18 anos –, teria estuprado duas irmãs, de 13 e 17 anos. A defesa dele não foi encontrada. O espaço segue aberto para manifestação.

As vítimas relataram à mãe que, durante os cultos religiosos, o pai de santo, alegando estar incorporado por uma entidade, “praticava atos violentos” contra elas, tais como: segurá-las “de forma bruta”, empurrando-as para “caírem”, além de praticar “atos libidinosos” como “dar chupão” enquanto “as segurava pelo pescoço”.

“As vítimas também noticiaram que tinham medo de Rodrigo, pois este afirmou que sua entidade era capaz de matar.”

A adolescente mais jovem foi acariciada na coxa, configurando o crime de estupro de vulnerável e importunação sexual, pelo fato de a vítima se tratar de menor de 14 anos, conforme os artigos 217 e 215 do Código Penal. Segundo os relatos, o pai de santo colocava a garota sentada em seu colo e acariciava o corpo dela.

Com a jovem de 17 anos, segundo a denúncia, o religioso consumou o ato sexual “com conjunção carnal”, por meio de “fraude” com a vítima, “já que ela buscou auxílio religioso diante do seu quadro de depressão”, diz trecho da denúncia.

No documento, o promotor Conrado Ferri Cintrão segue afirmando que Rodrigo mantinha a jovem de 17 anos em um quarto, no centro de umbanda, com a alegação de que “precisaria passar ensinamentos sobre a espiritualidade para a vítima”. No entanto, diz a denúncia, o pai de santo “mantinha com ela relações sexuais”.

Sutiãs e sopros no ouvido

Além das duas irmãs e da jovem que engravidou, o MPSP menciona o caso de outra vítima que trabalhou por dois anos no terreiro de Rodrigo, dando assistência aos frequentadores do local e aos médiuns de incorporação.

Ela afirmou, ainda segundo documento da Promotoria, que Rodrigo “incorporava” entidades e, após isso, “mantinha contatos físicos inapropriados com as participantes”.

Em outubro de 2023, a mulher disse ter visto o pai de santo levando a adolescente de 17 anos para um quartinho, durante ritual religioso, para supostamente “conversar com ela particularmente”. Isso, segue a testemunha, “se repetiu durante meses seguidos”.

Em outro ritual, a mesma testemunha afirmou que, juntamente com a jovem de 17 anos, além de outra vítima, tirou a blusa, ficando todas somente de sutiã. Rodrigo, segundo ela, então se aproximou delas e passou a cheirar seus pescoços e a soprar em seus ouvidos.

Em um desses “rituais”, o religioso afirmava estar incorporado e se aproximava das vítimas “suspirando lascivamente”, enquanto mordia os lábios e olhava para as nádegas da adolescente de 17 anos.

“Rodrigo estava usando a religião para abusar sexualmente das participantes”, afirmou a testemunha, acrescentando estar ciente de que “tais atos não são praticados” na umbanda.

“Cria dele”

Essa testemunha relatou ainda que, em certa ocasião, Rodrigo levou-a para o mesmo quartinho no qual ele permaneceu algumas vezes com a adolescente de 17 anos.

No local, a mulher afirmou que, alegando estar incorporado por uma entidade, o pai de santo dizia que ela era “cria dele”, que cuidaria dela, fazendo-a “prosperar e crescer”.

Rodrigo a levou outras vezes para o local, onde, segundo a mulher, “lambeu seu pescoço, tentou lamber sua boca, mordeu e cheirou seu pescoço”.

“Todas as aproximações físicas de Rodrigo com as participantes durante os rituais, em tese, segundo ele dizia, eram práticas das entidades incorporadas por ele e não dele”, diz trecho da denúncia. A testemunha deixou de frequentar o terreiro em janeiro deste ano.

Investigações da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Araraquara mostram que Rodrigo se aproveitava da fé das vítimas para praticar os abusos sexuais. As práticas teriam ocorrido em um quarto construído pelo suspeito especificamente para essa finalidade.

“Acredito que várias vítimas passaram pela mesma situação e, por receio ou vergonha, não procuraram a polícia ainda para registrar o fato”, disse a delegada Meirelene de Castro Rodrigues.

Rodrigo é investigado pelos crimes de violação sexual mediante fraude, estupro de vulnerável e importunação sexual. Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP), o caso está sob segredo de Justiça.

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