“Não é um quadro exclusivo daqueles que compõem a corporação. Mas a temática do adoecimento mental é uma preocupação emergente”, diz Polícia Militar de AL
Registros de ocorrências envolvendo policiais militares, com mortes, suicídios e assassinatos nas últimas semanas em Alagoas, chamou a atenção para a realidade de quem trabalha para defender a sociedade, mas está psicologicamente doente e precisando de ajuda.
A saúde mental dos militares alagoanos ganhou destaque após um cabo matar o colega de farda, atirar contra a ex-mulher e cometer suicídio, no último dia 5 de abril. Outro caso que chamou a atenção para os problemas psicológicos de policiais foi o do militar que morreu após trocar tiros com o irmão, durante uma discussão envolvendo animais de estimação. Caso registrado no último dia 13 de abril.
Os dois tristes episódios provocaram debate na Assembleia Legislativa do Estado (ALE), em outras instituições públicas, no Comando Geral da Polícia Militar do Estado e na sociedade como um todo.
A Polícia Militar fala sobre o que é oferecido e os projetos para dar mais atenção à saúde mental dos policiais. A instituição explicou quais os procedimentos adotados, disse que realiza trabalho de posvenção e prevenção ao suicídio e afirmou que o aumento de problemas de saúde mental não se limita à corporação, mas tem atingido a sociedade de forma geral
Nos últimos meses, temos registrados casos de PMs que cometeram suicídio ou que se envolveram em casos que demostram possível desequilíbrio psicológico. Como a Polícia Militar lida com isso e qual o procedimento do órgão em casos assim?
A Polícia Militar oferece atendimento imediato ao PM envolvido em qualquer ocorrência no âmbito social e psicológico. Tanto por meio da Diretoria de Saúde (DS), com serviço médico e de psiquiatria, e do Centro Integrado de Assistência (CIA) com a equipe de psicólogos, assistentes sociais e capelanias católica e evangélica. O atendimento se dá de forma presencial, seja por meio de acolhimento individual com psicoterapia e oferta de práticas integrativas (como o reiki- tipo de terapia) e devido encaminhamento para serviços especializados quando necessário, ou atendimento de urgência.
Recentemente houve o caso do militar que matou um colega de farda, atirou na ex-companheira e se matou em seguida. Foram dois militares mortos em uma circunstância triste. Como foi a reação da corporação? O que foi feito na situação?
Para minimizar os efeitos dos eventos recentes a PM está ofertando, na área de lotação dos PMs envolvidos, grupos de acolhimento, realizando trabalhos de posvenção e prevenção ao suicídio e de prevenção ao transtorno pós-traumático.
Como é feito o apoio psicológico aos policiais? Como está o quadro médico e como é feito o acompanhamento psicológico?
O atendimento psicológico é ofertado à tropa, sendo realizado por demanda espontânea (quando o próprio policial procura) ou por encaminhamento das unidades quando os respectivos comandantes observam a necessidade em integrantes de seu efetivo e encaminham ao Centro Integrado de Assistência.
A instituição sente que a questão de saúde mental, depressão, estresse e síndrome do pânico evoluiu nos últimos tempos entre os policiais?
Claramente, a sociedade vem sofrendo bastante com o adoecimento mental. Esse cenário expõe uma fragilidade mundial, tanto que no relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) foi apontado que cerca de um bilhão de pessoas vivem com algum tipo de transtorno. Não é um quadro exclusivo daqueles que compõem a corporação. Mas a temática do adoecimento mental é uma preocupação emergente, tanto que nossos programas e as ações são desenvolvidas a fim de acolher e prestar a devida assistência aos militares que nos procuram ou que são encaminhados por suas respectivas unidades.
Há algum programa ou ação dentro da corporação para trabalhar a conduta e cabeça dos policiais, sejam eles da ativa ou em formação?
Todos os programas, abaixo mencionados, são desenvolvidos pela equipe do CIA. As temáticas são abordadas por meio do desenvolvimento de grupos, oficinas, treinamentos e atendimentos individualizados. Além disso, há o CIA Itinerante, no qual a equipe realiza deslocamentos às unidades militares distribuídas pelo território alagoano, com o objetivo de trabalhar as questões envolvidas nos programas. Essa dinâmica vem sendo desenvolvida com o objetivo de aproximar o setor de assistência dos militares, de tal modo que se estabeleça um elo de confiança para que busquem ajuda caso sintam necessidade ou direcionem companheiros de farda.
Os programas desenvolvidos e instrumentos normativos da instituição são os seguintes:
Programa de Preparação para a Reserva (Portaria nº 007/19 – GCG – BGO nº 172 de 15/09/2014) – aplicado aos militares que se preparam para ingressar na inatividade, para que a transição ocorra de forma estruturada e saudável;
Procedimentos necessários à assistência ao policial militar com problemas decorrentes do uso de álcool e/ou outras drogas (Portaria n° 040/2018 – GCG – BGO nº 202 de 01/11/18) ;
Programa de Prevenção ao Estresse Pós-traumático (Portaria nº 39/2015 – GCG – BGO nº 118 de 30/06/2015
Programa de Valorização da Vida e Prevenção ao Suicídio (Portaria nº 007/19 – GCG – BGO nº 052 de 20/03/2019);
Institui os Parâmetros básicos para a implantação do Plano de intervenção do CAS no Sistema de Ensino da PMAL (Portaria nº 02/2019 – DE – BGO nº 089 de 11/05/2019) – contemplando o policial militar desde a sua formação;
Institui os Núcleos de Assistência Psicossocial no interior (Portaria nº 57/2020 – GCG – BGO nº 201 de 04/11/2020) – implantação da interiorização dos serviços ofertados pelo Centro Integrado.