A evangélica que roda igrejas falando sobre suicídio após irmã se matar: ‘Disseram que ela ia para o inferno’
Ao encontrar o corpo da irmã mais nova que tinha acabado de se suicida, em 2012, Késia Mesquita conta que saiu para a rua gritando: “Meu Deus, para onde ela foi?!”
Afinal, não é incomum que evangélicos como ela ouçam que quem tira a própria vida cometeu um pecado e vai para o inferno
A ideia de que tirar a própria vida é um pecado segue vigente entre fiéis, pastores e lideranças evangélicas, embora grandes
igrejas estejam adotando uma postura mais empática com pessoas afetadas pelo suicídio, segundo especialistas.
Késia Mesquita, hoje com 39 anos, cresceu em Teresina, no Piauí, frequentando com a família a Assembleia de Deus.
Depois da perda e de um doloroso luto, ela fundou em homenagem à irmã um centro dedicado à prevenção do suicídio e aos cuidados com pessoas que perderam alguém que se matou, a chamada posvenção.
Formada em letras antes da morte da irmã, Késia decidiu depois fazer uma pós-graduação sobre o assunto, escreveu vários livros e passou a viajar pelo Brasil fazendo palestras e pregações sobre saúde mental em igrejas evangélicas.
Uma pregadora ou um pregador é quem espalha a crença evangélica para outras pessoas, mas não tem a função e as obrigações de um pastor.
Embora já veja mudanças entre os pastores e igrejas, ela afirma que ainda é uma minoria que está preocupada em quebrar o tabu religioso em relação ao suicídio.
“É uma porcentagem pequena, mas já conseguimos ver uma luz no fim do túnel”, afima.
“Nos últimos dez anos, tive a oportunidade de falar em muitas igrejas e vi a preocupação que muitos líderes têm em entender do assunto para acolher melhor.”
A trajetória de Késia e o tratamento do suicídio entre os evangélicos são o tema da segunda reportagem da série suicidio e fé, que aborda o tabu religioso com o ato, com foco nas religiões com mais adeptos no Brasil.