‘Poucos profissionais monitoravam minas em Maceió’, diz ex-servidor do Serviço Geológico do Brasil

A Braskem tinha equipe reduzida e não fez os monitoramentos necessários nas minas de extração de sal-gema para garantir a segurança do solo de Maceió. A informação foi dada, nesta quarta-feira (6), pelo ex-servidor do Serviço Geológico do Brasil (SGB), Thales Sampaio, à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga a responsabilização de envolvidos nos afundamentos nos bairros alagoanos. Com o desastre ambiental, algumas minas cederam, levando a rachaduras nas edificações e à evacuação de milhares de pessoas.

Na avaliação do relator do colegiado, Rogério Carvalho (PT-SE), a Braskem tinha recursos para fiscalizar as cavidades e evitar os colapsos das minas que provocam danos sérios desde 2018 na região.

Segundo Thales, a Braskem argumentou, nas primeiras reuniões com a SGB em 2018, que acima das minas havia uma camada rochosa firme no subsolo que evitaria afundamento. Mas, segundo ele, o conglomerado de rochas possui “matriz arenosa”, que pode se desfazer com o atrito e a torna frágil.

A SGB concluiu, em 2019, estudo técnico que apontou a Braskem como a responsável pelos danos que ocorrem desde 2018. Thales afirmou que todas as hipóteses de rebaixamento natural do solo foram descartadas nos trabalhos, que contou com 52 pesquisadores da estatal. Segundo ele, a equipe provou que questões naturais como aquíferos, camadas de calcário ou “fragilidades geotécnicas” na região não foram as causas dos danos.

Omar também compartilhou sua preocupação com os atingidos pelo desastre, que não teve vítimas fatais. Ele afirmou que já sofreu com a destruição causada por um terremoto na década de 70.

Em 2019, a Braskem paralisou suas atividades de extração de sal-gema. Agora, diversos órgãos públicos buscam a responsabilização da empresa por diferentes tipos de danos, como ao meio ambiente, à urbanização, à economia, além dos danos morais aos atingidos pelos acidentes. Alguns acordos foram assinados com a Braskem como resultados desses processos judiciais, a fim de dar mais rapidez na reparação dos danos e evitar a continuação das ilegalidades.

A extração do mineral — que é utilizado, por exemplo, em PVC — ocorre desde os anos 1970 nos arredores da Lagoa Mundaú, na capital alagoana. A atividade era realizada por outras empresas, como a internacional DuPont, mas passou a ser feita pela Braskem a partir de 1996, segundo o relator.

Thales afirmou que, atualmente, existem 35 minas na região, que somam o tamanho de três estádios do tamanho do Maracanã. Algumas delas “desaparecidas”. Isso ocorre, segundo ele, porque as rochas caem nas cavidades, ocupando o fundo e aumentando o vazio no topo da mina. Esse movimento pode ocorrer inclusive de maneira inclinada, fazendo com que o buraco mude de lugar. Para ele, o solo dos bairros só deve ser habitável novamente em mais de 20 anos.

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