Desvendando o Mistério: Por que é tão difícil resistir aos alimentos hiperpalatáveis?
Por Alessandra Conceição
A publicidade alimentar muitas vezes nos desafia com slogans como “é impossível comer um só”, criando a percepção de que certos produtos são tão deliciosos que resistir a eles é uma tarefa árdua. Essa irresistibilidade está associada aos alimentos hiperpalatáveis, pertencentes ao grupo de ultraprocessados, desenvolvidos com o intuito de proporcionar uma “explosão de sabores”.
Refrigerantes, macarrões instantâneos e bolachas recheadas são exemplos desse grupo, conhecidos por conterem baixos níveis de fibras, proteínas, vitaminas e minerais, podendo gerar um efeito viciante a longo prazo, de acordo com especialistas.
O segredo da difícil resistência a esses alimentos reside na combinação precisa de açúcar, sal e gordura, resultando em um sabor marcante. “É uma combinação perfeita, que resulta de um processo que envolve muita tecnologia industrial”, explica Maria Alvim, nutricionista e pesquisadora do Nupens.
Os alimentos hiperpalatáveis utilizam aditivos alimentares como óleos hidrogenados e proteínas hidrolisadas para aprimorar cor, textura, sabor e cheiro, tornando-os mais palatáveis. Segundo Laís Amaral, coordenadora do Programa de Alimentação Saudável e Sustentável do Idec, esses aditivos são cruciais, pois sem eles, os ultraprocessados provavelmente não seriam comestíveis.
Um estudo recente da Universidade do Kansas revelou ligações entre alimentos hiperpalatáveis e a indústria do tabaco, sugerindo um potencial viciante. O crescimento desses produtos coincidiu com o período em que empresas de tabaco adquiriram marcas alimentícias.
A hiperpalatabilidade desses alimentos é frequentemente induzida por embalagens que incentivam o consumo excessivo. Além disso, o declínio populacional já iniciado e a disseminação desses produtos são parte de estratégias comerciais voltadas para o lucro.
Para os consumidores, a identificação de ultraprocessados nos rótulos é essencial. A leitura da tabela nutricional e a atenção aos primeiros ingredientes listados são práticas úteis. Uma lista curta de ingredientes, sem açúcar e gordura predominantes, é indicativa de opções mais saudáveis. A rotulagem nutricional frontal, com ícones alertando sobre excessos de sódio, gordura ou açúcar, também é uma ferramenta valiosa para fazer escolhas conscientes.