Famílias que ainda vivem na região afetada pela mineração em Maceió saem de casa após ordem judicial: ‘Isso não é uma solução’

Famílias que ainda vivem na região afetada pela mineração em Maceiódeixaram suas casas depois do alerta de que uma imensa cratera poderia se abrir no Mutange, com o colapso de uma mina da Braskem. Uma moradora da área de risco conta que saiu do imóvel na madrugada desta quinta-feira (30) após receber uma ordem judicial.

A Justiça Federal determinou a desocupação de 23 residências nas áreas mais próximas do Mutange, como Bom Parto e Bebedouro. A ordem, com autorização para uso de força policial caso haja resistência, atende a um pedido do Ministério Público Federal (MPF). Quem mora no Pinheiro, bairro vizinho, não tem indicação para evacuação, mas tem deixado suas casas por precaução. Mais de 14 mil imóveis já foram desocupados na região desde que o problema começou, em 2018.

“Chegou uma ordem judicial por volta de 2h da manhã. Bateram na minha porta um oficial de Justiça, a Polícia Militar, Polícia Federal, Samu, Defesa Civil… mais de 30 pessoas”, disse a advogada Andrea Carla, que mora no Pinheiro.

Pela manhã, a advogada esteve na sede da Defesa Civil para pegar uma autorização para retornar e buscar seus objetos pessoais, já que precisou sair sem levar nada. Ela está abrigada na casa da nora.

A reportagem entrou em contato com o MPF e com a Defesa Civil para saber quantas pessoas foram retiradas de casa por ordem judicial nas últimas horas, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.

Desde que a mineração para extração de sal-gema realizada pela Braskem foi apontada como a principal causa do afundamento do solo em Maceió, um intenso trabalho foi iniciado para fechamento e estabilização de 35 minas na região. A mina com risco iminente de colapso é a de número 18, situada próximo à lagoa. Se ela ceder, uma cratera pode se abrir e afetar a lagoa.

Por precaução, o Hospital Sanatório, localizado no Pinheiro, transferiu todos os seus pacientes para outras unidades de saúde. Embora não haja ordem para evacuação, a medida foi adotada porque o hospital fica localizado em uma encosta que dá para o bairro Mutange, não onde pode se abrir a cratera em caso de colapso da mina.

Ainda durante a madrugada, equipes da Defesa Civil de Maceió percorreram a região do Mutange, informando os moradores sobre os riscos e tentando convencê-los a deixarem suas casas de forma voluntária. Foi oferecido transporte de ônibus para levar as pessoas até uma das seis escolas do município que estão servindo de abrigo e ponto de apoio a quem deseja sair.

Na manhã desta quinta havia apenas três famílias na Escola Pompeu Sarmento, no Barro Duro, que foram para o local por vontade própria. A reportagem solicitou à Defesa Civil um levantamento de quantas pessoas se encontram em escolas, mas também não obteve resposta.

As famílias alegam que não têm garantias do que vai acontecer ao deixar as casas e temem pela segurança dos pertences deixados nos imóveis.

“Simplesmente eles [Defesa Civil] dizem ‘vamos para um abrigo’, mas isso não é uma solução porque a gente vai passar uma noite apenas no abrigo? Todo mundo sai daqui, deixa as casas da gente a mercê, está tendo roubo aqui direto”, reclamou a dona de casa Lene Maria.

Moradores pediam para serem realocados

Moradores da região do Bom Parto e dos Flexais pedem há anos para serem incluídos no Mapa de Risco da Defesa Civil que garante a realocação das famílias e indica a necessidade de desocupação das áreas de risco.

Somente quem foi incluído no mapa tem direito à compensação financeira paga pela Braskem, petroquímica responsável pela mineração que causou o problema, que começou em 2018 com um intenso tremor de terra.

Nos últimos anos, esses moradores fizeram vários protestos, fechando ruas, fazendo caminhadas, pedindo pela inclusão. Como resposta, a Defesa Civil do município informava que seguia monitorando as áreas afetadas pelo processo de afundamento do solo.

Nos protestos mais recentes, em agosto e setembro, o órgão emitiu a mesma nota dizendo que não havia dados que justificassem a atualização e a ampliação do mapa de realocação.

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