TV Gazeta deve deixar ser parceira da Globo após quase 50 anos
Após 48 anos, a TV Gazeta de Alagoas deverá deixar de ser parceira da Globo no estado nordestino. A mudança ocorre após dificuldades financeiras e um escândalo de corrupção que causou a condenação no STF (Superior Tribunal de Justiça) do ex-presidente Fernando Collor.
A nova parceira deverá ser uma TV comandada pelo Grupo Nordeste de Comunicação, que tem como acionista principal Vicente Jorge Espíndola. O grupo já é dono da TV Asa Branca de Caruaru, cidade do agreste de Pernambuco, e afiliada da Globo desde 1991.
Nas últimas semanas, o TV do grupo passou a operar em fase de testes em um prédio comprado no bairro do Farol, zona nobre de Maceió. O transmissor já foi instalado e os testes começaram na última segunda-feira (23).
A expectativa é que, com todos os testes dando certo e o prédio em plenas condições de funcionamento, a troca de emissoras da Globo em Alagoas venha a acontecer no primeiro semestre de 2024.
Collor é acionista majoritário das Organizações Arnon de Mello, maior conglomerado de mídia do estado, do qual a TV Gazeta de Alagoas faz parte. A emissora é parceira da Globo desde sua fundação, em 1975.
Em 2019, a emissora entrou em recuperação judicial ao alegar dívidas de R$ 284 milhões. Além disso, uma greve de funcionários que durou quase duas semanas e um pedido de cassação pelo MPF (Ministério Público Federal) fizeram a TV Gazeta entrar no noticiário político.
TV FOI ENVOLVIDA EM ESQUEMA, DIZ STF
Mas o fato mais grave foi o esquema de corrupção que envolveu a TV Gazeta. Em maio, Fernando Collor foi condenado pelo STF a oito anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Collor recebeu e ocultou R$ 20 milhões em propina paga em contrapartidas a contratos celebrados pela UTC Engenharia com a BR Distribuidora na época em que era senador.
A quantia era paga em dois modos. O primeiro era depositado diretamente na conta de Collor. O segundo ia para as contas da TV Gazeta e da empresa Gazeta de Alagoas Ltda. Ambas fazem parte das Organizações Arnon de Mello.
O relator do caso no STF, ministro Edson Fachin, julgou que 65 depósitos foram feitos às empresas entre março de 2011 e março de 2014, em um total de R$ 13 milhões. A propina seria depositada em valores fracionados para não chamar a atenção do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).
Segundo consta na recuperação judicial que envolve a TV Gazeta de Alagoas, a maior dívida se refere a débitos não previdenciários, que somam R$ 147 milhões em dívidas de Imposto de Renda, PIS, Cofins e multas, entre outras. Até hoje, ex-funcionários tentam na Justiça receber o que é de direito. Alguns pedidos chegam na casa do R$ 1 milhão.
A defesa de Collor sustentou ao Supremo que as acusações contra o ex-presidente são baseadas apenas em delações premiadas e afirmou não haver provas contra o seu cliente. Segundo os advogados, Collor não foi o responsável pela indicação de diretores da BR Distribuidora.
A Globo não quis comentar o assunto. Representantes das Organizações Arnon de Mello foram procurados por e-mail e telefone, mas também não responderam aos contatos até a última atualização desta reportagem.