Deputados federais do PSol enviaram, nessa segunda-feira (16/10), uma representação ao Ministério Público Federalpedindo que a igreja Assembleia de Deus de Rio Verde, em Goiás, seja investigada pelo retiro “Maanaim”, que supostamente teria o objetivo de promover a “cura gay”. O local teria sido frequentado pela influenciadora bolsonarista Karol Eller uma semana antes de morrer, em 12 de outubro.
De acordo com a representação de Erika Hilton (SP), Luciene Cavalcante (SP) e Pastor Henrique Vieira (RJ), o retiro tenta transformar jovens LGBTQIA+ em heterossexuais.
“A conduta criminosa de tratamento de cura gay pelos Representados deve ser imediatamente coibida, assim como investigadas as vítimas já submetidas à tamanha violência, para que vidas sejam preservadas”, dizem os parlamentares no documento.
Os parlamentares citam postagens feitas por Karol Eller dias antes de sua morte, nas quais ela afirma que havia “se convertido”. Horas antes de cair do 4º andar do prédio em que morava, na zona sul de São Paulo, a influenciadora fez uma publicação dizendo que havia “perdido a guerra”.
“A prática [da “cura gay”] leva apenas à negação da existência do sujeito, o que potencializa os casos de depressão e outras doenças psicológicas de quem é submetido. Foi o caso de Karol Eller, que, após participar do retiro em questão, cometeu suicídio atirando-se da janela de seu apartamento, alegando ter ‘perdido a guerra’, uma provável alusão ao fracasso em se converter à heterossexualidade”, dizem.
Renúncia à sexualidade
Em setembro, a influencer, que era lésbica, havia iniciado um processo de renúncia à própria sexualidade, após retornar de um retiro religioso.
“Sim, eu renunciei à prática homossexual, eu renunciei vícios e renunciei os desejos da minha carne para viver em Cristo! Que Deus abençoe vocês!”, ela havia anunciado nas redes sociais.
Karol, prima de terceiro grau da cantora Cassia Eller, tinha 36 anos e, antes de se tornar influenciadora digital, chegou a ser promotora de eventos e relatava como era viver nos Estados Unidos (EUA). Ela acumulava mais de 200 mil seguidores no Instagram e 700 mil no Facebook.
Há quatro anos, ela foi vítima de um ataque homofóbico na praia da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. A delegada que cuidava do caso, Adriana Belém, descartou que se tratava disso. “Nós não podemos admitir que você utilize a delegacia, a máquina administrativa do estado, e chegue aqui e minta”, disse Belém à época, afirmando que Eller poderia ser indiciada por denunciação caluniosa.
Busque ajuda
Temos a política de publicar informações sobre casos de suicídio ou tentativas que ocorrem em locais públicos ou causam mobilização social. Isso porque é um tema debatido com muito cuidado pelas pessoas em geral. O silêncio, porém, camufla outro problema: a falta de conhecimento sobre o que, de fato, leva essas pessoas a se matarem.