Alagoanos contam com centro exclusivo para o tratamento de queimados no HGE
Criar um filho não é fácil, e quando existem dois ou mais, tudo exige ainda mais atenção. A dona de casa Maria Liedja Ferreira, de 24 anos, sabe bem disso. Ela mora no município de Messias, e levou um grande susto quando o seu filho caçula, de apenas um aninho, resolveu mexer na mesa, derramando sobre ele um copo de café quente, o que desencadeou uma queimadura extensa, provocada pelo líquido superaquecido.
O acidente aconteceu no início da manhã, quando a mãe estava com os dois filhos em casa, sem a presença do marido e da sogra. Ela conta que tudo aconteceu em poucos segundos. Parecia uma manhã qualquer, o filho maior, de seis anos, estava na sala e o menor decidiu explorar o espaço da sala de jantar, enquanto Maria cuidava de outros afazeres.
“Eu já escutei os gritos. Quando olhei, vi o café escorrendo pelo corpo dele. Fiquei angustiada, não sabia o que fazer. O peguei no colo e tentei acalmá-lo, mas não conseguia. Então pedi uma ambulância. Não sabia nem o que pensar nesse momento. Deixei o meu outro filho com minha sogra e fui para o hospital da cidade, de lá nos encaminharam para o HGE”, lembrou Maria Liedja.
Este ano, o Hospital Geral do Estado (HGE), em Maceió, atendeu 249 pessoas com lesões causadas por queimaduras e 161 delas precisaram de internamento no Centro de Tratamento de Queimados (CTQ), única unidade em Alagoas exclusiva para o tratamento de queimados. No ano passado, nesse mesmo período, foram 250, e 152 foram levadas ao CTQ. Já no ambulatório, nos mesmos nove meses, 146 cidadãos foram assistidos no ano passado e 148 este ano.
“Esses acidentes em casa são frequentes e as queimaduras mais comuns são as escaldantes, causadas por água ou vapor quente, e as térmicas, causadas por contato direto com fogo ou objetos quentes. A pele de uma criança com menos de quatro anos é mais fina e, por isso, o risco é maior. Uma criança exposta à água quente a 60 por três segundos terá uma queimadura de terceiro grau, lesão que requer hospitalização e enxertos de pele. E ela não tem capacidade de reconhecer riscos e tampouco habilidade para escapar da situação que ameaça a sua vida”, explicou o cirurgião plástico Fernando Gomes.
Maria Liedja e seu filho já voltaram para casa. Na alta médica, a equipe multidisciplinar explicou os encaminhamentos necessários para a boa recuperação das lesões de primeiro e segundo grau que sofreu no abdômen, no tórax e no braço direito. O médico explica que, no momento do socorro, a atitude imediata é o resfriamento em água corrente em temperatura ambiente por no mínimo dez minutos. Em seguida, a busca pelo atendimento médico é necessária.
“Não busque alternativas caseiras, tampouco a automedicação. É um ato que pode gerar o agravamento da lesão e levar a pessoa a um quadro clínico mais grave. Isso também vale para aqueles pequenos acidentes, como quando tocamos em uma superfície muito quente e percebemos a irritação no dedo. Jamais use manteiga, pó de café, pasta de dente. Nada disso resolve. Tem que resfriar a pele e tratá-la seguindo as orientações do médico”, recomendou o especialista.
A pele, o maior órgão do corpo humano, é a nossa primeira e melhor defesa contra influências externas. Quando está saudável, as camadas da pele trabalham para nos proteger, mas quando a sua condição está comprometida, como no caso de lesões, a sua capacidade de funcionar como barreira é prejudicada, tornando-se uma porta aberta para bactérias, vírus, fungos; permitindo também a ação de produtos químicos e físicos noviços, até de fatores ambientais, como os raios ultravioletas.
O HGE, 100% do Sistema Único de Saúde (SUS), é referência no atendimento a feridos por queimaduras de Média e Alta Complexidade. O CTQ possui 16 leitos, sendo cinco infantis, quatro destinados a mulheres, seis a homens e um para precaução de contato. Ainda contém uma sala de balneoterapia, uma de curativo, uma para procedimentos cirúrgicos, um posto de enfermagem, uma farmácia satélite e um ambulatório.
“Quando o nosso paciente é encaminhado para recuperação em casa, ele pode retornar para ser reavaliado, conforme agendamento e orientação médica, em nosso ambulatório. A equipe do CTQ continua dando a atenção necessária aos seus pacientes mesmo após a alta médica. É um esforço multiprofissional que muitas vezes resulta em lembranças, em laços de afetividade entre os servidores e os seus pacientes”, comentou o diretor geral Fernando Melro.