O pessimismo de petistas com a possibilidade da recondução de Lira à Presidência da Casa deve-se à proximidade de um dos pilares do Centrão de Jair Bolsonaro (PL) e as dificuldades que a bancada do PT enfrentou sob o comando do atual presidente da Câmara.
Além disso, existe um temor de que se repita o ocorrido com a então presidente Dilma Rousseff (PT), destituída do cargo acusada de ter cometido “pedaladas fiscais”. Caberá a Lira, se reeleito, se debruçar sobre a análise de pedidos de impeachment contra Lula.
Aliado de Bolsonaro
Nos primeiros dois anos dele na presidência, não houve disposição do deputado em dar tramitação aos pedidos movidos contra Bolsonaro. Em contrapartida, internamente, há uma avaliação de que o parlamentar não teria a mesma “boa vontade” em blindar o presidente petista como teve com o atual mandatário da República.
Mesmo ciente dos riscos, a alta cúpula petista tem acenado positivamente para o atual presidente da Câmara nos últimos dias. Os gestos se intensificaram após o discurso de Lira, nas horas seguintes à confirmação do resultado das eleições de domingo (30/10).
Conforme noticiado pela coluna Guilherme Amado, nos últimos dias, aliados do deputado fizeram chegar ao PT que o alagoano nunca viu Lula como inimigo, mas apenas como adversário na corrida eleitoral deste ano. E que, na presidência da Câmara, não criará obstáculos para pautar matérias consideradas importantes pelo governo.
PT fora
Recentemente, em claro aceno, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, afirmou que a bancada não terá candidato ao posto hoje ocupado pelo deputado. A avaliação é que o passado mostra que o desgaste da disputa não fez bem ao partido, como quando Eduardo Cunha, então no MDB, derrotou o PT no governo de Dilma Rousseff.
Tanto para parlamentares petistas quanto para aliados do presidente da Câmara, a declaração de Gleisi dá sinais de que o partido não deseja bater de frente com o deputado. Mais ainda, a fala foi recebida como gesto de reconhecimento ao cenário favorável a Lira na Casa e desfavorável para o PT.
Isso porque existe a possibilidade de, a partir do próximo ano, o PP e União Brasil consigam, em caso de fusão, concentrar a bancada mais numerosa da Casa. Lira ainda teria um número considerável de votos do PL de Bolsonaro – partido com mais deputados eleitos para o próximo mandato.
Sendo assim, uma eventual indisposição com Lira poderia sentenciar o andamento de propostas de interesse do novo governo na Câmara, configurando um risco, segundo avaliam os deputados ouvidos pela reportagem, maior a Lula do que caso o cacique do Centrão consiga se reeleger para o comando da Câmara.