‘Discordo de como o processo tem sido conduzido’, diz Paulo Dantas após STJ manter seu afastamento do cargo de governador de AL
Após a Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidir manter o afastamento de Paulo Dantas (MDB) do cargo de governador de Alagoas, em sessão realizada nesta quinta-feira (13), o candidato à reeleição no estado divulgou uma nota em que diz respeitar a decisão judicial, “embora discorde de como o processo tem sido conduzido”.
“Só peço que o meu direito de defesa seja preservado, porque somente após isso, tudo será esclarecido. Estou confiante nos recursos que meus advogados irão impetrar. Com isso, serei reeleito governador de Estado para trabalhar pelo povo alagoano e dar continuidade a um projeto político que mudou a cara do Estado”, afirmou Paulo Dantas.
Horas antes, durante um ato de campanha em Maceió ao lado de Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT à presidência da República, enquanto o julgamento ainda estava acontecendo, o governador afastado voltou chamar de “armação” a operação que investiga o desvio de R$ 54 milhões da Assembleia Legislativa e que cumpriu mandados em seus endereços no início da semana.
“Mentiram no primeiro turno, promoveram fake news, tentaram enganar a nossa população, mas não conseguiram. Tentam agora, no segundo turno, de maneira autoritária, mesquinha, perversa. Montaram uma grande armação contra a minha pessoa”, disse Paulo Dantas.
Apoiado pelo senador Renan Calheiros (MDB), Dantas disputa a reeleição com Rodrigo Cunha (União Brasil), candidato do deputado federal Arthur Lira (PP). Ainda em seu discurso, antes do final do julgamento no STJ, Dantas citou nominalmente os opositores, a quem acusa de perseguição.
“Não devo nada à Justiça. Rodrigo Cunha, Arthur Lira, vocês não são soberanos. Quem vai escolher o governador de Alagoas é o povo de Alagoas”, afirmou sobre o trio elétrico no centro de Maceió.
Por meio de nota, Rodrigo Cunha disse que “a decisão de hoje do STJ foi clara e infelizmente fez mais uma vez nosso estado ser manchete nacional por um caso de corrupção. Paulo Dantas quer se fazer de vítima, mas na verdade a vítima é o povo de Alagoas” (leia na íntegra ao final do texto).
Já o deputado federal Arthur Lira, também em nota, afirma que Dantas tenta “desviar o foco da roubalheira que patrocinou”. Disse ainda que, “se fosse o responsável por denunciar e apresentar tantas provas verdadeiras, estaria cumprindo meu papel com o povo de Alagoas” (leia na íntegra ao final do texto).
Em Maceió, Lula sai em defesa de Paulo Dantas
Lula esteve em Maceió nesta terça-feira para um ato de campanha, uma caminhada com apoiadores no centro de Maceió. Além de Paulo Dantas, acompanharam o presidenciável Renan Calheiros, Renan Filho, o candidato a vice-governador de Dantas, Ronaldo Lessa (PDT) e outros políticos.
Durante seu discurso na Praça Deodoro, em frente ao Tribunal de Justiça de Alagoas (TJ-AL), Lula saiu em defesa de Paulo Dantas e comparou sua situação ao que ele passou em 2018, quando foi preso no ano em que concorreria à presidência e acabou cedendo a candidatura a Fernando Haddad (assista no vídeo mais abaixo).
“Eu sei o que você está passando, não sou advogado, não vou me meter, mas posso dizer, na minha opinião, todo mundo é inocente até que provem o contrário. Essa condenação precipitada sua [Paulo Dantas] me cheira à minha condenação. Ou seja, porque que eu fui condenado? Exatamente para evitar que eu fosse candidato em 2018″, disse Lula.
Sem citar nomes, o candidato do PT ainda atribuiu a suposta armação à oposição. “Quem é que tem interesse de evitar que você seja candidato? Alguém. Eu não vou dizer o nome, mas a verdade é que deve ter um esquema nesse estado que pertence à oposição, que não gosta desse governo progressista, que quer evitar que você continue as obras tão importantes nesse estado”.
O julgamento na Corte Especial do STJ
Por 10 votos a 2, os ministros do STJ confirmaram a decisão individual da ministra Laurita Vaz, relatora do inquérito que investiga um suposto esquema de funcionários fantasmas na ALE e que teria sido chefiado pelo governador desde que ainda era deputado estadual.
Apesar de mantido o afastamento, Laurita Vaz alterou seu voto e reduziu o prazo para durar até o fim do atual mandato, ou seja, 31 de dezembro. Antes, o afastamento era por 180 dias.
A ministra relatora afirmou ainda que a medida de afastar o governador é absolutamente necessária “para obstar a atuação da organização criminosa e interferências indevidas”. As investigações, disse a ministra, mostram que o esquema envolveu a nomeação de 93 servidores fantasmas para cargos comissionados.
Paulo Dantas assumiu o governo do estado em maio deste ano. Ele foi eleito indiretamente pela Assembleia Legislativa, depois que Renan Filho, também do MDB, se afastou para concorrer ao Senado. De acordo com as investigações, os desvios na ALE continuaram sob comando de Dantas mesmo depois que ele assumiu o comando do Executivo (veja mais detalhes no vídeo ao final do texto).
Com o afastamento de Dantas, quem assumiu o comando do Executivo estadual foi o vice-governador, José Wanderley Neto, o Dr. Wanderley (MDB).
Leia abaixo a nota de Rodrigo Cunha (União Brasil) na íntegra
“Paulo Dantas é quem deve explicações à sociedade alagoana, à Polícia Federal, ao Ministério Público Federal e à Justiça local e nacional. Paulo Dantas precisa ser punido pelo desvio de R$ 54 milhões que ele tramou, arquitetou e liderou. A decisão de hoje do STJ foi clara e infelizmente fez mais uma vez nosso estado ser manchete nacional por um caso de corrupção. Paulo Dantas quer se fazer de vítima, mas na verdade a vítima é o povo de Alagoas, estado tristemente campeão em fome, analfabetismo e miséria, dura realidade que queremos e vamos transformar para melhor. Esta tese de se fazer de vítima não cola e o personagem barato de ficção criado pelo marketing de Paulo Dantas está sendo destruído em meio a um mar de lama, corrupção e desvio de dinheiro público. A verdade já está a mostra para todos”.
Leia abaixo a nota de Arthur Lira (PP) na íntegra
“Paulo Dantas armou e levou para dentro do governo do Estado um esquema escandaloso de corrupção. Quem assistiu à sessão do STJ ficou estarrecido com as provas apresentadas que envolvem desvio de dinheiro público, uso do aparato policial do estado para abafar a investigação, e até ameaças de morte. Foi o STJ que, por ampla maioria, decidiu manter o afastamento de Paulo Dantas. Se eu fosse o responsável por denunciar e apresentar tantas provas verdadeiras estariam cumprindo meu papel com o povo de Alagoas. Paulo Dantas, não tente desviar o foco da roubalheira que patrocinou. Aliás, desviar parece o verbo preferido de Paulo Dantas e o grupo calheirista. O povo de Alagoas agora sabe quem armou, de verdade, o maior roubo aos cofres públicos da nossa sofrida Alagoas”.