Psicóloga da APAE fala sobre Deficiência Intelectual: Semana Nacional da Pessoa com Deficiencia Intelectual e Múltipla

Quando as pessoas pensam em alguém com deficiência intelectual (DI) logo imaginam que o sujeito não consegue aprender, e que ele é totalmente dependente de outras pessoas, na realidade o que vemos é que com o uso de práticas de ensino especiais é possível a mudança e a aprendizagem. Inicialmente vamos definir o conceito de deficiência intelectual usado por  American AssociationonIntellectualandDevelopmentalDisabilities– (AAIDD) – (2010) apud Bennetti (2016), a deficiência intelectual é definida como um funcionamento intelectual (QI) inferior à média, limitando as competências práticas, sociais e emocionais do indivíduo, ao menos em duas áreas das seguintes habilidades: interpessoais, comunicação, interação social, resolução de problemas sociais, capacidade de seguir regras, obedecer às leis, funções acadêmicas, lazer, trabalho, entre outras. Vale destacar que as dificuldades mudam de pessoa para pessoa, noque se refere ao grau de comprometimento e à forma que se apresenta.

Ademais, esse grau de comprometimento podemos ver na dificuldadeem reconhecer as letras, aprender a ler e escrever, não conseguir fazer operações matemáticas ou atividades do cotidiano que seriam simples para outras pessoas. Entretanto, com o ensino especial focado em uma metodologia comprovada cientificamente como a análise do comportamento aplicada e que leva em consideração o ambiente e a forma como somos ensinados por meio da aprendizagem pelas consequências e do condicionamento clássico com estímulos e respostas são capazes de desenvolver habilidades para além da área pedagógica.

Ainda, contribuindo para o desenvolvimento de habilidades sociais, motoras, estimulando o raciocínio lógico, memória, atenção e concentração entre outras, o ponto principal é que isso promove uma melhor interação com respostas mais adequadas ao ambiente em que essa pessoa com DI está. Dessa forma,promovendo mais autonomia e consequentemente uma melhora na qualidade de vida.

A cima foi falado da capacidade de dar respostas adequadas ao ambiente, mas para que isso aconteça é extremamente importante que este meio no qual está inserida seja um facilitador e um ambiente de aprendizagem. Inclusive podemos citar o exemplo de crianças autistas que tem dificuldade de interação social e na forma de expressar emoções e por isso acabam muitas vezes ficando de lado nas brincadeiras ou mesmo não conseguem manter uma relação saudável com outras crianças da mesma idade, o que podemos destacar é aquelas que possuem pais ou cuidadores com boas habilidades sociais acabam as estimulando desde cedo a desenvolver também estas habilidades auxiliando na interação com outras crianças aprendendo a dar respostas mais adequadas as demandadas.

Na análise do comportamento sabemos o quão relevante esse ambiente é para a aprendizagem de um novo comportamento. Assim, a relação com a família, escola e outros espaços que a pessoa com DI frequenta pode contribuir para o desenvolvimento de novas habilidades que pareciam bem longe do que inicialmente esse sujeito poderia realizar.

No entanto, um problema bem comum é a falta de preparo desses ambientes, os pais por exemplo não estão preparados para receber ou mesmo não sabem lidar com uma criança assim, inicialmente é aquela surpresa e as vezes até bate o desespero. Desta forma a criança chega em um mundo que não está pronto para recebe-la no qual ela tem bastante dificuldade de se adaptar quando falamos de centro de reabilitação que é um espaço propício para o desenvolvimento de habilidades, segundo Medeiros (2019)  apenas 30% das pessoas com Deficiência intelectual no pais têm acesso aos serviços oferecidos por essas instituições de reabilitação como a Apae, e esse número cai de forma significativa quando essas pessoas residem na zona rural, onde apenas 16% delas conseguem ser atendidas pelos Centros de reabilitação. Esse contexto vai de encontro ao que preconiza a Lei Brasileira de Inclusão – LBI (2015) que garante a oferta e o acesso a todos os serviços que o cidadão com deficiência tenha direito.

Diante do que foi trazido aqui percebemos que embora a deficiência seja algo que pode limitar algumas ações, não significa que por meio de um ensino especial as habilidades não possam ser aprendidas, evidentemente dentro daquilo que é possível levando em consideração as capacidades de cada sujeito, e que aquelas crianças com DI que tiverem um ambiente que esteja capacitado para atendê-las desde bem cedo terão mais chances de conseguir melhores resultados. Finalizamos com alguns questionamentos para você. Será mesmo que dar para definir alguém só pelo que ela não consegue realizar? Quando você ver alguém o que enxerga primeiro as limitações ou as potencialidades?

Lusiele Eli Vieira da Silva

Psicóloga CRP 15/6668

 

Referências:

BENETTI, Daniela Simões. Efeitos de um treino de habilidades para a vida junto a adolescentes com deficiência intelectual e em situação de acolhimento. Tese (Doutorado Em Educação Especial)- Universidade Federal de São Carlos. São Carlos, SP, p. 198. 2016. Disponível em: https://repositorio.ufscar.br/handle/ufscar/7552. Acesso em: 21 de agode 2022.

BRASIL. Orientações para Implementação da Política de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, 2015. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=17237- secadi-documento-subsidiario-2015&Itemid=30192. Acesso em 21 de agode2022.

MEDEIROS, Sonia Azevedo de. Sala de recursos multifuncionais, tecnologia assistiva e deficiência intelectual: elementos para um novo fazer pedagógico. Tese (Mestrado Inovação em Tecnologias Educacionais) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, RN, p. 163. 2019. Disponível em: https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/27189. Acesso em: 21 de ago 2022.

 

 

 

 

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