Alagoas tem maior enchente da história recente do estado: ‘Pior que a de 2010’

No primeiro fim de semana de julho de 2022, Alagoas teve a maior enchente desde que o sistema de alerta do estado foi criado, após a cheia que arrasou 19 municípios em 2010. Por meio da Sala de Alerta da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh), o Estado passou a monitorar em tempo real as principais bacias hidrográficas com histórico de inundações.

Os técnicos da Sala de Alerta monitoram dados como volume de chuvas, níveis dos rios em tempo real e informam à Defesa Civil sobre a possibilidade de eventos extremos como cheias e secas.

O coordenador da Sala de Alerta, o meteorologista Vinicius Pinho, explica que, por meio desse monitoramento foi possível ter a real dimensão da tragédia. Em Murici, uma grávida de 9 meses teve a casa destruída em minutos.

Aproximadamente 68 mil pessoas foram obrigadas a deixar suas casas. Chegou a 57 o número de cidades em estado de emergência por conta dos temporais.

“A chuva de agora foi maior que a de 2010. Todas as bacias hidrográficas de Alagoas foram afetadas e entraram em alerta. É seguro dizer que choveu nos primeiros dias de julho 75% da chuva que era esperada para todo o mês em Alagoas”, afirmou o meteorologista.

De 17 a 19 de junho de 2010, as águas das chuvas de Pernambuco chegaram ao estado de Alagoas deixando 15 municípios em estado de calamidade pública (ECP) e 4 em situação de emergência, causando cheias nos rios Mundaú e Paraíba.

Aproximadamente 270 mil pessoas foram afetadas, das quais 44 mil ficaram desalojadas e mais de 28 mil desabrigadas. O número de mortes chegou a 36 e feridos a 1.131 pessoas, segundo dados do Governo de Alagoas.

“As chuvas de 2010 foram bem fortes, mas foram concentradas na Zona de Mata, nas bacias do Rio Paraíba do Meio, Mundaú e Jacuípe. Além disso, choveu muito nos locais onde esses rios nascem, em Pernambuco, fazendo com que a água chegasse a Alagoas com maior volume e velocidade, em um efeito de onda”, explicou Vinicius Pinho.

Fim de semana em alerta
Casa invadida pela água do rio Mundaú, em Rio Largo, Alagoas — Foto: Rodinei Paulino/ Arquivo pessoal

Casa invadida pela água do rio Mundaú, em Rio Largo, Alagoas — Foto: Rodinei Paulino/ Arquivo pessoal

Às 22h45 da sexta-feira (1), o sistema de alerta dos níveis dos rios mostrou que o rio Mundaú já havia ultrapassado a cota de atenção em Rio Largo, que é de 725 cm. O fim de semana mal tinha começado quando o nível chegou a 810 cm, o que já ascendeu o alerta nos órgãos públicos envolvidos no monitoramento e nos moradores da cidade que já havia sido devastada por uma cheia há 12 anos.

A chuva não deu trégua e, em menos de 24 horas, a água do rio invadiu a cidade. A cota de transbordamento do Mundaú na cidade é de 860 cm, mas às 21h30 do sábado (2), o nível do rio chegou a impressionantes 1043 cm. Convertidos em metros, o nível alcançou 10,43 metros.

O operador de áudio Roudinei Paulino tem 49 anos e mora em Rio Largo desde a infância. Em 2010, a casa dele foi invadida pela enchente. Doze anos depois, ele voltou a ser afetado por uma enchente, mas relatou que a mais recente foi pior do que a de 2010.

“Essa [cheia] de agora foi pior, porque devido àquela outra [em 2010], o rio enlargueceu muito, ficou muito largo. Mesmo assim, a água agora chegou quase no mesmo nível da outra [enchente]. Essa foi pior, com certeza, foi pior. Foi muito mais água, mais volume. Não chegou a atingir outras casas na mesma altura só porque o rio ficou mais largo”, relatou.

Morador limpa a lama da inundação em Rio Largo, Alagoas — Foto: Rodinei Paulino/Arquivo Pessoal

Morador limpa a lama da inundação em Rio Largo, Alagoas — Foto: Rodinei Paulino/Arquivo Pessoal

Todas as bacias hidrográficas afetadas

Em outro ponto do estado, a bacia hidrográfica Jacuípe – Una também revivia a tragédia de 2010. O professor aposentado Célio Roberto já testemunhou mais de duas enchentes em Jacuípe, sua cidade natal, mas disse ter sido essa a maior cheia da história recente da região.

“A enchente que nós tivemos há poucos dias atrás foi uma das maiores que nós já presenciamos, em nível de perdas, de volume de água”, disse o professor.

As cheias são tão comuns na cidade que o morador mandou construir um sofá de cimento em casa para reduzir os prejuízos recorrentes.

“Na minha residência eu já tinha mandado os pedreiros fazem um sofá de cimento, armário de cimento já para amenizar os gastos. A cada ano o volume de água vinha aumentando, mas dessa vez ninguém esperava. Na minha residência .chegou mais ou menos a 2,20 metros. Tem casa que chegou até no forro”, relatou.

Mais cidades atingidas do que em 2010

“Desta vez a chuva também atingiu as nascentes desses rios, mas choveu menos nesses locais e muito em Alagoas, o que fez com que os níveis desses rios subissem de formas diferentes nas cidades do estado. Por isso há a sensação para algumas pessoas de que a chuva foi maior ou menor em relação a de 2010”, disse o coordenador da Sala de Alerta.

O meteorologista afirma que o primeiro fim de semana de julho de 2022 teve a maior enchente da história recente de Alagoas.

“Não é possível dizer se essa chuva foi a maior da história em Alagoas. A própria Sala de Alerta da Semarh foi criada após a chuva de 2010. Há alguns relatos históricos sobre algumas cheias em Alagoas, mas eu não tenho como sacramentar que essa foi maior da história de Alagoas. É sem dúvida a maior da história recente do estado”, defende.

39 anos e três enchentes na mesma cidade

Enchente em Rio Largo, Alagoas, em julho de 2022
Enchente em Rio Largo, Alagoas, em julho de 2022

O designer e pintor automotivo Edson de Castro, 39 anos, enfrentou três enchentes na cidade de Rio Largo. No imóvel da família, Edson, o irmão e o cunhado têm uma oficina de pintura, uma oficina para conserto de eletrodomésticos e um lava-jato.

“Eu tive alguns prejuízos, perdi alguns equipamentos e equipamentos de clientes, que estavam pendurados acabaram caindo na água. Meu cunhado também perdeu alguns equipamentos e material de trabalho, mas meu irmão, que trabalha com eletrodomésticos, teve um prejuízo maior, em torno de R$ 7 mil”, contou.

“As coisas acontecem muito rápido. A gente vê o rio subindo e já vai tomando as providências, suspendendo os móveis e torcendo para a água não chegar”, relatou.

Lama retirada de casa de morador de Rio Largo, Alagoas, após a enchente no primeiro fim de semana de julho de 2022 — Foto: Roudinei Paulino/Arquivo pessoal

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