Foi traído? Saiba como superar essa decepção amorosa e virar a página
O desabafo da jornalista Poliana Rocha, esposa do cantor Leonardo, sobre as traições que sofreu e o recado deixado por uma mulher no carro do marido após ser traída trazem à tona a reflexão: vale a pena persistir em uma relação após decepções amorosas como essas?
O processo de superar uma traição não é nada fácil. Que o diga o casal Arthur Aguiar e Maíra Cardi. A modelo, empresária e influenciadora disse que foi traída 16 vezes pelo marido. Mas entre idas e vindas, os dois continuam juntos.
A terapeuta de casais Mariana Del Monte justifica a dificuldade de virar a página pela surpresa inicial. “É um choque muito grande, uma quebra de expectativa. Ninguém está preparado para isso quando existe esse contrato de fidelidade em uma relação a dois”.
Quando alguém sofre uma traição, a autoestima é a primeira a ser abalada. Mariana Del Monte considera comum que a pessoa traída carregue a culpa para si e se sinta inferiorizada.
“Esse pensamento é automático e afeta diretamente o conceito que a pessoa tem dela mesma. Muitas vezes, ela resume a própria identidade àquela traição e se sente com menos valor aos olhos da pessoa que a traiu”, analisa a especialista.
Impactos emocionais
Segundo Alexander Bez, psicólogo especialista em Relacionamentos pela Universidade de Miami (UM), os impactos de uma traição podem ser devastadores para o trato psicoemocional, uma vez que a mágoa é um fator desencadeador de transtornos alimentares, ansiedade, depressão e até estresse pós-traumático.
“Muitas pessoas que foram vítimas de traição adquirem um ‘medo conjugal’, no qual a mínima possibilidade de se relacionar novamente pode suscitar sintomas parecidos com os de pânico”, explica Alexander.
Ele acrescenta que cada pessoa vai apresentar um sintoma diferente. Porém, ressalta, é possível a manifestação de transtornos combinados. “Ainda vale ressaltar que, quanto maior for o grau de comprometimento com a pessoa amada [que traiu] e quanto mais sensível a pessoa for, o sofrimento é, na maioria das vezes, brutal, podendo provocar todos esses sintomas citados”.
Processo de superação
Para a psicóloga clínica Mariana Del Monte, a decisão de continuar na relação envolve um processo de fortalecimento emocional dos dois lados. “A retomada vai depender da disponibilidade emocional de cada um para poder continuar investindo na relação”.
Ela acredita que a melhor forma de blindar a união, independentemente de qual for, é por meio da prevenção. “Muitos casais começam a trabalhar a relação depois que uma traição acontece, quando o certo seria que eles trabalhassem nos pilares que caracterizam um relacionamento saudável e sustentável antes disso”, avalia Mariana.
Quando os casais decidem permanecer juntos após a traição, a terapeuta recomenda enxergar a infidelidade como uma oportunidade para melhorar e fortalecer o relacionamento.
O psicólogo Alexander Bez alerta que, antes de pensar em seguir com o parceiro, é importante confirmar o caráter da pessoa. “Pessoas desprovidas de caráter, perversos sexuais, pessoas que têm prazer na traição… Essas nunca irão mudar”, pontua.
De acordo com ele, cabe ao casal tomar a decisão de voltar a ficar junto após uma avaliação dos motivos da traição. Em caso positivo, o profissional adianta que será preciso lidar com a “cicatriz” diariamente, tendo em mente que a relação não será a mesma de antes.
“É importante ter consciência de que será outra relação e que a desconfiança pode permanecer por um tempo. Além disso, é preciso estar preparado para a possibilidade da volta não apresentar os resultados esperados”, aconselha.
O que motiva a traição?
Um estudo publicado no periódico Journal of Personality and Social Psychology em fevereiro de 2020 analisou 233 casais e mapeou os principais contextos em que as puladas de cerca acontecem.
Segundo os pesquisadores, os mais jovens são mais propensos a trair a confiança de um parceiro, assim como os indivíduos que afirmaram ter pouca satisfação geral com o relacionamento.
O estudo ainda mostrou que, ao contrário do esperado, pessoas com alto grau de satisfação sexual eram mais propensas a trair os parceiros.
Os pesquisadores ressaltam que quem está sexualmente satisfeito é, em geral, mais aberto a ter novas experiências sexuais.
O psicólogo Alexander aponta que os fatores que motivam a traição são variados. Falta de comprometimento íntimo-pessoal, carência de caráter, problemas de ego, machismo (no caso dos homens) e problemas psicológicos são alguns exemplos.
Para o especialista, a traição também pode ser movida pelo desejo de vingança, especialmente no caso das mulheres.
Alexander ainda destaca que, no caso masculino, a traição tende a estar relacionada com a necessidade de autoafirmação e de uma maior gratificação sexual.
Resolveu perdoar?
Veja dicas de especialistas para quem decidiu seguir em frente com o romance, mesmo após ter sido vítima de uma “pulada de cerca”.
Para a pessoa que traiu:
1- Considere o relacionamento a dois uma prioridade e invista nele;
2- Entenda que será necessário fazer reparos na relação e reconquistar a confiança do parceiro;
3- Olhe para a traição como uma oportunidade para melhorar o relacionamento e extrair aprendizados.
Para a pessoa que foi traída:
1- Entenda que vai precisar passar por um processo de luto da relação pré-infidelidade;
2- Entenda que quem você é não se resume à traição;
3- Depois de passado o período de dor, raiva e frustração, avalie e escolha se quer seguir ou não com a relação;
4- Faça terapia para compreender e lidar melhor com os sentimentos;
5- Tente, como seu parceiro, enxergar esse momento como uma forma de evoluir e trabalhar a inteligência emocional.