Positividade tóxica: 4 motivos para deixá-la bem longe da sua vida
Optar por ter um olhar otimista e enxergar o lado positivo de todas as situações são algumas práticas de positividade. Porém, essas atitudes devem ser feitas com muita cautela para que não se transformem em algo danoso, como a positividade tóxica, que cria uma realidade paralela de perfeições na nossa mente e impede a resiliência ao lidar com situações desfavoráveis. Até porque, não é possível ser otimista toda hora. Contudo, esse sentimento vem sendo cobrado em excesso, forçando uma falsa felicidade.
É na felicidade compulsória que mora o perigo!
Segundo Ana Suy Sesarino Kuss, psicanalista e pesquisadora, é humanamente impossível ser otimista o tempo inteiro, mas, o que acontece, é que focamos muito a nossa atenção naquilo é otimismo. “Temos pensamentos positivos, bons e animadores, e deixamos eles passarem para o nosso eu, enquanto os negativos e, digamos, as nossas fantasias de desastre, são ‘bloqueadas’. Ou seja, tentamos não saber delas”, explica.
No entanto, conforme a especialista, se não formos honestos com nossos afetos e sentimentos, independente de serem positivos ou negativos, podemos adoecer.
Outra pessoa que comenta sobre essa situação é Maicon Paiva, da casa de apoio espiritual Espaço Recomeçar. De acordo com o espiritualista, as emoções negativas e como elas precisam ser demonstradas.
“Impor uma falsa felicidade ou um lado positivo de situações que são inteiramente ruins é ignorar a tristeza ou a raiva, e todos os sentimentos precisam ser sentidos e processados para que assim possam ser transformados”, clarifica.
Dessa forma, para não cair no excesso de positividade, é necessário compreender as emoções e trabalhar com elas, e não tentar transformá-las em felicidade. Assim, o foco deve ser em partes boas da vida. Mas lembre-se: não existe ninguém inteiramente feliz ou inteiramente triste. Sendo assim, que tal algumas dicas para praticar a aceitação dos sentimentos e deixar de lado a positividade tóxica? Confira:
“Evitar o sofrimento é uma forma de sofrimento”
Com essa frase do livro “A Sutil Arte de Ligar o F*da-se“, de Mark Manson, Paiva ilustra os aspectos ruins que essa falsa positividade pode trazer para a saúde mental. “A repressão de sentimento não fica no nosso interior para sempre. A emoção é expressa de alguma forma, inclusive com doenças do corpo físico”, comenta.
Ingenuidade e vulnerabilidade
Segundo Kuss, se considerarmos um indivíduo ingênuo como alguém que não entra muito em contato com suas emoções e que tende, consequentemente, a buscar respostas fora, então, sim, ele pode “cair” com mais facilidade na positividade tóxica.
Já segundo o espiritualista, a positividade tóxica também é a responsável pela ingenuidade de muitas pessoas. Não enxergar maldade nas ações alheias pode desenvolver uma vulnerabilidade e ser perigoso para o indivíduo.
Enganar a si próprio e aos outros
O exagero em ser positivo geralmente é algo muito frequente nas redes sociais. Mostrar uma vida perfeita, além de enganar a si próprio e, consequentemente, adoecer com isso, cria uma imagem distorcida para as pessoas ao seu redor de como é a sua vida. Portanto, tal cenário também influenciará como as pessoas encaram seus objetivos.
Falta de empatia
Bem como a frustração nas redes sociais, impor gratidão e felicidade não é empático e pode ser estressante para quem recebe o conselho. Em situações de incertezas, tentar ajudar dizendo para “ver o lado positivo das coisas” chega a ser negligente dependendo da situação em que o outro se encontra. Logo, além de trazer consequências mentais, a positividade “obrigatória” também pode ser ofensiva para quem, por exemplo, precisa de uma ajuda psicológica.
Praticar a positividade de maneira saudável torna as pessoas mais resilientes, tornando-as capaz de lidarem com as próprias dificuldades. Por fim, vale lembrar que todas as emoções foram feitas para serem sentidas e aproveitadas para depois enfrentá-las quando forem ruins, e apreciar quando forem boas.
Fontes: Maicon Paiva, espiritualista da casa de apoio espiritual Espaço Recomeçar; Ana Suy Sesarino Kuss, psicanalista, pesquisadora e professora do curso de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).