Vice da CBF, Gustavo Feijó é declarado inelegível por oito anos pela Justiça Eleitoral de Alagoas
Um dos pré-candidatos à presidência da CBF, o alagoano Gustavo Feijó foi declarado inelegível por oito anos pela Justiça Eleitoral de Alagoas.
Ao punir o dirigente no mês passado, a juíza Paula de Goes Brito Pontes, da 48ª zona eleitoral alagoana, escreveu na sentença que Feijó “incorreu em abuso de poder político” ao aproveitar da “sua posição de prefeito para anunciar benefícios à população” no palanque de Bruno Feijó na campanha de 2020.
Então prefeito de Boca da Mata, Gustavo Feijó teria anunciado no evento o pagamento antecipado do salário ao funcionalismo público. O então candidato Bruno Feijó, que é sobrinho do dirigente, venceu o pleito por uma diferença de 44 votos e é o atual prefeito do município alagoano.
Na CBF, Feijó ocupa o cargo de diretor de seleções e trabalha junto com a comissão técnica de Tite na preparação da equipe para a disputa da Copa do Mundo.
Além de desrespeitar a legislação eleitoral no comício em 2020, Gustavo Feijó foi punido pela magistrada por realizar obra pública em empreendimento privado para favorecer seu sobrinho. No despacho, a magistrada considerou que está “devidamente comprovado o uso de bens públicos em obras particulares em claro desvio de função dos mesmos, por determinação do então prefeito Gustavo Feijó” durante o período eleitoral. A decisão da juíza foi decretada no dia 10 de janeiro.
Dirigente já recorreu da decisão
Feijó nega as duas irregularidades. O dirigente diz que era praxe de sua administração pagar o salário antecipadamente e que a obra em questão foi a “recuperação de uma estrada vicinal em um ponto turístico da cidade”. O dirigente já recorreu da decisão da Justiça Eleitoral, e o caso está no Ministério Público local.
– Não cometi crime e não estou preocupado. Tenho certeza de que a Justiça será feita em segundo grau – disse o dirigente, que comandou a Federação Alagoana de Futebol.
Apesar da condenação em primeira instância, o dirigente só ficará fora de uma eleição para cargo político após esgotar todos os recursos na Justiça Eleitoral. Além de tornar o cartola inelegível, a Justiça decretou multa de R$ 28 mil a Feijó. Já o seu sobrinho terá que pagar R$ 1 mil de multa.
O advogado de Gustavo Feijó, Thiago Bomfim, considera que a magistrada foi “extremamente excessiva na aplicação da pena”.
– São fatos de relevâncias pequena. A obra em questão foi feita numa estrada vicinal. Não foi feita em área particular. Além disso, o meu cliente não era candidato. Mesmo que fosse verdade, o que não é, a pena de inelegibilidade é muito dura. Já a questão do comício não tem qualquer proibição da legislação eleitoral. Ele pode relatar ações suas na administração. Isso não é vedado pela Justiça Eleitoral. Por isso, acreditamos que vamos reverter a decisão .
Xadrez da CBF
A decisão da Justiça Eleitoral alagoana pode influenciar na corrida eleitoral da CBF. Feijó é pré-candidato na eleição que vai escolher o substituto de Rogério Caboclo, afastado em junho de 2021 acusado por ex e atuais funcionários de abuso sexual e moral.
O alagoano deve disputar o pleito contra Ednaldo Rodrigues, escolhido em agosto pelos vices para comandar a CBF até o julgamento dos inquéritos contra Caboclo. O segundo caso deverá ser avaliado neste mês e dar início à corrida eleitoral na entidade. O presidente afastado da CBF já cumpre suspensão de 21 meses por ter assediado sexualmente uma funcionária.
Caso Caboclo seja considerado culpado pela segunda vez, uma nova eleição será realizada em 30 dias. O pleito só contará com os votos dos 27 presidentes de federações e servirá para o escolhido cumprir o restante do mandato de Caboclo, que acaba em abril de 2023.
Na eleição da CBF, Feijó conta com o apoio de Marco Polo del Nero, ex-presidente da entidade, afastado do cargo pela Fifa por corrupção. Embora punido, Del Nero é influente nos bastidores e tenta eleger um aliado para substituir Caboclo.
Ex-presidente da CBF, Del Nero apoia Feijó na eleição da entidade — Foto: Lucas Figueiredo/CBF
Por causa da repercussão da decisão da Justiça Eleitoral alagoana, Del Nero pode escolher um candidato mais viável para apoiá-lo. Caboclo acusa Del Nero de tirá-lo do poder. Em entrevista nesta terça, Gustavo Feijó confirmou a intenção de se candidatar e descartou o apoio do ex-presidente da CBF.
– Não quero apoio nenhum do Marco Polo del Nero ou do Ricardo Teixeira (outro presidente da CBF acusado de corrupção na administração da entidade). O Ednaldo é quem tem o apoio do Marco Polo.
Feijó transita bem no mundo político. Ele é aliado do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, e dos senadores Renan Calheiros e Fernando Collor, além de ter bom relacionamento com o presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça), Humberto Martins. Todos alagoanos.
Dentro da CBF, Feijó articulou a candidatura vitoriosa de Caboclo em 2018, mas depois rompeu com o presidente afastado. O dirigente alagoano também apoiou Marco Polo Del Nero e José Maria Marin. Os dois foram banidos pela Fifa por corrupção.
– Sigo sempre o conselho do meu pai que levo para a vida. Às vezes é melhor um mau acordo do que uma grande briga.