‘Tiraram a vida de uma trabalhadora. Quem fez tem que pagar’, diz filha de diarista morta por bala perdida na Cidade de Deus
A família da diarista Jurema Álvares Pinto, que morreu após ser baleada na Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio, esteve no Instituto Médico-Legal (IML) na manhã desta terça-feira (8) para fazer o reconhecimento do corpo. Maria José e Cristina, filhas da vítima, disseram que a mãe era trabalhadora.
“Tiraram a vida de uma pessoa que era trabalhadora. Minha mãe trabalha desde os 13 anos, criou a gente sozinha. Quem fez tem que pagar”, disse Cristina Álvares.
Maria José também pediu justiça.
“Tudo era com a minha mãe. Eu casei e fui morar em cima. Hoje acordei e minha mãe não estava mais ali. Mataram a minha mãe. Minha mãe não morreu de doença, mataram a minha mãe indo trabalhar, um absurdo isso. Nada vai trazer minha mãe de volta, mas eu quero justiça. Eu quero que peguem essa pessoa que matou minha mãe”, afirmou Maria José Álvares.
Jurema tinha cinco filhos e também cuidava de um neto. O enterro do corpo estava previsto para a tarde desta terça no Cemitério do Pechincha, na Zona Oeste do Rio.
“Eu estava em casa e meu irmão me ligou: ‘vem para cá correndo’. Ele estava chorando: ‘minha mãe tomou um tiro’. No meio do caminho, ele me liga. Eu pergunto: ‘Como está minha mãe?’. Ele me avisou que minha mãe faleceu”, lembrou Maria José.
O filho da diarista disse na segunda (7) que estava acostumado a passar por lugares perigosos, mas jamais imaginou ficar no meio do fogo cruzado com a mãe.
“Eu passo com passageiro em certos lugares perigosos e já passou pela minha cabeça você passar e, de repente, ser alvejado o carro, e acertar um passageiro, uma criança. E comigo aconteceu a pior coisa possível. O passageiro foi a minha mãe”, disse Marcelo Álvares, que trabalha como motorista de aplicativo.
Jurema, de 67 anos, estava a caminho do trabalho quando foi atingida. Foi com o dinheiro das diárias de faxina que ela criou os filhos. Ela trabalhava na mesma casa há 30 anos.
Toda segunda feira, Marcelo costumava levar a mãe para o trabalho na Barra da Tijuca, também na Zona Oeste.
Eram cerca de 7h30 de segunda (7) quando homens armados cruzaram o caminho dos dois.
“A gente estava vindo normal, como a gente passa ali sempre, de repente chega na praça e a gente escuta barulho de disparo. Nessa, o sinal fechou e vimos os carros parados na outra via e vimos homens armados passando e dando tiro. Paramos ali e fiquei parado no sinal. Tiro pra cá, tiro pra lá. Escuto estilhaço batendo no meu rosto e eu olho pra mim e caramba atingiram meu carro”, relembra.
Jurema foi baleada na Rua Edgar Werneck, na Cidade de Deus. O tiro atravessou o para-brisas do carro e a acertou no peito.
Marcelo ainda dirigiu até a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) que fica bem perto de onde eles estavam, mas a mãe não resistiu.
“Desespero. Eu vi que ela estava muito mal porque levou um tiro no peito”.
Marcelo conta que a mãe foi baleada a poucos metros de uma companhia destacada da PM e que os policiais só souberam do caso depois que ele informou a polícia.
“Isso aconteceu antes das 8 horas e eu fui ligar para polícia umas 9 horas. Não chega ninguém, não chega ninguém”.
A Divisão de Homicídios da Capital está investigando o caso. O carro já passou por perícia. Dentro do veículo ficou a vassoura que ela tinha comprado para levar para o trabalho.
A Polícia Militar informou que não havia operação na Cidade de Deus ou confronto envolvendo policiais militares. E que o disparo foi efetuado por criminosos que passavam pelo local.
A corporação disse ainda que tem uma companhia destacada na Avenida Edgard Werneck e que intensificou o policiamento no local.
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