Shantal diz que Kalil pediu para anestesista fazer manobra não recomendada
O Fantástico desse domingo (9) trouxe novas denúncias contra o médico obstetra Renato Kalil. A influenciadora digital Shantal Verdelho teve vídeos vazados na internet que mostram humilhações e xingamentos durante o parto conduzido por Kalil.
Shantal contou, em uma entrevista exclusiva à repórter Flávia Cintra, detalhes da violência obstétrica que sofreu e revelou por que decidiu falar só agora.
“Eu tinha alguns motivos para não falar. Além de não estar bem emocionalmente, eu não queria a imagem da minha filha exposta desse jeito, num contexto de que a chegada dela foi horrível”, diz a influenciadora digital.
O nascimento da filha dela, Domenica, aconteceu em setembro de 2021 em um dos principais hospitais de São Paulo.
Shantal optou por um parto humanizado: “Foram 48 horas que eu fiquei no hospital. Eu acho que foi um trabalho de parto de aproximadamente umas 12 horas. Ele chegou somente nas duas horas finais que foi quando mudou o clima assim, ele chegou muito apressado. Eu não entendi o porquê de tamanha pressa e aquela agonia toda. E ficava insistindo para o Mateus para que fosse feita a episiotomia num tom como se: ‘Olha aqui vai rasgar aqui’. É onde a gente teria relações no futuro. ‘Então, é melhor eu dar um pique aqui é melhor eu dar uma cortadinha aqui’. Ele fica falando isso para o Mateus como se eu não tivesse ali, e como se a decisão não fosse minha”.
O que Renato Kalil sugere em trecho inédito do vídeo do parto de Shantal é a episiotomia, um procedimento cirúrgico no períneo, região entre a vagina e o ânus, que facilitaria a passagem do bebê.
“Não tinha a menor necessidade de ele tentar me rasgar com as mãos e isso é feito várias vezes. Ele basicamente faz o parto inteiro fazendo esse movimento com a minha vagina, tentando abrir ela. Já que ele não teve o corte, ele tenta com as mãos”, relata Shantal.
Flávia Cintra: Houve um momento também em que ele pediu ajuda de alguém mais forte para pressionar a sua barriga?
Shantal: Sim. Na verdade, a minha barriga foi pressionada desde o momento em que ele chegou. Ele pede para uma médica da equipe dele fazer essa manobra de Kristeller que chama. E depois, ele pede para o anestesista fazer, porque o anestesista era mais forte.
“A manobra de Kristeller consiste numa pressão no fundo uterino. Ela foi descrita já há bastante tempo em 1867 por um obstetra alemão, mas ela não é mais recomendada. O próprio Ministério da Saúde, desde os anos 2000, não recomenda a utilização da manobra de Kristeller na assistência ao parto”, destaca Agnaldo Lopes, presidente da Febrasgo.
“Quando a gente viu o vídeo foi que caiu a ficha mesmo. A primeira atitude que a gente tomou foi de mandar ele para o Kalil e mostrar em todas as partes onde a gente se sentiu agredido. Ele me deu uma resposta debochada e me bloqueou no WhatsApp. Ou seja, ele me calou, inclusive. Só que vendo todos os relatos que foram aparecendo depois de histórias iguais e muitas histórias muito piores, eu vi que realmente o buraco era mais embaixo”, conta Shantal.
Shantal pediu a instauração de um inquérito policial para investigar as condutas do médico Renato Kalil, no dia 14 de dezembro, e já prestou depoimento na polícia. O Ministério Público aguarda a conclusão das investigações policiais e vai avaliar as provas para eventual oferecimento de denúncia contra Renato Kalil.
O Fantástico conversou com mais duas mulheres que dizem ser vítimas de Kalil e acusam o médico de violência sexual.
O médico Renato Kalil respondeu às acusações em nota escrita por seu advogado. Ele afirma que lamenta profundamente que um caso médico seja discutido por meio da mídia e das redes sociais, com base em pequenos trechos editados de um vídeo. E que em razão de normas éticas e sigilo profissional, não pode se manifestar publicamente, mas que isso será feito em “foro adequado”.
Kalil diz ainda que o medicamento citado por Shantal não foi prescrito nem ministrado por ele e que os procedimentos obstétricos seguiram com o rigor técnico-ético-científico. Ele afirma ainda que não praticou violência obstétrica e que a edição dos vídeos e das falas induzem ao erro de interpretação. Diz que se coloca à disposição do Conselho Regional de Medicina do estado de São Paulo para comprovar sua ética e retidão profissional, e está à disposição das autoridades para colaborar com todas as investigações para demonstrar sua inocência.