Defesa argumenta que mulher foi levada a matar italiano e vai pedir sentença mais branda

 

Nesta quarta (15), Cléia Fernanda Máximo vai a Júri Popular no Fórum Desembargador Jairon Maia Fernandes, no Barro Duro. Ela é acusada do assassinato e ocultação de cadáver de seu namorado, o advogado italiano Carlo Chicclelli, de 48 anos. O Ministério Público irá pedir a pena máxima, mas não acredita que conseguirá. Já a defesa deve requerer uma sentença mais branda, uma vez que a acusada “foi levada a matar a vítima”.

O promotor de Justiça Denis Guimarães explicou que, apesar das variadas teses da defesa, o Ministério Público insistirá na acusação de homicídio duplamente qualificado e a ocultação de cadáver, e que a motivação do crime foi a questão financeira.

“O Ministério Público, desde o começo do processo, sustenta o homicídio duplamente qualificado e o crime de ocultação de cadáver. Essa versão foi, inclusive, reconhecida pela pela própria ré, que confessou em um primeiro momento. Não existe dúvida nenhuma de que ela cometeu esse crime, motivado pela ganância financeira, pelo conflito financeiro que existia entre o casal, e, após o cometimento desse crime, com brutalidade, ainda ocultou o cadáver durante quarenta dias, dentro da própria residência”, afirmou Denis.

Já a advogada Júlia Nunes, que defende Cléia através da Associação AME, que defende mulheres vítimas de violência, afirma que o crime foi cometido por conta da violência que a autora sofria nas mãos de Carlo. Segundo ela, Cléia sofria abusos sexuais, físicos e psicológicos. Com isso, conflita com a fala da promotoria, que afirma que a defesa apresentou várias teses.

“Na verdade não foram várias versões. É uma versão só, que engloba vários fatores para chegar no crime. Existia, sim, envolvimento com drogas, por isso a utilização de tanto dinheiro de fora. O falecido era usuário de drogas. Existe a questão que ele se dizia como bruxo, o que violentava bastante o psicológico dessa mulher, que se sentia amedrontada, até de ele saber o que ela pensava”, disse.

Segundo Júlia, serão apresentadas provas dessas violências sofridas pela acusada. “É claro que a gente vai trazer a realidade através de provas e testemunhas de que ela foi vítima de violência durante anos. Foi obrigada a abortar, foi estuprada inúmeras vezes. Temos provas da condição física anterior e após o relacionamento, que vai ser esclarecido hoje”, disse.

A expectativa do Ministério Público é de que a acusada seja sentenciada com a pena máxima, mas não acredita que isso ocorrerá pelo histórico de Cléia.

“Se somar as penas máximas, ela pode pegar até 33 anos. Mas isso não quer dizer que ela vai ser condenada. Ela não tem antecedentes, não tem ficha criminal, não tem nada que diga que ela é uma pessoa ruim para a sociedade, além do cometimento deste crime. Fazendo uma estimativa, 18 a 20 anos é a expectativa do MP”, disse Denis.

A defesa, por sua vez, revela que trabalhará para que Cléia receba a pena mínima. “A gente trabalha para que, no mínimo, a pena seja justa. E a pena justa não é colocando a Cléia como uma mulher fria, calculista, que fez tudo pensando e fez com crueldade. Isso não existiu. Tratava-se de uma mulher que não teve outra saída, senão tirar a vida do seu agressor”, disse Júlia.

Felipe Munguba, juiz do caso, explicou como será o júri popular, formado por sete mulheres. Segundo ele, foram intimadas 12 testemunhas, mas nem todas estarão presentes. “Foram indicadas 12 testemunhas. Se todas fossem ouvidas seria relativamente longo, mas nem todas foram encontradas. Creio que a expectativa é acabarmos ainda hoje. Teremos um júri bastante razoável, mas creio que ainda hoje conseguiremos finalizá-lo”, afirmou o magistrado.

As testemunhas convocadas são:

  • Testemunhas do MP: José Cláudio Abreu de Oliveira, Eliza Rogato Farias e Antônio Emílio Cicchelli.
  • Testemunhas da Defesa: Maria de Fátima Silva, Ana Cândida Felix da Silva e Gisela Lima Conti.

Irmão da vítima, Antônio Emílio Cicchelli irá testemunhar por videoconferência.

Ainda segundo o juiz, existia a possibilidade de o júri dissolver os jurados e remarcarmos a data do julgamento, mas ele acredita que isso não ocorrerá.

“No procedimento do júri, tem uma coisa especial, que se chama Cláusula de Imprescindibilidade. Se o Ministério Público ou a defesa convocar a testemunha com essa cláusula, nem insistir na oitiva dela, o que é que o juiz tem que fazer? Ele tem que dissolver o júri, o conselho de sentença, e marcar para uma nova data a realização do mesmo. Creio que hoje não teremos isso, apesar de terem testemunhas arroladas com essa cláusula. Eu conversei com a acusação e com a defesa. Eles vão conseguir manter a sessão do júri hoje, independentemente da oitiva delas”, completou.

Gazeta web

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