Marília Mendonça: composições antes da fama revelam lado cômico e festeiro; conheça

Antes de ser a rainha da sofrência, Marília Mendonça escreveu muito para cantores e duplas famosas na época do “sertanejo pegação”. No início da década passada, quando as letras sobre farra estavam em alta, suas composições revelam uma Marília afiada em histórias cômicas e irreverentes.

Esta reportagem faz parte do especial “Mariliateca”. O g1 pesquisou, catalogou e analisou todo o cancioneiro da artista. Mergulhe nas listas de composições e interpretações, navegue através dos sentimentos das letras, relembre os hits e descubra raridades.

Marília-moleque

Entre 2011 e 2016, Marília ainda era desconhecida no Brasil, mas trabalhou duro como compositora no mercado sertanejo. Ela escreveu 152 músicas gravadas por outros artistas. No início, o mercado ainda buscava sucessos sobre bebedeira e balada. A jovem autora se jogou no trabalho.

Antes de pagarem de super-românticos, Gusttavo Lima e Lucas Lucco gravaram “Disputa”, de Marília, em que duelam sobre quem é mais esperto e pegador. Lucas ainda gravou “Gago”, com versos engraçados sobre um traidor que tropeça nas palavras ao enfrentar a mira da esposa.

“Minha mulher tava armada já sabendo da parada / Nã nã nã nã eu? Quem? Eu? / Não era eu / Gaguejei f*deu.”

“Jorge, o pedreiro”, gravada em 2013 por Luís Henrique & Montenegro, é uma das músicas das antigas, que muitos fãs nem sabem que foi ela quem escreveu, e mostram essa Marília-moleque.

O início parece até sofrência: “Os vizinhos estão comentando que Jorge o pedreiro / Cumpre expediente no meu quarto o dia inteiro / Lá na padaria até famoso eu sou / Meu apelido é fornecedor / De você não vou guardar rancor nenhum”. Mas vem a reviravolta: “A verdade vai ser revelada em 3,2,1…”

A reforma lá de casa foi de graça, foi na faixa / O pedreiro é gente boa e o padeiro deu desconto no pão / Dinheiro tá guardado, piseiro tá armado / As novinha a mil e o seu Jorge cuida do meu dragão.”

Dois pilares do sertanejo bom-moço, Zé Neto & Cristiano e Henrique & Juliano gravaram juntos em 2015 “Estamos quites”, de Marília: “Olha eu aqui, senta e assiste / Eu tomando todas, rindo da sua burrice / Olha eu aqui, pra mim ‘cê nem existe / Agora estamos quites / Você também levou chifre”.

Nem todas as músicas de Marília dessa linha foram bem de audiência. O cantor Douglas Rodrigo passou batido com “Somos Todos Zueiros”, mistura de sertanejo com música eletrônica.

Funknejo e forró

Ela chegou até ao funknejo (sertanejo-pegação com batidas de funk, formato popular do período) no hit “Bonde dos solteiros” de Fred & Gustavo. A dupla foi uma grande cliente da safra irreverente da autora, e gravou também “Segunda do perdido” e “Conselho de pai”.

Outros clientes sertanejos fiéis foram João Neto & Frederico, com as festeiras “Amor ao próximo”, “Desculpa aí” e “Presto pouco” (Eu não me acho / Elas que estão procurando / Whatsapp tá bombando, estourei no Instagram”).

Marília também era antenada no forró, e compôs versos irreverentes para Wesley Safadão (“Muito gelo e pouco whisky”), Aviões do Forró (“João Moderação”), Márcia Fellipe (“Aqui pro meu ex”) e Gabriel Diniz (“Hoje Eu To Humilde”).

“Sempre fui humilde / Hoje eu tô de parabéns / Acordei mais bonito / E modesto também / Eu vou descer 3 Combos de whisky / Uma garrafa de tequila / Distribuir pulseirinha / Porque hoje eu tô humilde”, cantava Gabriel Diniz.

Ponte para o ‘feminejo’

Marília compôs letras deste tipo para dezenas de homens, mas também teve a sacada de cantar direitos iguais na pegação. Em 2013, três anos antes de o feminejo ser batizado e virar fenômeno, ela compôs “Amores da minha vida” para as amigas Maiara e Maraisa.

“Fernandinho é um cara pra casar, Mateus é gente boa, Dudu é de apaixonar / Juliano gosta de beijar na boca, Juninho de fazer amor com roupa / Tiaguinho… gosta de dançar / Fred é da balada, gosta de pagar / De todos nem sei qual é melhor / Por que papai do céu não fez tudo em um só?”.

Desde o início, Marília nunca deixou de fazer também canções românticas – com muito sofrimento, claro. Quando o sertanejo parou de investir nas letras festeiras e ela mesma parou de compor para se dedicar à carreira de cantora, esse lado dela ficou menos evidente.

Mas, mesmo nas músicas mais sofridas, há pitadas de irreverência (de “Alô, Porteiro” a “Motel Afrodite”). E a liberdade que ela colocou na boca dos homens também foi concedida a Maiara e Maraisa (“É rolo”, “Sem tirar a roupa”) e na sua própria voz (“Num boteco por aí”, “Um brinde”, “Bebaça”).

Outra música dela gravada por uma dupla masculina, mas que mostra a futura pegada do feminejo, foi “O que ela tem”, por João Fernando & Gabriel. “Deixa ela dançar, deixa ela ser feliz / Se alguém falar que ela é vulgar não sabe o que diz”, escreveu Marília. A festa era para eles e elas.

G1

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