Afetado pelo aquecimento nos Andes, Chile planeja geleiras artificiais

Um grupo de especialistas em clima do Chile quer aproveitar as chuvas de inverno no Hemisfério Sul para congelar a água e transformá-la em geleiras artificiais, que serão usadas nos meses secos de dezembro a fevereiro. Inspirado por uma iniciativa criada na Índia, o projeto Nilus está em desenvolvimento nos picos do Cajon del Maipo, uma cordilheira a sudeste da capital Santiago.

A meta é armazenar 100 milhões de litros de água no próximo ano, quantidade capaz de abastecer uma comunidade de 100 mil pessoas por três meses. O protótipo do projeto está no Parque Arenas, na parte mais alta do Cajon. Lá, a água deve ser capturada e congelada graças às baixíssimas temperaturas noturnas.

O Chile enfrenta severa seca há anos. Pesquisadores e ativistas ambientais alertam que as geleiras da Cordilheira dos Andes estão recuando. A falta de chuvas e de neve está tornando escassa a cobertura de gelo nas montanhas dos Andes entre a Argentina e o Equador.

Imagens de satélite do inverno de 2020 e 2021 mostraram uma brusca diminuição da neve acumulada na região, justamente na estação em que deveria ser mais abundante.

Neste ano, o Chile enfrentou a pior seca da última década. Em agosto, uma estação meteorológica em Santiago registrou apenas 78mm, em comparação com 180mm no ano passado e uma quantidade média de 252mm, de acordo com o Serviço Meteorológico do Chile.

A seca no país, gerada pelo aquecimento global, tem consequências diversas, como os  níveis baixos dos reservatórios e o ressecamento dos campos agrícolas.

Nas regiões de Limán e Elqui, ao norte do país, o clima extremo causou o fechamento de algumas vinícolas. A qualidade do vinho depende do clima fresco — e em nada combina com o cultivo em ambiente seco e quente. O resultado foi o início de uma corrida de enólogos, antes nunca vista, para conquistar terras ao sul de Santiago, como a Patagônia chilena.

O Chile anunciou a estratégia de longo prazo (ECLP) para alcançar a neutralidade de carbono até 2050 que apresentará na cúpula do clima COP26, que está acontecendo em Glasgow. A ECLP consiste em 407 metas concretas para reduzir as emissões em todos os aspectos da sociedade.

A ministra do Meio Ambiente, Carolina Schmidt, afirmou que a mudança climática é a maior crise global enfrentada atualmente. O país se comprometeu a reduzir suas emissões de carbono a nível estatal com um máximo de 1,1 bilhão de toneladas de carbono entre 2020 e 2030 e estabeleceu cotas de responsabilidade para cada área.

O Transporte ficará com a maior cota (29%), seguido por Energia (26%) e Mineração (16%), principal atividade industrial do Chile, que é o maior produtor de cobre do mundo. A intenção é que em 2025 apenas 10 das atuais 28 usinas a carvão ainda estejam em operação no Chile.

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