Por que a internet tem ‘quebrado’ com tanta frequência
Duvido que Mark Zuckerberg leia os comentários que as pessoas deixam em suas postagens no Facebook.
Mas, se o fizesse, levaria aproximadamente 145 dias, sem dormir, para percorrer a enxurrada de comentários deixados para ele depois que ele se desculpou pelo colapso dos serviços na semana passada.
“Desculpe pela interrupção de hoje”, postou o fundador do Facebook e presidente-executivo, após Facebook, WhatsApp e Instagram ficarem offline por quase seis horas.
O Facebook culpou um trabalho de manutenção de rotina pela interrupção — seus engenheiros emitiram um comando que desconectou involuntariamente os centros de dados do Facebook de toda a internet.
Cerca de 827 mil pessoas responderam ao pedido de desculpas de Zuckerberg.
As reações foram variadas. Algumas, bem-humoradas: “Foi terrível, tive que falar com minha família”, comentou um usuário italiano; outras confusas: “Levei meu telefone para a oficina pensando que estava quebrado”, escreveu alguém da Namíbia.
E, é claro, também houve aqueles que ficaram muito chateados e zangados: “Você não pode encerrar tudo ao mesmo tempo. O impacto é sem precedentes”, postou um empresário nigeriano. Outro indiano pediu indenização pela interrupção de seus negócios.
O que está claro agora, se já não era óbvio, é como bilhões de pessoas se tornaram dependentes desses serviços — não apenas para se divertir, mas também para comunicação e negócios essenciais.
O que também está claro é que essa está longe de ser uma situação pontual: os especialistas sugerem que as interrupções generalizadas estão se tornando mais frequentes e perturbadoras.
O Facebook, por exemplo, agora é usado para entrar em uma variedade de serviços e dispositivos diferentes, como televisores inteligentes.
“E, então, acabamos tendo esses episódios”, diz Deryckx. “Algo está acontecendo [e] todos nós olhamos uns para os outros como ‘bem, o que vamos fazer?'”
Deryckx e sua equipe da Downdetector monitoram os serviços da web e sites em busca de interrupções. Ele diz que as interrupções generalizadas que afetam os principais serviços estão se tornando mais frequentes e mais graves.
Colapsos significativos
Inevitavelmente, em algum estágio, durante um grande colapso dos serviços, as pessoas temem que a interrupção seja o resultado de algum tipo de ataque cibernético.
Mas os especialistas sugerem, na maioria das vezes, que se trata de um caso mais mundano de erro humano, agravado, dizem eles, pela maneira como a Internet é mantida em conjunto com um conjunto complexo de sistemas desatualizados e complicados.
Durante a paralisação do Facebook, especialistas brincaram no Twitter que alguns dos motivos para problemas de paralisação são “mais velhos que as Spice Girls” e “projetados num guardanapo”.
O pesquisador Bill Buchanan concorda com esta caracterização: “A internet não é a rede distribuída em grande escala que a Darpa (Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa), os arquitetos originais da internet, tentou criar, que poderia resistir a um ataque em qualquer parte dela”.
“Os protocolos que ele usa são basicamente apenas aqueles que foram elaborados quando nos conectamos a computadores mainframe a partir de terminais burros (como são os chamados os terminais com funcionalidade limitada). Uma única falha em sua infraestrutura central pode fazer com que tudo desabar.”
O professor Buchanan diz que melhorias podem ser feitas para tornar a internet mais resiliente, mas que muitos dos fundamentos da rede chegaram para ficar para melhor ou para pior.
“Em geral, os sistemas funcionam e você não pode simplesmente desligar certos protocolos da internet por um dia, para tentar refazê-los”, diz ele.
Em vez de tentar reconstruir os sistemas e a estrutura da internet, o professor Buchanan diz acreditar que precisamos melhorar a maneira como a usamos para armazenar e compartilhar dados, ou teremos maior risco de interrupções em massa no futuro.
Há uma esperança sobre isso. Embora interrupções significativas na internet afetem a vida dos usuários e os negócios, elas também podem, em última instância, ajudar a melhorar a resiliência da rede e dos serviços conectados a ela.