Você sabe escutar o outro? Saiba aqui por que nem todo mundo tem essa capacidade

Quem diria, que a disposição para escutar tem se tornado cada vez mais escasso, seja por vários motivos e até mesmo desculpas como, ninguém tempo para olhar, sentir, enxergar o outro, não tem interesse ou seja qual for o motivo de queixa entre as pessoas, essa questão vem gerando desconforto nas relações. Primeiro, é importante compreender que a palavra escutar e ouvir tem o mesmo significado (são sinônimos), mas, no processo de inter-relacionar acaba sendo diferente, sendo o ESCUTAR fator fundamental na/para a construção de relações saudáveis, o que exige uma capacidade de controle emocional e, mais maturidade, é nessa relação da fala e escuta que o olhar para o outro torna-se um “papel do adulto”, que compreende que existe outro mundo além dele.

Não posso deixar de fazer uma ressalva para o uso descomedido da tecnologia que tem nos privado da delícia do diálogo, da “conversa fiada”, do experienciar o momento com prazer mutuo, o que contribui, e muito, para o fortalecimento de vínculos. Se pensarmos que nossa fala e escuta tem perdido espaço para o mundo da imagem além de ser de fácil consumo, é um mundo de sonhos, de perfeição e de muita pressa, sempre há a sensação de, se não olhar a publicação agora, sente que perdeu algo, muitas vezes, mesmo que os conteúdos sejam improdutivos são encantadores porque remete a uma vida almejada, sem contar que o marketing instigado/ensinado/induzido é de autoconsumo e muitos não se dão conta do mundo irreal em que estão mergulhado, o que tem levado o sentimento de vazio com enormes lacunas para o existir, de compreensão da, e pra vida real, tem incidido exatamente na falta de sentido/significado do existir; nesse contexto e não sem fundamento, tenho atendido pessoas com ansiedade, depressão, dentre outros, advindos de situações diversas voltados para a falta de falar, ouvir, realidade, ilusão, é uma mistura de sentimentos adoecedores.

Para tanto, cabe pensar que, se temos inabilidade para ouvir, em concomitante também, a coragem de falar tende a se reprimir. No mundo atual percebe-se que temos preferido digitar (refletir) à oratória; e agrava-se ainda a incapacidade de ouvir quando, a pessoa só escuta o que concorda, tentando fazer do outro a ressonância de si mesmo a situação tende a apresentar fatores relevantes nas laços humanos e afetivos, isto é, ouvir sem escutar, totalmente descomprometido, e se não bastasse, essa pessoa nem percebe o quanto fere o outro.

No intuito de autorreflexão, nas questões abaixo, veja o quanto você tem se doado para escutar o outro:

-Você espera o outro concluir, sem gestos desagradáveis?

-Você atropela, interrompe, apressa ou dar respostas para finalizar o assunto?

-Você consegue ser empático com o momento ÚNICO do outro, sem preconceitos?

-Você se sente bem quando você corta a fala ou silencia, não permitindo que a pessoa se expresse?

– Você se vangloria se achando correta por não escutar o outro, porque não gostou do assunto?

-Você consegue ouvir, responder sem estupidez a um assunto que não lhe agrada?

-Você consegue ouvir, responder sem dar sua opinião sem agredir?

-Você respeita a história do outro, sem comparar com a sua, ou impor verdades, mesmo porque não existe verdade absoluta?

-Você tem exercitado a coragem de ouvir da mesma maneira que desenvolve a coragem pra falar?

-Você emite comportamentos de impaciência, para que o outro termine a conversa?

Se você se identifica com alguns desses comportamentos, te convido a se perguntar como você se sentiria se fizessem com você!

É importante ressaltar que o nosso fazer interfere no outro diretamente, e claro, muda a forma como você é visto e sentido pelo outro. Todos estamos sujeitos a passar por momentos difíceis, portanto, ser escuta para o outro, é doação, vale salientar que, a disputa pela razão se perde no distanciamento emocional do outro, abrindo espaços para desafetos; nesse contexto, portanto, sem dúvidas posso afirmar que, cada vez mais é necessário desenvolvermos a capacidade de ouvir e compreender o outro, ser empático, afetuoso e respeitoso.

As situações que envolve a falta de uma escuta afetuosa é muito comum em nossas vidas em vários aspectos, e contribui sim, para o acometimento de comportamentos adoecidos de quem precisa ser ouvido, por exemplo, de isolamento por se sentirem desvalorizadas, o desenvolvimento de sentimentos de raiva, desesperança e medo, corroborando ainda para o afastamento das pessoas por sentirem ou perceberem que não é importante ou que sua relação é unicamente para agradar ou satisfazer a vontade da outra pessoa, inclusive as relações familiares tem se abalado pela falta de escuta afetuosa, pois é nessa âmbito que as pessoas esperam e se sentem mais protegidas, pelos laços consanguíneos, ligação emotiva, afinidades, pela convivência, pela identificação e pelo sentimento de pertencimento,  mas, muitas vezes não acontecem, aliás, o respeito mútuo depende muito da capacidade de ouvir, se não existe não há relacionamento saudável.

É inegável que essa tendência cada vez maior fará toda diferença na qualidade de vida das pessoas, sobretudo diante de um mundo tecnológico, onde olhar e enxergar o outro não será para todos, diante disso tenho me dedicado bastante ao tema devido as queixas, sobretudo, suas consequências, o que pode em breve, esta questão ser um gatilho para tantas outras patologias, apesar de reconhecer que mesmo diante da evolução da medicina e seus entornos, a sociedade moderna vem se deparando com outras espécies de enfermidades. Nesse contexto, meus atendimentos/cuidados tem apurado o olhar para as relações familiares, o que me surpreendido muito.

Recomendo aqui uma palestra no de Julian Treasure: 5 ways to listen better, onde o autor tem se dedicado ao tema OUVIR/ESCUTAR, e que estamos perdendo essa capacidade, é muito rico quando ele afirma que – “Ouvir é o acesso à compreensão. Um mundo em que não ouvimos uns aos outros é assustador.” Além de enfatizar as questões a seguir:

  • “Reajustar seus ouvidos para uma escuta consciente – para outras pessoas e para o mundo ao seu redor”.
  • Que passamos 60% do tempo ouvindo e só retemos 25%. Claro, além de não estarmos interessados, há vários filtros e ruídos no caminho.
  • “É preciso receber, apreciar, processar e perguntar. Isso é escutar conscientemente para vivermos plenamente.”

(Disponível em<https://www.ted.com/talks/julian_treasure_5_ways_to_listen_better)

Estamos em um momento diferenciado, assolada por uma pandemia, e muito tem se falado em saúde mental, autoconhecimento e de mudanças mas, se pensarmos o quanto ainda não olhamos de fato, para nós e o outro em simbiose de respeito e empatia, continuaremos na mesma zona de conforto, olhando para o próprio umbigo.

Enfatizo ainda que, a maneira como eu olho e acolho o outro diz TUDO de mim. Diante de tais questionamentos, é impossível pensar em escuta e não pensar no profissional de psicologia, que tem se dedicado para que nossos canais sensoriais (visão, audição, sinestésica), exerça com maestria essa habilidade inata tão essencial para as relações humanas de maneira que o ouvir se torne ESCUTA de acolhimento e, transcenda a partir da empatia e respeito o desenvolvimento de criar relacionamentos mais significativos para uma vida com uma melhor qualidade possível. É importante saber que o Psicólogo é capacitado para que os atendimentos sejam únicos e especiais, respeitando cada sujeito em sua singularidade, estar presente integralmente na sessão, buscando os melhores feedbacks adequados ao seu momento, sua história, suas dificuldades e seus anseios. Faço minhas palavras que, além de demonstrar o quanto a pessoa é importante para mim através da escuta, é possível que mesmo não verbalizando, nós da psicologia estamos presente para auxiliar a desenvolver as habilidades desejadas através das próprias potencialidades do cliente, e não da nossa.

Enfim, diante dessas situações, que tal ao ler esse texto, NÓS BUSQUEMOS refletir sobre nosso poder de escuta? não é só ouvir, é sobre sentir-se acolhido(a).

 “Feliz aquele que conseguiu compreender a causa das coisas”

Romano Virgílio

 

Sérgia Mônica Nascimento

Psicóloga clínica – Especialista em Saúde Mental

Pós-graduada em ABA –Análise do Comportamento Aplicada

Psicopedagoga / Pós-graduanda em Neuropsicologia

@sergiamonica.psicologa

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