Jofre Soares, o ator palmeirense que se destacou nas telas

José Jofre Soares, que nasceu em Palmeira dos Índios, no agreste de Alagoas, em 21 de setembro de 1918, foi um dos mais destacados atores brasileiros.

Filho de Aurélio Soares e de Vicentina Guedes, Jofre revelou que o casamento dos seus pais não agradou às duas famílias. “Mas minha mãe disse que ou casava com ele ou morria. Casou e morreu“, lamentou.

Sobre o pai, revelou que ele fugiu de Palmeiras dos Índios para Bauru por motivos políticos: “Não me viu nascer. Passou lá uns seis anos. Um dia minha mãe recebeu uma carta dele dizendo para comprar roupas para os meninos e que no mês seguinte mandaria dinheiro para as passagens. Mas no mês seguinte veio uma carta de São Paulo anunciando que ele tinha sido assassinado numa Sexta-Feira da Paixão. Então, minha mãe deitou na cama para morrer e morreu num dia 9 de setembro”.

Jofre ficou órfão aos seis anos de idade e foi morar com os dois irmãos na casa do primo José de Souza Soares, que era comerciante em Palmeira dos Índios e o ajudou na sua criação.

Robson Mendes e os filhos com o ator Jofre Soares. Foto do acervo da família Mendes publicada no grupo Palmeira das Antigas

José Soares era filho do coronel Pedro Soares e quando se casou, em Palmeira dos Índios no dia 20 de abril de 1923, com Ismênia da Costa Duarte, filha do coronel Leopoldo Duarte, ainda morava em Maceió. Respondia pela firma Leite Pereira & Cia. Foi morar em Palmeira dos Índios por algum tempo, chegando na cidade em 23 de novembro de 1923.

Aos nove anos de idade, Jofre Soares foi matriculado no Colégio Marista, em Apipucos, Recife. Seus pais adotivos queriam que ele fosse padre.

“Mas como eu era muito bem comportado me mandaram logo de férias”. Assim, bem-humorado, revelou sua expulsão do colégio em entrevista para o Diário de Pernambuco de 15 de abril de 1979.

Com 15 anos de idade, em 1932, voltou a Pernambuco matriculado pelos pais, como castigo, na Escola de Aprendizes Marinheiro. No dia 24 de dezembro do mesmo ano, foi transferido para o Rio de Janeiro, onde sentou praça na Marinha.

Foi na Marinha que fez suas primeiras incursões pela arte dramática. Em um dos encouraçados onde serviu tinha um grupo de teatro amador e durante exercícios militares na Ilha Grande, um dos participantes organizava shows caboclos. Jofre resolveu apresentar um número, cantando uma embolada de Manezinho Araújo. Desafinou, errou a letra e foi vaiado por mais de mil marinheiros.

Não desanimou: “Depois disso, passei a frequentar muito cinema e teatro, sempre na esperança de que um dia eu seria um artista”. Essa intenção aumentou quando viu o balé O Lago dos Cisnes, com uma bailarina russa, no Intermunicipal do Rio de Janeiro. “Depois disso, fiquei com ideia fixa de que um dia eu seria ator”, confessou ao jornalista do Diário de Pernambuco em 1979.

Na Marinha, foi sargento e, em janeiro de 1954, promovido a suboficial (corresponde a subtenente no Exército) e no mês seguinte, a 1º Tenente. Permaneceu no serviço militar até os 40 anos de idade.

De volta à Palmeira dos Índios, se envolveu com a boemia da cidade e era comum vê-lo na Rua Pernambuco Novo em companhia de Ivan Barros, Hélio Teixeira Gaia, Élio Gaia e outros jovens.

Começou a animar as festas dos amigos com algumas interpretações. Não demorou e estava participando do teatro amador da cidade.

Seu interesse por este trabalho artístico foi tanto, que logo fundou o Teatro de Amadores de Palmeira dos Índios, em parceria com Luiz Torres, José Branco e Romildo Leite.

Sua primeira atuação no teatro foi na peça Morre um Gato na China, de Pedro Bloch. A direção ficou ao encargo de Luís Torres. O arrecadado foi doado à Sociedade São Vicente de Palmeira dos Índios.

Sobre Luís Torres, Jofre afirmou anos depois: “Me ensinou tudo sobre teatro, foi a minha base. Se tivesse no Rio ou São Paulo seria um dos maiores diretores do País”.

Fez ainda Eles não usam black tie e recebeu por esta atuação elogios do crítico pernambucano Medeiros Cavalcanti. Escreveu a ele para agradecer e assim nasceu uma amizade que influenciaria a sua carreira de ator.

Foi Medeiros Cavalcanti que o levou, com a peça As mãos de Eurídice, de Pedro Bloch, a uma temporada no Teatro Princesa Isabel, em Recife.

Entretanto, não foi por esta trajetória como ator que aconteceu a sua chegada ao estrelato.

Tempo depois de suas primeiras incursões pelas artes cênicas, foi convidado pelo padre Ludujero, de Palmeira dos Índios, a participar de um pequeno circo que estava montando para as crianças índias do local. Foi ser o palhaço.

Ficou entusiasmado com experiência no Circo Tilichi, que quer dizer bonito para os xucurus. Se encontrava fazendo esse papel, em 1962, quando o jornalista Valdemar Lima o indicou a Nelson Pereira dos Santos para ser assistente de produção na filmagem de Vidas Secas, ambientado nos municípios alagoanos de Palmeira dos Índios e Minador do Negrão.

Terminou sendo também o ator que interpretou o fazendeiro do filme: “Daí, entrei para o cinema brasileiro com o pé direito, tanto pelo autor da obra como pelo diretor. A sorte estava comigo”, comemorou Jofre Soares, que também conquistou a amizade de Nelson Pereira dos Santos.

Após as filmagens, teve que ir ao Rio de Janeiro no final de julho de 1963 para gravar as dublagens. Durante as exibições dos primeiros copiões para a equipe técnica e convidados, o mundo cinematográfico ficou surpreso com a atuação do alagoano e ele recebeu imediatamente convites para mais três filmes.

O filme Vidas Secas começou a ser filmado em Palmeira dos Índios no dia 26 de novembro de 1962 e foi lançado no dia 28 de agosto de 1963 nos principais cinemas do Rio de Janeiro.

Iniciava-se ali uma longa e vitoriosa carreira cinematográfica, com destaque para O Grande Sertão (1965), Jeca Macumbeiro (1974) e O Cangaceiro (1997) de Anibal Massaini, seu último filme.

Atuou em mais de 100 filmes. Entre eles: O Bom Burguês (1979) e O Grande Mentecapto (1989), dirigidos por Oswaldo Caldeira; Terra em Transe (1967), dirigido por Glauber Rocha; Memórias do Cárcere (1984), dirigido por Nelson Pereira dos Santos; Chuvas de Verão (1978) e Bye Bye Brasil (1979), dirigidos por Carlos Diegues.

Em sua tardia trajetória nas artes cênicas, Jofre Soares recebeu muitos prêmios, destacamos os seguintes: “Pelé de Ouro” no Festival de Santos e a “Coruja de Ouro”, em 1972, por seu desempenho e, “A Faca e o Rio”, dirigido pelo holandês George Sluzier; “Governador do Estado de São Paulo”, “Coruja de Ouro” e “melhor ator do Festival de Gramados”, em 1973, com “O Predileto”, direção de Roberto Palmari; primeiro Molière — Air France, em “Guerra Conjugal”, direção de Joaquim Pedro de Andrade; outra Coruja, em 1976, pelo conjunto de seus trabalhos em vários filmes e teatro; e finalmente, o Molière — Air France, de 1978, por “Chuvas de Verão”.

Fez carreira marcante também no teatro e na televisão, sempre interpretando tipos nordestinos, coronéis, jagunços e lavradores. Recebeu elogios da crítica por seu personagem na novela Renascer (1993). Sua última participação nas telenovelas foi em As Pupilas do Senhor Reitor (1995), pelo SBT.

Jofre Soares morreu aos 77 anos, em São Paulo, às 4h do dia 19 de agosto de 1996. Tinha leucemia e câncer no intestino e passou seus últimos dias internado no Hospital Santa Marcelina, sendo acompanhado por sua sobrinha, Maria Lúcia Pereira da Silva. Faleceu solteiro e sofrendo também com os maus resultados de uma cirurgia de catarata.

Considerava-se “um homem de sorte, um predestinado para a arte teatral”. Explicava: “Quem entra para o cinema pela mão de Nelson Pereira dos Santos, para o teatro por Gianni Rato, e para a TV por Lima Duarte, só pode pensar assim e ser feliz”.

Elias Gleiser, outro ator consagrado, assim definiu Jofre Soares: “Era uma pessoa maravilhosa, que entendia de tudo e gostava de falar de coisas amenas, culinária e futebol. Era um homem de muitas virtudes. Nós perdemos um grande homem, um garotão que estava sempre de bem com a visa“.

Fontes:

*História das Alagoas

Wikipédia, a enciclopédia livre; “Astros e Estrelas do Cinema Brasileiro”, de Antonio Leão da Silva Neto texto publicado originalmente no site http://www.cultura.al.gov.br/; jornais diversos.

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