10 de setembro: precisamos falar de valorização da vida

O mês de setembro chegou e com ele o famigerado “setembro amarelo”. É um mês dedicado a ações de prevenção ao suicídio e, por conseguinte, época de promoção da saúde mental e da valorização da vida. Mas, perguntemos em termos práticos: o que é valorizar a vida? E como podemos fazer isso? As respostas para essas perguntas não são fáceis de serem alcançadas, mas nem por isso devemos nos privar de tentar encontrá-las.

“Valorizar a vida” é uma expressão que pode assumir diferentes significados para diferentes pessoas, pois ela envolve fatores culturais e a história de vida individual de cada sujeito. É comum encontrar pessoas que, por exemplo, acreditam que valorizar a vida é obter o máximo de prazer possível, se divertir o tempo todo, esquivando-se de responsabilidades, desafios e situações dolorosas. Em minha experiência clínica, já me deparei com pacientes que tinham essa concepção da vida: prazer máximo e desconforto mínimo. E para que eles alcançassem esse objetivo, valia de tudo: drogas, álcool, sexo, fast-food, jogos online, TV… tudo em excesso e sem limites. O que essas pessoas não percebiam é que, por mais que esse estilo de vida trouxesse prazer imediato, alívio temporário de dores existenciais e fuga ou esquiva dos problemas, em médio e em longo prazo ocorria uma série de prejuízos, tanto para o próprio indivíduo como para as pessoas ao redor dele. Além dos problemas mais óbvios na saúde e no bolso, indivíduos cuja concepção de vida se pauta no que foi descrito acima, há ainda outro entrave: pessoas que se habituam a prazer rápido e fácil ao mesmo tempo em que fogem de responsabilidades e desafios correm o risco de serem menos tolerantes a frustrações, dores, perdas e demais dificuldades que a vida inevitavelmente irá nos trazer.

Também já encontrei pessoas que acreditam que valorizar a vida é ter uma ordem extremamente rígida com os outros e consigo mesmo. São pessoas que vivem para o trabalho, hiperfocadas em uma rotina de produção incessante, sem tempo para o descanso, para o lazer, para a família e para as pessoas que ama. Essas pessoas também podem perecer física e mentalmente se não desacelerarem e se não tiverem outras opções de atividades para além do mero utilitarismo.

Dito isto, “valorizar a vida” talvez possa ser entendido como encontrar um equilíbrio, ou melhor: ter variabilidade comportamental, ter um leque amplo de repertórios. É preciso trabalhar, lutar e encarar os problemas do dia a dia. Mas também é preciso descansar, se divertir, parar para contemplar a natureza, fazer tarefas manuais, praticar exercícios físicos, ter boas relações amorosas e de amizade.

Desenvolver habilidades intelectuais e manuais, aprender um novo idioma, aprender a pintar, tocar um instrumento musical, se envolver em grupos de esportes, fazer um curso, viajar, tudo isso conta como elementos que promovem nossa saúde mental. Como costumo dizer a meus pacientes, um grande prédio não se sustenta com apenas uma coluna, são precisas várias colunas para manter uma estrutura de pé. A mesma coisa se aplica a nós. É preciso que tenhamos vários pilares que sustentem nossa vida. Isso porque quando um pilar ruir teremos outros pilares para nos segurar enquanto nos reconstruímos.

Essa tarefa nem sempre é tão fácil ou tão rápida. Tampouco conseguiremos realizá-la sozinhos, em muitos casos. Felizmente podemos contar com a ajuda profissional de psicólogos e psiquiatras – profissionais treinados técnica e eticamente para acolher e lidar com as demandas que afligem a saúde mental.

Se você está tendo ideações suicidadas, se já tentou suicídio ou conhece alguém que necessite de ajuda, busque um profissional psicólogo. Caso você não tenha condições de fazer isso na esfera privada, procure na sua Unidade de Saúde ou no CAPS da sua região – haverá um psicólogo de forma gratuita pronto para te atender.

A vida não é, não foi e nunca será fácil, mas ela pode ser muito bela, apesar de todas as dores. Continuemos lutando e entre um round e outro, colhendo as flores e recompensas da luta.

Elton Silva de Lima

Psicólogo analítico-comportamental CRP 15/5080

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