Após matar amigo, Lázaro comeu cuscuz e tomou café na casa do padrasto

Rafaela Felicciano/Metrópoles

Era madrugada de segunda-feira, dia 17 de novembro de 2008, por volta das 4h40, quando Lázaro Barbosa de Sousa, após virar a noite bebendo cachaça e cerveja, dirigiu-se para uma casa em Melancia, zona rural de Barra do Mendes, na Bahia, e chamou o padrasto, Getúlio José de Souza.

O homem levantou-se da cama, abriu a porta e se assustou ao ver o enteado, que na época tinha 20 anos. Lázaro apontava o cano de uma espingarda socadeira, de cor amarelada, em direção ao padrasto.

O jovem estava prestes a cometer seu segundo homicídio naquela madrugada. Getúlio pediu para que o criminoso abaixasse a arma. Segundo relatos de vizinhos, ele falou “coisas de Deus” ao enteado.

Lázaro atendeu ao pedido. Em seguida, perguntou se tinha algo para comer, e Getúlio o convidou para entrar.

“Carlitinho já era, e tem mais pessoas para matar”, disse Lázaro ao padrasto, enquanto comia cuscuz e tomava café frio. Ainda temeroso, Getúlio perguntou se seria a próxima vítima, mas Lázaro negou e antecipou que ia matar “seu Manoel”.

Após o café, Lázaro pediu ao padrasto que não “abrisse o bico” e saiu pela porta dos fundos, com a espingarda nas costas. Três minutos depois, a comunidade de Melancia ouviu o segundo disparo.

Primeiro homicídio

Por volta das 4h, Lázaro havia atirado contra um amigo dele, José Carlos Benício de Oliveira, o Carlito, que morava em frente a uma igrejinha, também em Melancia. Ambos almoçaram juntos no dia anterior, e o criminoso voltou ao lar do colega à procura de Maria Antônia* (nome fictício).

A mulher se escondia após um homem, até então não identificado, tentar arrombar a casa dela. Acredita-se que a intenção dele era estuprá-la, pois a jovem morava sozinha com uma criança de 5 anos.

“Cadê Maria Antônia?”, perguntou Lázaro, de touca na cabeça, capanga (bolsa de couro) e a espingarda, ao chegar à casa de Carlito. Após direcionar a arma para os filhos e a mulher de Carlos, o criminoso ressaltou que não queria levar nada: nem televisão, nem DVD. Só queria Maria Antônia.

Foi quando Carlito, que estava amarrando o cachorro, voltou para casa e se deparou com o amigo. “O que é, Lázaro? O que é que tu quer uma hora dessa?”, questionou, ao se aproximar do colega.

Sem meias-palavras, Lázaro virou-se, puxou o fecho da espingarda e disparou contra o amigo, à queima-roupa. O tiro atingiu o coração de Carlito, deixando um furo de 3 centímetros de diâmetro no peito dele. A vítima colocou a mão esquerda no peito, deu quatro passos devido ao impacto da bala, e caiu de bruços no chão vermelho do sertão baiano, com os pés cruzados. Os detalhes constam em processo ao qual teve acesso.

Lázaro esperou o amigo morrer. Ao vê-lo finalmente sem vida, saiu caminhando do local e fugiu pela mata.

“Bota a cabeça pra fora”

A esposa e os filhos de Carlito desesperaram-se. Imediatamente, um deles foi até a casa do irmão de Maria Antônia, onde a mulher havia sido acolhida após ter a residência quase arrombada, a fim de avisá-la que Lázaro estava atrás dela.

Depois de matar Carlito, Lázaro passou em frente à casa do colega de infância Tomas Gomes Martins de Sousa. Um dia antes, no domingo à tarde, os dois haviam brigado debaixo de uma árvore, perto de uma escola em Melancia.

Tomas acusou Lázaro de pegar um rádio e não devolvê-lo. Ao resistir à acusação, o criminoso teria dado uma gravata no pescoço do amigo. Tomas conta que Lázaro só o soltou após levar uma cotovelada na barriga. O assassino também o insultou e prometeu mostrar “como é que homem faz”.

Talvez, por isso, foi para a casa de Tomas no dia seguinte, depois do primeiro assassinato. Com a espingarda na mão, gritou, do lado de fora:

“Tomas, bota a cabeça pra fora, se tiver coragem.” Tomas não botou; estava dormindo. Lázaro repetiu a provocação uma, duas vezes. Após não ser correspondido, seguiu viagem.

Eliene Martins de Sousa, tia de Tomas, estava acordada quando Lázaro passou em frente à casa deles e falou para que o colega colocasse a cabeça para o lado de fora. Ela achou estranho e não abriu a porta. Depois, contou tudo ao sobrinho.

Segundo homicídio

A terceira parada, após tentar arrombar a casa de Maria Antônia, foi na residência do padrasto, onde comeu cuscuz e tomou café.

Depois de sair da casa de Getúlio, Lázaro foi atrás de Manoel Desidério Silva. No local, quem primeiro recebeu o criminoso foi Edjalma Desidério de Novais, filho de Manoel.

“Eu quero é seu pai”, disse o assassino, que estava em uma cerca perto da residência.

Logo após, um homem de cabelos grisalhos, olhos castanhos claros, vestindo calça azul e camisa verde atravessou a porta. Era Manoel. Com a arma em punho, Lázaro pediu para que Edjalma, que estava a cerca de um metro atrás do pai, se afastasse. O filho da vítima pediu novamente que o criminoso abaixasse a espingarda. Sem sucesso.

Edjalma se afastou um pouquinho, e Lázaro, com um “adeus”, atirou contra Manoel.

A bala atingiu o peito da vítima. Manoel foi socorrido pelos familiares e levado para o Hospital de Barra do Mendes, mas não resistiu.

Lázaro fugiu e ficou nove dias foragido, até decidir entregar-se à polícia, em 25 de novembro de 2008. Na delegacia, admitiu ter sido o autor dos dois assassinatos. Explicou que matou Manoel porque o homem o teria acusado “injustamente” de roubar, na roça dele, melancia e mandioca, além de dar ossos para o gado comer e morrer.

Familiares da vítima ouvidos pelo Metrópoles relatam, porém, que Lázaro estaria insatisfeito porque Manoel o acusou de ter abusado sexualmente do neto dele, quando o criminoso tinha 10 anos.

Fuga

Durante a fuga, Lázaro invadiu casas – até tomou banho em uma delas –, roubou alimentos, água, roupas, uma arma e um carro.

Metrópoles teve acesso com exclusividade ao depoimento do maníaco realizado na delegacia de Irecê, na Bahia, em 26 de novembro daquele mesmo ano, um dia após ele se entregar. Lázaro detalhou o passo a passo da fuga que mobilizou a polícia baiana à época.

Hoje, 13 anos depois, empreende outra escapada. Forças de segurança de Goiás e do Distrito Federal entraram, nesta quarta-feira (23/6), no 15º dia de buscas, na região de Girassol, em Goiás.

O fugitivo é acusado de cometer uma série de crimes – entre os quais, uma chacina que vitimou quatro pessoas da mesma família, no Incra 9, em Ceilândia, no dia 9 de junho deste ano.

Metrópoles

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