Índia registra maior número de casos diários de Covid no mundo
A Índia voltou a registrar nesta quinta-feira (22) o seu pior dia da pandemia e bateu o recorde mundial de casos de Covid-19 em um único dia: quase 315 mil novos infectados. Assim, superou os Estados Unidos, que detinha o recorde anterior com mais de 300 mil casos registrados no começo de janeiro.
O país passa por uma severa segunda onda de contágios, com uma nova variante que fez o número de casos explodirem. A população sofre com hospitais lotados e a falta de leitos, de remédios e de oxigênio. Cemitérios e crematórios não conseguem atender a demanda.
Em Ahmedabad, indianos aguardavam em ambulâncias e até em carros particulares por vagas em um hospital para Covid-19 nesta quinta-feira (22). Ontem, ao menos 22 pacientes morreram em um hospital em Nashik após uma interrupção no fornecimento de oxigênio.
Mesmo diante do colapso do sistema de saúde, o governo indiano se recusa a adotar um lockdown nacional, como foi feito em 2020. Diversos estados e cidades estão adotando medidas de restrição por conta própria, como a capital Nova Délhi, que está sob lockdown até segunda-feira (26).
Situação pode ser ainda pior
O Ministério da Saúde do país registrou 314.835 casos e 2.074 mortes nas últimas 24 horas, um novo recorde também de óbitos. Os números de hoje equivalem a 15% de todos as vítimas do vírus e 35% de todos os novos infectados do mundo, segundo dados do “Our World in Data”.
Oficialmente, a Índia é o segundo país com mais casos confirmados de Covid-19 do mundo (15,9 milhões), atrás apenas dos EUA (31,8 milhões), e o quarto em número de mortes (182 mil), depois de EUA (569 mil), Brasil (381 mil) e México (213 mil).
Mas especialistas acreditam que o número real de mortes é muito maior do que a contagem oficial.
Várias cidades importantes estão relatando um número muito maior de cremações e enterros feitos sob os protocolos da Covid-19 do que o número de mortes divulgado, segundo trabalhadores de crematórios e cemitérios, a imprensa local e uma revisão dos dados do governo.
No estado de Gujarat, onde nasceu o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, os crematórios estão recebendo muito mais corpos que os relatados nos balanços locais de mortos por Covid-19.
“Dois de nossos fornos não estão operacionais porque suas estruturas estão derretendo e os queimadores de gás estão ficando congestionados, porque os fornos estão sendo utilizados o tempo todo”, disse Prashant Kabrawala, diretor do crematório de Surat, a principal cidade de Gujarat.
Nova variante e inação do governo
O governo indiano atribui a segunda onda de Covid-19 ao desrespeito ao distanciamento social e o não uso de máscaras. Mas médicos e especialistas apontam também uma nova variante do vírus e a complacência do governo, que permitiu festivais religiosos e comícios eleitorais.
“A situação estava sob controle há algumas semanas e a segunda onda veio como um furacão”, afirmou o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, em um discurso transmitido pela televisão na noite de terça-feira (19).
Foi o primeiro discurso de Modi desde a explosão de contágios no país. O governo tem enfrentado críticas por “baixado a guarda” muito cedo e por se recusar a adotar um novo lockdown nacional.
No final de janeiro e no começo de fevereiro, estava registrando menos de 10 mil novos casos e cerca de 100 óbitos por dia. No início de março, o ministro da Saúde indiano, Harsh Vardhan, chegou a declarar que o país estava na “fase final” da pandemia.
“O país baixou a guarda muito cedo. As pessoas voltaram a se comportar como antes da pandemia e ninguém advertiu”, afirma o virologista T. Jacob John. “A segunda onda está se propagando muito mais rápido que a primeira”.
“As lideranças em todo o país não transmitiram adequadamente que se tratava de uma epidemia que não havia desaparecido”, afirmou K Srinath Reddy, presidente da Fundação de Saúde Pública da Índia, ao jornal britânico “The Guardian”.
“A vitória foi declarada prematuramente, e esse clima se espalhou por todo o país, especialmente por políticos que queriam fazer a economia andar e voltar à campanha”, diz o especialista. “E isso deu ao vírus a chance de crescer novamente”.
G1