O anúncio de que as principais vacinas contra a Covid-19 estão em fase final de testes tem deixado a população e a comunidade científica esperançosos. Para o ano que vem, a expectativa é que os brasileiros comecem a ser vacinados em maio, mas tudo vai depender de como o governo fará a distribuição dos imunizantes. A análise foi feita por Sidney Klajner, presidente do Albert Einstein, cirurgião geral e especialista em cirurgia do aparelho digestivo em uma live promovida pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) nesta quinta-feira (26/11).
A imunização no Brasil vai depender da finalização dos estudos em fase 3, segundo Klajner, que também integra a aliança Todos pela Saúde, grupo de especialistas formado para contribuir no combate a pandemia e apoiar iniciativas da saúde pública.
Mesmo com a eficácia beirando os 90% de grande parte das vacinas mais avançadas, o médico frisa que essa percepção de eficácia foi observada em um grupo pequeno de pessoas. “A fase 3 dos estudos ainda não terminou. Os pesquisadores precisam encerrar os testes com esses pacientes para conferir se esse dado [de eficácia] é um dado científico confiável”, completou. Só assim a comunidade científica e a população terão a comprovação de eficácia e dos efeitos colaterais, especialmente em grupos específicos, como idosos e pacientes crônicos.
Uma vez aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a previsão é que as vacinas possam estar disponíveis para a população em maio. O especialista, contudo, teme que o início da imunização no Brasil esbarre em um problema de logística de distribuição. “Algumas vacinas, como a da Pfizer e a da Moderna, exigem temperaturas de -20ºC e -70ºC para serem armazenadas. Poucos locais no país têm condições de mantê-las assim”, pontuou Sidney Klajner.
A distribuição das vacinas depende, também, da disponibilidade de insumos necessários para aplicá-las, como agulhas e seringas. A capacitação de profissionais de saúde para administrá-las também deve entrar na conta do início da imunização. Há, ainda, o desafio de produzir as vacinas em quantidade suficiente para imunizar um país com a extensão continental como o Brasil. “Não dá para falar de imunidade de rebanho se a vacina só estiver disponível em certos estados. Podemos ampliar raciocínio em âmbito mundial. As pessoas querem viajar, mas não será possível se o mundo inteiro não estiver imunizado”, reforça o especialista.
O médico destaca ainda que a credibilidade da população com relação aos medicamentos é relevante para avaliar quando poderemos estar tranquilos com relação à Covid-19. “Existe a necessidade de engajamento da população para se vacinar. O Brasil felizmente é um dos países mais vacinados do mundo. Temos uma cultura de vacinação que começou com a poliomielite.” Por enquanto, Klajner diz que não há informações à respeito da disponibilização das vacinas no setor privado de saúde.
Apesar de existir a sensação de que há uma corrida para a descoberta de uma única vacina contra a Covid-19, o esperado é a utilização de vários imunizantes para garantir a proteção contra o coronavírus. Isso porque o vírus está em constante mutação, segundo o médico. “Muito provavelmente, vamos descobrir, com o fim dos testes, qual grupo se beneficia mais com qual vacina ou com qual combinação entre elas.” Além das vacinas já em fase final de estudos, Klajner chamou a atenção para a existência de outros 300 trabalhos em diferentes estágios de estudo que também visam a criação de imunizantes.
Mesmo com as notícias animadoras, o especialista alerta que o ideal é não deixar de lado a máscara, o álcool em gel e o distanciamento em 2021. “Agora é o momento de torcer para os estudos darem certo. O ano que vem será para voltarmos ao normal com alguma desconfiança. Até lá, temos que manter ao máximo as medidas de segurança.”