O poder é solitário, mas quem governa não pode fazê-lo sozinho, diz candidato à reeleição Júlio Cezar
Estadão Alagoas
Filho de um agricultor e de uma feirante, o jornalista Júlio Cézar (PSB) assumiu a prefeitura de Palmeira dos Índios, há quatro anos, com a missão de fazer com que o município, hoje com mais de 70 mil habitantes, voltasse aos trilhos do desenvolvimento. No final de sua gestão, o ‘filho da verdureira’ como ficou conhecido na campanha para governador na qual ele foi o terceiro colocado, em 2014, Júlio Cezar avalia que conseguiu sanear as contas da cidade para que Palmeira dos Índios retome o caminho do crescimento.
Em entrevista ao Estadão Alagoas, o prefeito e candidato à reeleição considera, também, que o poder é solitário; Júlio Cezar avalia que ele ter chegado ao cargo de prefeito de Palmeira dos Índios é uma prova de que não é preciso ‘ter sangue azul’ para guiar os destinos do povo palmeirense. O gestor ainda lembra as três crises que teve que enfrentar em quatro anos de mandado, os ajustes fiscais que foi obrigado a fazer e a parceria com os servidores públicos municipais. “Sem a parceria deles, minha gestão não teria sentido”.
Confira a seguir a entrevista!
Estadão Alagoas – O começo da sua gestão foi de imensas dificuldades. O que acontecia com a Prefeitura àquela época de início de mandato.
JC – Assumimo a prefeitura sem crédito em lugar nenhum de Palmeira e do estado, muitas dívidas não pagas e enorme saldo devedor. Para se ter ideia, Palmeira devia R$ 9 milhões na Eletrobras (hoje Equatorial), o que fez com que tivéssemos energia de escolas e postos de saúde, por exemplo, cortada, e a UPA [Unidade de Pronto Atendimento] devia mais de R$ 3,5 milhões. Era uma situação desesperadora a de Palmeira. O primeiro passo, então, foi renegociar as dívidas e começar a arrumar a casa e sanear as contas do município, e conseguimos.
Estadão Alagoas – O senhor sempre lembrar que, além dos problemas encontrados no início da gestão, o seu mandato também enfrentou outras dificuldades alheias a sua vontade e que dificultaram e ainda dificultam a gestão.
JC – Sim, da mesma forma que outros lugares do nosso país, Palmeira não ficou de fora dos reflexos das três crises pelas quais o Brasil foi alvo: a crise hídrica, em 2017; a crise econômica no fim do governo da presidente Dilma Rousseff; e agora a pandemia, que pegou o mundo de surpresa. Tudo disso também inviabilizou negócio, travou por muitos momentos a nossa tarefa de tornar a cidade melhor, mas conseguimos remar em meio às tempestades.
Estadão Alagoas – Dentro desse cenário, era preciso, por exemplo, dialogar com o funcionalismo público porque eles a máquina não anda. Como o senhor fez para ter a compreensão dos servidores, com tantas dificuldades?
JC – Para se ter ideia, nem calendário definido de pagamento dos servidores nós encontramos ao assumir a prefeitura de Palmeira, e o aposentado, que trabalhou sua vida inteira, nem podia se programar porque ele era o último a receber salário e não sabia quando exatamente isso seria feito. Foi outra dura batalha.
Estadão Alagoas – Qual foi a saída encontrada pela gestão para alinhar os vencimentos dos trabalhadores?
JC – Tivemos que fazer ajuste fiscal, cortar na própria carne e até no próprio osso para que pudéssemos começar a andar com as próprias pernas e valorizar o funcionário público porque, sem ele, a máquina do município não andaria. Resultado disso: desde janeiro de 2017 que não atrasamos salário e, ainda mais, conseguimos realizar concurso público e fazer um PCC [Plano de Cargos e Carreiras) para diversas categorias.
Estadão Alagoas – O senhor se orgulha de ter mudado a forma de aquisição dos bens e serviços do município. Qual a estratégia usada pela gestão para isso?
JC – Sim, começamos tratar essa relação de compra de bens e serviços por meio de pregão eletrônico. Essa modalidade fez o município economizar bastante e comprar melhor. Inclusive, nossa lei de Controle Interno, para esse fim, é atestada pelo TCE como a melhor do país. Palmeira agora é um paciente que respira e sem ajuda de aparelhos. Dentro desse roteiro, chegamos ao último ano de mandato com 90% das obras concluídas, com o sentimento de que as obras não pertencem ao prefeito, mas ao povo.
Estadão Alagoas – Mais ou menos com as contas saneadas e novo rumo na gestão pública, qual foi o próximo passo tomado para viabilizar a sua gestão?
JC – Parcerias. Mesmo no início com o governo do estado me fazendo oposição, eu fui em busca do apoio do governador porque sem o estado ao lado do município não há como governar. Dos entres da Federação, o Município é o que menos arrecada, e é preciso se articular. Outra parceria que busquei fazer foi com a bancada federal, independente de qual partido. Não era e nunca é hora para se colocar as visões pessoas, interesses ou seja lá o que foi acima do interesse público, da população. Em relação aos deputados e senadores por Alagoas, só não ajudou Palmeira dos Índios quem não quis porque eu bati à porta de todos eles. Por fim, esse apoio da bancada foi consolidada com o governo federal.
Estadão Alagoas – 2018 foi ano de consolidação do governo?
JC – Isso mesmo. A consolidação se deu, também, por meio da retomada das obras públicas. Antes, quem passava pelo Centro da cidade, via que era um lugar escuro, sujo e sem a mínima condição de nada. Revitalizamos o lugar, assim como o Cristo do Goiti, um ponto turístico de nossa cidade. Entregamos 1.120 casas na comunidade Brivaldo Medeiros, sentido Arapiraca, essa com recurso federal. Foi nesse mesmo ano que os servidores, de forma justa, passaram a pressionar a gestão por reajuste salarial. Apertamos a máquina, negociamos com eles durantes meses e foi um tempo que já podíamos valorizá-los, sobretudo Educação, Saúde e Assistência Social.
Estadão Alagoas – Em 2017, foi anunciada restauração do Museu Graciliano Ramos, em uma parceria da prefeitura e o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Mas o local, até agora, continua fechado. O Museu é um ponto turístico importante para o estado, inclusive, e continua fechado. O que houve?
JC – O Museu Graciliano Ramos é uma referência que leva o nome de nossa cidade para o mundo. A obra de reforma, porém, passa pelo Iphan, e aguardamos a liberação dos recursos da segunda etapa de restauração do local, no valor de R$ 220 mil, com convênio para finalizar a parte museológica e reforma geral dos ambientes internos. Mas acredito que em breve, devemos ter o Museu reaberto ao público.
Estadão Alagoas – Com as contas saneadas e com a pavimentação feita para que a cidade volte se desenvolver, qual o plano, caso seja eleito?
JC – Tenho consciência que com muito trabalho, esforço e o apoio da população de Palmeira dos Índios, conseguimos estruturar a cidade para o futuro. Agora, com a casa arrumada, o caminho para a cidade é atrair investimentos privados, indústrias; Palmeira é forte no setor de serviços, não entramos na página policial por escândalos envolvendo dinheiro público e estamos prontos para alçar voos mais altos e avançar. Por exemplo, em 2019, o MP ajuizou uma ação contra o ex-prefeito James Ribeiro por dano ao erário. Consta dos autos do Inquérito Civil que o ex-prefeito, durante os anos de 2010 e 2011, fez uso, de modo irregular, do trabalho de três servidores públicos municipais que eram remunerados através da Secretaria Municipal de Educação, com a utilização do FUNDEB.
Estadão Alagoas – Relação política. 2020 é ano de eleições municipais. Hoje, o senhor conta com o apoio da Câmara de Vereadores de Palmeira dos Índios, mas parece que nem sempre foi assim.
JC – O poder é bastante solitário. Muitas vezes, a gente precisa tomar decisões impopulares que vão desagradar muita gente, mas isso só vai caber a mim. No meu caso, minha relação com o doutor Márcio Henrique, meu vice-prefeito, é de harmonia, parceria e cumplicidade. Em geral, discutimos sempre cada ponto que precisamos agir. Ele me escuta, eu o escuto e no final preciso decidir o que fazer. Porque é preciso administrar também os diversos mundos que estão na cabeça de cada um que faz parte da gestão, da população etc.
Estadão Alagoas – Mas o senhor considera que tem feito um bom papel nessa relação política à frente da prefeitura de Palmeira do Índios?
JC – Apesar das decisões no final serem tomadas por mim, é importante ninguém dizer que não se governa sozinho. E também não se governa, por exemplo, brigando com o Legislativo, com a Câmara de Vereadores. Somos poderes independentes, mas harmônicos. Muitas vezes, os vereadores cobram, criticam, mas eu entendo que, apesar do apoio, não podemos viver sem ouvir o contraditório, assim como não podemos governar livres do controle social de sindicatos, associações, conselhos etc.
Estadão Alagoas – Por fim, prefeito, o que esperar da eleição municipal?
JC – Pode parecer chavão, lugar-comum, mas entendo que o pleito de 2021 precisa ter o respeito de quem governa e de quem pleiteia governar Palmeira dos Índios. Como eu fui eleito em 2016, acredito que a democracia é quem deve prevalecer mais uma vez nesse 2021. Também advogo que a eleição precisa ser de propostas e ideias para o melhor da cidade; os candidatos que apresentem o que pensa e o quer para Palmeira. A decisão soberana do povo será conhecida por todos no dia 15 de novembro.