O filho de Donald Trump que é mais “Trump” que o pai
O discurso do filho mais velho do presidente americano, Donald Trump Jr., era o nome mais aguardado da primeira noite da Convenção Nacional Republicana.
Ele é um defensor ferrenho das propostas de seu pai, e os apoiadores de Trump confiavam em sua capacidade de energizar os eleitores em torno da campanha de reeleição de seu pai — e ele não decepcionou.
“Biden prometeu tirar o dinheiro do seu bolso e deixá-lo no pântano (referência ao mito de que a capital americana, Washington D.C., foi erguida sobre um). […] Faz sentido, considerando que Joe Biden é basicamente o Monstro do Lago Ness do Pântano. E ele está por aí à espreita nos últimos 50 anos.”
Segundo o filho do presidente, “as políticas de Trump têm sido como combustível de foguete para a economia”, mas “as políticas esquerdistas radicais de Biden congelariam a recuperação econômica.”
Essa foi apenas uma amostra do papel que o filho do presidente terá nos próximos meses. Na estratégia republicana, Trump Jr. é considerado como um ás na manga para conseguir energizar a base do presidente.
Suas apresentações incendiárias costumam ser repletas de ataques violentos aos democratas, a Hunter Biden (filho de Joe Biden, candidato democrata à Presidência) e à mídia.
Se há uma certeza nesta eleição, é que ele fará tudo o que pode para ajudar seu pai a ganhar.
O APELO DE TRUMP JR.
Trump Jr. tem uma relação incomum com os apoiadores do presidente, muitos dos quais vivem em áreas rurais do país e, assim como ele, também amam caçar.
“Ele é visto como um canal para a base de Trump”, explica Ron Bonjean, um estrategista republicano com ligações com a Casa Branca.
Os eleitores de Trump gostam de seu estilo “prático”, diz Michael Kuckelman, presidente do Partido Republicano no Kansas.
E também de como ele, às vezes, vai ainda mais longe do que seu pai, como ao apoiar, por exemplo, os esforços da indústria de armas para eliminar as restrições aos silenciadores.
Ele também é admirado por sua ousadia. No ano passado, ele apareceu em um comício do We Build the Wall, grupo fundado para arrecadar fundos para a construção de um muro na fronteira sul dos Estados Unidos. Os fundadores do grupo, entre eles o guru da direita Steve Bannon, foram recentemente acusados de fraude.
‘GASOLINA NO FOGO’
Embora alguns possam se irritar com o papel que ele assumiu nos últimos anos, Trump Jr. prosperou na sombra de seu pai e é tratado como uma estrela do rock em regiões mais conservadoras do país.
Lawrence Levy, do Centro Nacional de Estudos Suburbanos da Universidade Hofstra, diz que, por isso, o filho do presidente será um defensor extraordinariamente eficaz de seu pai na campanha.
Trump Jr. é em muitos aspectos semelhante ao pai e é tão polêmico quanto, sendo igualmente criticado pelos detratores do presidente.
Ele é “um produto do nepotismo”, diz Christina Greer, professora de ciência política na Universidade Fordham.
Jon Reinish, um estrategista democrata radicado em Nova York, diz que o descreve como uma “versão mais jovem e ácida de seu pai”. “Donald Jr. é gasolina no fogo”, diz Reinish.
Trump Jr. costuma usar o cabelo meticulosamente penteado para trás e camisas de colarinho desabotoado — e a gesticular bastante enquanto fala.
Durante seus discursos, ele dá pequenos pulos como um boxeador no ringue. “Ele eletrifica uma plateia”, diz Jack Oliver, um arrecadador de fundos republicano. “Ele tem uma personalidade radiante.”
Trump Jr., filho de Ivana Trump, primeira mulher do presidente, passou os verões de sua infância na Tchecoslováquia, como o país era chamado na época, caçando com seu avô paterno, e teve uma juventude turbulenta. Com vinte e poucos anos, foi preso em Nova Orleans sob a acusação de embriaguez em público.
Ele e sua ex-mulher, Vanessa Haydon, uma ex-modelo, têm cinco filhos. Sua atual namorada, Kimberly Guilfoyle, trabalha na arrecadação de fundos da campanha. Ela também falará durante a convenção.
Ele se tornou um para-raios de polêmica por causa do encontro que teve em Nova York com uma advogada russa, uma mulher ligada ao Kremlin, em junho de 2016.
A reunião foi alvo de uma investigação sobre os laços entre a campanha presidencial de Trump e a Rússia. Mas, no final, concluiu-se que não havia provas suficientes da suspeita de conspiração criminosa.
Seu pai sempre protegeu o filho neste assunto e minimizou a importância do encontro. “Ele teve uma reunião. Nada aconteceu”, disse o presidente a jornalistas em 2017.
O presidente fala de seu filho, que é um executivo das Organizações Trump, como se este fosse muito mais jovem. “Ele é um bom menino”, diz o presidente. “Ele é um bom garoto.”
HERDEIRO POLÍTICO DE TRUMP?
Ultimamente, os dois têm se concentrado nas pesquisas eleitorais. O futuro de ambos está em jogo. Como explica Lawrence Levy, as perspectivas do jovem podem se ampliar com os resultados do dia da eleição.
“Ele está se posicionando para ser o herdeiro econômico e político de Trump, e o que ele escolherá fazer com isso dependerá do sucesso da campanha.”
O papel que vem cumprindo ao lado de seu pai pode servir de trampolim para um papel ainda mais proeminente na política nacional.
“Os filhos bem-sucedidos de pessoas poderosas aprendem não apenas a viver, mas a prosperar no que pode parecer ser a sombra de seu pai. Mas, um dia, eles serão o patriarca da família”, disse Levy.
Por isso, Levy diz que Trump Jr. pode ir longe. “A base do presidente é louca para ele. Ele é muito popular nos Estados republicanos. Se ele quisesse se tornar um membro do Congresso, poderia concorrer com muito sucesso”, diz.
“Mas acho que suas ambições são maiores do que isso.”
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