De olho em eleitores jovens, políticos se adaptam à linguagem do TikTok

Quem tem mais de 25 anos pode não estar prestando muita atenção, mas o TikTok é o fenômeno do momento entre as redes sociais, já tem mais de 2 bilhões de usuários no mundo e está no meio de uma disputa geopolítica entre a China, onde foi criado, e os Estados Unidos.
No Brasil, o crescimento do app é rápido entre os jovens e políticos que já perceberam isso estão marcando presença na rede, sem ter que disputar espaço com os do espectro bolsonarista, que, assim como o presidente norte-americano Donald Trump, viram a cara para o site.
As celebridades brasileiras no TikTok são influencers já famosos em outras redes, como Felipe Neto (quase 7 milhões de seguidores), Anitta (mais de 7 milhões) e Maísa (mais de 9 milhões), além da artista Yasmin, que ficou famosa principalmente nessa rede e tem 10,1 milhões de seguidores.
Nesse universo virtual de microvídeos (até 60 segundos) onde é fácil inserir músicas e efeitos especiais, os políticos brasileiros ainda engatinham perto dos números dos influencers, mas já ganham esse espaço novo usando uma linguagem diferente da que se vê nas outras redes. No TikTok dá para falar de política, mas misturar um pouco de humor garante muito mais curtidas.
E os mais populares, mostrando que essa rede é diferente, não são os da esfera federal, que contam com mais espaço na mídia tradicional. Um dos campeões do TikTok político no Brasil é o deputado estadual pelo Paraná Requião Filho (MDB), que ostenta 20,4 mil seguidores na rede e faz uso intenso dela, com material que não aparece em perfis como o do Instagram.
De momentos de lazer a reflexões, o filho do veterano Roberto Requião faz críticas frequentes ao presidente Jair Bolsonaro e à sua gestão frente ao coronavírus.
Mais seguidores que Requião Filho quem conseguiu até agora foi a ex-deputada federal e ex-candidata a vice-presidente Manuela D?Ávila (PCdo-B/RS). Ativa em todas as redes, a gaúcha entrou no TikTok em março deste ano e tem postado quase diariamente, já confortável com o esquema de edição da ferramenta.
Um investimento
Para a pesquisadora em democracia digital Maria Carolina Lopes de Oliveira, mestre em democracia pela Universidade de Salamanca e em ciência política pela UnB, os políticos que entram no TikTok podem atingir um público novo e colher frutos no futuro.
“Se você está apostando que a plataforma vai ser decisiva em 2022, e chega lá agora, já terá a visibilidade que precisa para 2022”, avalia. “O público jovem, que está lá e nem vota ainda, passa a te conhecer. Você ganha pontos nessa corrida eterna pela visibilidade e convencimento público. Um ponto de atenção no futuro é entender qual parte desse público é da sua região”, completa.
E a linguagem usada, ainda segundo a especialista, não precisa ser muito forçada quando o político não tiver muita intimidade com a ferramenta.
“O investimento é relativamente baixo, já que é uma plataforma intuitiva, e você mesmo pode produzir o seu conteúdo. É o que a gente vê no Requião e na Manuela”, afirma ela. “Se não tem esse jeitão ou disponibilidade, pode fazer como a Jandira [Feghali, deputada federal pelo PCdoB] ou o [deputado federal do PSol Marcelo] Freixo, que aproveitam vídeos que circulam pela internet para marcar posição”.
Tem direita também
Tão presentes em outras redes, os bolsonaristas quase não aparecem no TikTok e no início de agosto o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL/SP) chegou a defender a proibição do aplicativo no país, ecoando Donald Trump. Mas isso não quer dizer que toda a direita esteja longe do fenômeno que, segundo o site especializado NeoFeed, teve 7,3 milhões de visitantes únicos no Brasil em 2019, antes de estouro de downloads da pandemia.
Membros do MBL, o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP) e o vereador Fernando Holiday estão na plataforma e a usam principalmente para brincar, deixando a política para Twitter e Facebook.
Aos 44 anos, o deputado federal Alencar Santana Braga (PT-SP) diz que vê no TikTok, onde estreou há alguns dias, uma alegria que não existe mais nas demais redes. “É uma nova era e temos que tentar todas as ferramentas possíveis. E o TikTok tem contagiado a juventude e quero estar lá para passar minha mensagem e aprender com a juventude”, afirmou ele, que não lamenta a ausência de bolsonaristas. “Vão ficar sem um público”, avalia ele.
Quem mais?
Em um levantamento do Metrópoles, outros políticos brasileiros que já estão no TikTok são o pré-candidato a prefeito de São Paulo Guilherme Boulos, do PSol, aqui lavando louça, e os deputados federais Tabata Amaral (PDT-SP), Marx Beltrão (PSD-AL) e Domingos Neto (PSD-CE).
Metrøpoles

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *