Covid-19: espera por vacina aumenta ansiedade no país, dizem especialistas
O Brasil rompeu nessa quarta-feira (15/7) a barreira dos mais de 75 mil mortos por causa do novo coronavírus. Oficialmente, são quase 2 milhões de pessoas infectadas no país e a marca impressionante tem mexido cada vez mais com o emocional do brasileiro. A previsão otimista de que a vacina em processo mais avançado no mundo deve ser registrada somente em junho de 2021 provocou reação imediata nas redes sociais.
Decepção, desespero e até receio de perder o Carnaval foram alguns dos relatos. Esse ânsia por uma imunização eficaz contra a Covid-19 é demonstrada também por um dado espantoso: em apenas 24h, mais de 600 mil pessoas buscaram informações sobre o processo de seleção para ser voluntário da terceira fase do estudo clínico da vacina contra o novo coronavírus produzida pela Sinovac no Brasil.
O número foi confirmado pelo Instituto Butantan. “Reforçamos que a plataforma é uma ferramenta de triagem de possíveis candidatos. A inscrição efetiva no estudo será realizada nos 12 centros de pesquisa, a partir da avaliação dos interessados e seguindo os critérios técnicos de seleção”, ressalta o instituto.
Essa preocupação crescente por uma vacina contra Covid-19, que beira o desespero no Brasil , não é por acaso. “Quanto mais o tempo vai passando, mais as pessoas vão se dando conta da realidade. Começa acontecer com o familiar, amigo próximo, vizinho ou até dentro de casa. No afã de querer uma solução, busca essa vacina, mas isso requer tempo e esse tempo grande já era esperado”, afirma o diretor-geral do Hospital de Campanha de Águas Lindas, Marcos Pontes.
O médico reforça que, antes de se apegar à vacinação como única solução, as pessoas precisam manter as práticas de prevenção da Covid-19. “O melhor remédio é a imunidade. A pessoa que tem imunidade boa, com a exceção dos grupos de risco, passa de forma leve ou nem percebe que está com a doença. É preciso continuar tomando os cuidados, usar a máscara, lavar as mãos, atividade física e cuidar da parte emocional”.
Confiança na vacina
O desejo pela aprovação rápida de uma vacina também pode ser relacionado à cultura do Brasil. De acordo com o diretor de Medicina da Cuidas, János Valery Gyuricza, a população está acostumada a imunizações e confia nelas. “Quem não quer uma vacina? Mesmo que seja em junho de 2021, será um recorde. Vacina no Brasil é uma das coisas que funcionam. É uma das coisas do SUS que funcionam e as pessoas confiam. É muito presente na nossa cultura, tomamos desde criança. Por isso, esse desespero é natural”, avalia o médico.
Caso seja de fato registrada em junho de 2021, a vacina de Oxford terá sido a mais rápida da história a ter o processo concluído. Isso porque, em geral, a criação de uma dose de imunização para qualquer doença leva 10 anos. Para János, a pressa pela vacina do coronavírus é explicada pela gravidade da situação. “Outras vacinas, como a H1N1, tiveram esse tempo para elaboração. Não bateu esse desespero de agora porque não foi tão agressivo”.
Metrópoles