Maestro Julião Marques e a criação da Orquestra de Câmara da Ufal
Filho de Vicente Rodrigues da Silva, um carteiro dos Correios e Telégrafos, e Zenaide Marques Silva, Antônio Julião Rodrigues Marques nasceu em Palmeira dos Índios, Alagoas, no dia 5 de junho de 1943.
Concluiu seus estudos primários no Grupo Escolar Almeida Cavalcante. Como pretendia aprender a tocar piano, aos nove anos de idade seus pais tentaram sua matrícula no Colégio Cristo Redentor, que era voltado para estudantes do sexo feminino.
As freiras não permitiram e Julião teve mesmo que iniciar o ginasial no Colégio Pio XII, ainda em Palmeira dos Índios. Sem acesso ao piano, começou a estudar acordeom com D. Lourdes Neves, mãe do futuro pianista e médico Eugênio Pacelli Neves Rocha.
Somente quando tinha 12 anos de idade foi aceito no Colégio Cristo Redentor, onde se destacou nas aulas de música ao ponto de ser convidado pela professora, Irmã Salésia, para ajudá-la na disciplina. Lá, passou a ter também aulas de piano.
Entre 1956 e 1960, como a Banda de Música de Palmeira dos Índios não tinha instrumentos para ele, se incorporou ao grupo como copista das partituras.
Garanhuns
Estudou o Científico em Garanhuns entre 1960 e 1962, no Colégio Diocesano. Aprovado no vestibular em Caruaru no ano de 1963, lá iniciou seus estudos superiores em Filosofia, o que lhe deu condição de já ensinar nas unidades do segundo grau de Garanhuns.
Assim, ainda em 1963, passou a ser professor “a título precário” de História e Geografia em cinco dos seis colégios locais: Colégio Estadual, Colégio Municipal, Colégio Santa Sofia, Colégio XV de Novembro e Diocesano. Somente não lecionava no Colégio Industrial.
Além disso, liderava o Conjunto Nouvelle Vague, que fez muito sucesso na época. Além disso, promovia shows com artistas de projeção nacional em Garanhuns. “Eu aproveitava os artistas que vinham para o Programa Você Faz Show, comandado por Fernando Castelão no Canal 2, TV Jornal do Comércio em Recife, no domingo à noite, e os contratava para apresentações aos sábados no Cine Jardim, com 1.400 poltronas.
Em seguida, o artista era levado para animar o baile da Associação Garanhuense de Atletismo (AGA).
No início de março de 1967, no primeiro dia de aula do Colégio Santa Sofia, conheceu Suzana Orico, aquela que meses depois passaria a ser sua esposa. Casaram-se no dia 25 de dezembro daquele ano.
São Paulo
Como o seu sogro era construtor de usinas de açúcar e havia se transferido para São Paulo, onde havia a ampliação do parque industrial deste segmento produtivo, foi convencido por ele a também tentar a vida na cidade que melhor lhe remuneraria por um trabalho artístico ou intelectual.
Deixou a esposa provisoriamente com o seu pai em Palmeira dos Índios e numa kombi carregada de livros viajou para o Sudeste. Deixou sua terra natal no dia 28 de setembro de 1968.
Na capital paulista, visitou faculdades em busca de emprego. Numa delas, a Faculdade Santana, conheceu o professor e escritor Celso Antunes. Conseguiu trabalhar na secretaria daquela instituição, mas sem vínculo empregatício.
Foi Celso Antunes quem, em 1969, o convenceu a concluir o curso superior, aproveitando as disciplinas pagas em Caruaru. Escolheu o curso noturno de Sociologia da Faculdade Santana, que tinha a área de humanas organizada na Faculdade Therese Martin. Era agregada à USP. Concluiu sua graduação em 1971.
Para pagar as contas da família, que em 10 de março de 1969 havia sido ampliada com o nascimento de Ana Paula da Silva Marques (depois vieram mais cinco filhos), trabalhava durante o dia como revisor na Padilla Indústrias Gráficas S/A, na Vila Prudente.
Meses depois se transferiu para a Ford, do outro lado da avenida onde se situava a gráfica. Na montadora norte-americana trabalhou como agente administrativo.
Em 1º de dezembro de 1972 foi admitido como Assistente-Técnico da Fundação Centro Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal para a Formação Profissional (Cenafor). Esta Fundação havia sido instituída pelo Decreto nº 65.322, de 10 de outubro de 1969.
No final de 1973 foi aprovado em primeiro lugar no concurso para professor de Sociologia Pura da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, a PUC.
Ressurge o músico
Em 1973, como precisava tratar de sua filha e os recursos obtidos como funcionário da Ford não eram suficientes para adquirir os medicamentos, Julião Marques refletiu: “Deus me deu um dom que eu estou abandonando”. Decidiu então que poderia melhorar a situação tocando na noite paulistana.
Procurou a Casa Mannon, na Rua 24 de Maio, em busca de um acordeom. Não encontrando nenhum instrumento que coubesse no seu orçamento, descobriu no fundo da loja alguns órgãos elétricos que começavam a circular no meio musical brasileiro.
Encostou em um deles e logo estava tocando e sendo observado por alguns curiosos, entre eles o proprietário, sr. Milo Zanni. Ele gostou do que ouviu e o convidou para voltar outras vezes. Julião descobriu depois que quando começou a tocar lá, o proprietário dispensou o músico que pagava para atrair clientes com a música dos seus instrumentos.
Não guardou mágoas. Foi o mesmo sr. Nilo quem o orientou a procurar uma das casas noturnas da Rua Major Sertório para encontrar um trabalho. Lá entrou na La Vie en Rose e fez contato com o pianista buscando saber se alguém por ali precisava contratar um músico.
Na noite seguinte foi levado até a Boite Pepito’s, onde começou a tocar recebendo CR$ 6,00 por noite. Uma passagem de ônibus em São Paulo custava R$ 0,70.
Para o seu azar, ou sorte, na primeira noite o restaurante foi fiscalizado pela Ordem dos Músicos e multado. Julião não tinha a carteira daquele órgão de classe.
Para viabilizar este documento, foi à OMB no Rio de Janeiro para se submeter a uma prova. Lá, para sua surpresa soube que o presidente da entidade era o pianista Giuseppe Mastroianni, um caruaruense com quem tocou algumas vezes em Recife.
Foi o próprio Giuseppe que o inquiriu sobre conhecimentos musicais. “Ele me disse que tinha que fazer aquilo para que todo mundo visse que estava cumprindo com o protocolo, mas que sabia das minhas habilidades. Disse a ele que compreendia a situação. O importante foi que saí de lá com minha carteira de músico”, lembrou Julião.
Voltou a tocar na Pepito’s e assumiu com o proprietário o compromisso de pagar a multa provocada por sua falta de habilitação. Juntou o dinheiro e quando foi entregar ao sr. Jairo, ele riu e disse que não precisava. Na verdade mudara de posição por perceber que Julião atraia clientes para a casa.
Rio Grande do Norte
Em 20 de fevereiro de 1975, Julião Marques foi designado pelo Cenafor como Diretor Executivo Regional do Centro de Educação Técnica do Nordeste (Cetene), em Natal, Rio Grande do Norte. Tomou posse oficialmente no dia 3 de março daquele ano.
Na verdade fazia uma intervenção no processo de construção dos 11 blocos da Cetene no bairro Lagoa Nova.
A obra, que custou Cr$ 1.3 milhão, contava com o apoio financeiro do Ministério de Educação e Cultura (Diário de Natal de 22 de julho de 1975), estava muito atrasada. Os pagamentos já haviam sido efetuados à construtora, entretanto os edifícios ainda estavam nos alicerces.
Assumiu, demitiu 19 pessoas e a obra rapidamente foi retomada e inaugurada no mesmo ano, em 19 de novembro, com a presença de 400 convidados de vários estados do país.
No mesmo dia em que a nova sede da Cetene foi entregue ao público, às 17 horas, ocorreu em suas instalações a reunião da Coordenação Regional para o Desenvolvimento das Unidades de Educação do Ensino Superior do Norte e Nordeste do Brasil (Cordene).
Na cerimônia de inauguração estavam presentes diretores das Escolas Técnicas e Reitores das Universidades do Nordeste. Alagoas se fez representar pelo prof. João Azevedo, vice-reitor da Ufal. O reitor, que não pôde viajar, era o prof. Manoel Ramalho.
Foi neste evento que Julião Marques conheceu João Azevedo, que o procurou para elogiá-lo pelo trabalho e por saber que era um alagoano, filho de Palmeira dos Índios.
Após voltar a São Paulo, no dia 6 de janeiro de 1976, Julião reassumiu suas funções e sempre que João Azevedo ia à capital paulista, pedia o seu apoio. Assim nasceu a amizade que determinaria a sua volta a Alagoas.
Em novembro de 1979, João Azevedo foi confirmado como Reitor da Ufal e uma das suas primeiras iniciativas foi convidar o amigo que estava em São Paulo para assumir o cargo de Diretor Geral do Departamento de Pessoal. Julião tomou posse na Ufal no dia 14 de dezembro de 1979.
Na Espanha
No início de 1976, Julião fazia mais uma noite na Boite Pepito’s quando foi abordado Irupê Teixeira Rodrigues, saxofonista do lendário conjunto The Jordans (Blue Star e Tema de Lara foram seus maiores sucessos nos anos 60). Havia sido indicado por um primo, que era amigo do renomado músico.
Irupê, que continua em atividade como maestro do Raça Negra, explicou a Julião que os Jordans tinham perdido novamente Aladin (Romeu Montovani Sobrinho), seu principal arranjador e responsável por escrever as partituras, e que precisavam dele no grupo para cumprir este papel.
Julião Marques recorda que participou de duas excursões com os Jordans pela Europa. Na segunda delas, aproveitando férias acumuladas no trabalho, estiveram em 19 países, entre eles a Espanha. Fizeram dois shows na cidade de Barcelona.
Na noite de folga, resolveram se divertir em uma das afamadas boates da “capital” da Catalunha. “Para nosso azar, e sorte minha, quando entramos no recinto, o pianista estava se levantando para ir embora. Fui até o bar e perguntei se ainda haveria alguma apresentação musical. Soube que aquela havia sido a última. Diante da minha expressão de decepção, o barista me perguntou se gostava de música ou era músico. Ao saber que eu gostava de música e era músico, me entregou a chave do piano”.
Após mais de uma hora de música, Julião se preparava para encerrar quando um cidadão arrastou um banco para perto dele e se identificando como também brasileiro. Era o deputado federal pernambucano Joaquim Coutinho, que a partir de março de 1976 havia assumido a presidência da Comissão de Relações Exteriores da Câmara e era adido cultural na Espanha.
Era um estudioso das relações internacionais e, em 1962, já havia ocupado o cargo de adido cultural do Brasil em Túnis, Tunísia.
Naquela noite acompanhava um grupo de autoridades espanholas e ao perceber que era um conterrâneo ao piano executando as músicas que faziam sucesso à época, lhe pediu para tocar músicas brasileiras.
“Eu falo muito bem da nossa música a essas pessoas e gostaria que você desse uma mostra delas a eles”, solicitou educadamente o parlamentar pernambucano.
Julião lembra que propôs tocar Bossa Nova e começou por Garota de Ipanema, a magistral obra de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, que desde 1962, quando foi lançada, percorria o mundo.
Após seis músicas, Joaquim Coutinho voltou ao palco e informou que os seus amigos estavam encantados com a performance do alagoano e praticamente o intimou a esticar a apresentação e foi enfático: “Ninguém vai deixar você sair agora”.
Motivado pelo bom acolhimento, o organista dos Jordans esmerou-se nas apresentações ao piano. Em um dos intervalos o adido cultural lhe perguntou se não tinha pensado em aprimorar seus conhecimentos musicais em um curso de regência.
Foi assim que recebeu o convite para comparecer horas depois, no meio da manhã, ao Consulado-Geral do Brasil. De lá foram até a Universidade Autônoma de Barcelona, onde, após um rápido teste, Julião Marques foi admitido no curso de Doutorado em Regência, que concluiu em 4 de julho de 1977 com a tese: La dialéctica de la música instrumental: “El império de la música pura”.
“Fui informado que as aulas começariam no dia seguinte. Em companhia do deputado Joaquim Coutinho voltei ao hotel e comuniquei à banda o que tinha acontecido. Depois de muita conversa eles me estimularam dizendo que essa era uma chance única na vida de músico e que eu deveria aceitar o curso”, rememorou. Teve ainda que propor as adaptações musicais para o conjunto continuar a excursão sem ele.
Como tinha contrato com o Cenafor em São Paulo, conseguiu o afastamento do trabalho, sem remuneração, com o Dr. Pedro Karan Zuquim, Diretor Geral daquela fundação.
Passou a viver da bolsa que lhe foi ofertada. Viajava ao Brasil de dois em dois meses para visitar a família em São Paulo.
Após concluir o curso em julho de 1977, Julião voltou ao Brasil e reassumiu suas funções no Cenafor, onde foi promovido a Gerente de Divisão Técnica em novembro de 1979.
Nesse período foi também regente do Madrigal Cantochão de Jundiaí, em São Paulo.
Julião Marques, já nos anos da década de 1980, também concluiu o Mestrado em Sociologia Política na PUC de São Paulo.
Voltou a morar em Alagoas no final da década de 1970, atendendo ao pedido do amigo João Azevedo, recém-nomeado reitor. Julião Marques assumiu o cargo de Diretor Geral do Departamento de Pessoal da Ufal em 14 de dezembro de 1979. Deixou São Paulo e um salário de Cr$ 82.651,00 para voltar a sua terra recebendo Cr$ 51.798,00.
Em 1987, divorciou-se de Suzana Orico. Voltou a casar-se somente em 1994. Sua atual esposa é Maria Goretti Cerqueira de Medeiros Marques, também servidora da Universidade Federal de Alagoas.
Orquestra de Câmara da Ufal
Entre os inúmeros desafios propostos pelo reitor, Julião tinha que lidar com as limitações técnicas do sistema de pagamento dos servidores, que era controlado pelo Ministério da Educação em Brasília, o que o forçava a viajar duas vezes por mês à capital federal para levar a folha de pagamento e, posteriormente, os comprovantes dos devidos pagamentos.
Foi numa dessas voltas de Brasília que, em julho de 1980, sentou-se ao lado do advogado e professor Benedito Lins de Oliveira, que não conhecia até então. Entabulou conversa com ele e descobriu que era professor da Escola Técnica Federal de Alagoas e membro da Orquestra vinculada à Fundação Teatro Deodoro, onde era violoncelista.
Ainda no Boeing 737, naquela sexta-feira, Julião Marques e Benedito Lins amadureceram a ideia de criar uma Orquestra Sinfônica na Ufal e marcaram uma reunião com alguns músicos para a segunda-feira seguinte na Reitoria, que funcionava em um prédio da Praça Sinimbu. “Sete horas da manhã eles estavam me esperando no gabinete. Eram mais de dez músicos entusiasmados com a ideia de nos unirmos para fundar a Orquestra”.
Após os primeiros ensaios, o grupo ficou reduzido a Julião Marques; Benedito Lins; Danilo Gama, Juiz de Direito; Romeu Macedo França, médico; e o arquiteto Abelardo Jorge de Souza Cavalcante.
O projeto da Orquestra Sinfônica ficou para o futuro e, com os pés no chão, o grupo optou por constituir uma Orquestra de Câmara, por ter um número reduzido de instrumentistas.
Billy Magno, o excepcional músico de Pão de Açúcar, lembra que Benedito Lins, Romeu Macedo França e Danilo Gama já tinham participado em 1963 da fundação da Orquestra Paganini, regida pelo Maestro Manoel Passinha. Foi esse mesmo grupo que em 1976 tentou constituir a Orquestra Sinfônica de Alagoas.
Somente em 1979 foi que surgiu a Orquestra Filarmônica de Alagoas, criada oficialmente na gestão de Bráulio Leite Júnior à frente da Fundação Teatro Deodoro (FUNTED), que existiu até 1987.
Pioneiros
Em suas inúmeras viagens a Brasília, Julião aproveitava sua passagem pelo MEC para solicitar a criação de cargos para os músicos da Orquestra de Câmara. “Cometi o erro de pedir as vagas para uma Orquestra de Câmara, mas já anunciando que pretendia chegar a uma Orquestra Sinfônica. Eles reagiam com cara feia”, recorda o maestro.
Ainda em 1980, mesmo sem remunerar os musicistas, a Orquestra de Câmara começou a funcionar. Contava fundamentalmente com Julião Marques e alguns músicos da Orquestra Filarmônica de Alagoas: Romeu Macedo, Danilo Gama, Benedito Lins, Abel dos Anjos, Abelardo Cavalcante, Carlos Sérgio e Joselho Rocha.
Nesse período as apresentações da Orquestra contavam a participação das pianistas Selma Brito, Rosa e Silva e Cristina Magaldi.
Nos primeiros anos os ensaios aconteciam no prédio da Associação Comercial de Maceió, em Jaraguá, ou no Colégio Santa Madalena Sofia.
Em abril de 1981, os músicos da Funted foram dispensados pelo diretor Bráulio Leite, que não aceitava esta atividade musical paralela.
Julião procurou o reitor João Azevedo e lhe apresentou a situação propondo que fosse, pelo menos formalizada a Orquestra para que ele tivesse condições de pleitear as vagas remuneradas e assim absorver os colegas demitidos da Funted. A portaria instituindo a Orquestra de Câmara foi publicada no dia 15 de abril de 1981.
Os músicos Romeu Macedo, Danilo Gama, Joás Tavares e Abelardo Cavalcante foram os primeiros a serem contratado como efetivos.
Depois de quase dois anos de tentativas, Julião conseguiu em 1983 mais algumas vagas com um amigo que tinha poderes em Brasília: “Eduardo Portela conhecia e gostava do meu trabalho musical desde São Paulo. Como ele tinha sido ministro da Educação, me orientou a quem deveria procurar e os caminhos a percorrer”.
Com os recursos garantidos, mais músicos foram contratados e ainda em dezembro de 1983 foram efetivados Abel Machado, Joselho Rocha e Carlos Sérgio, que desde 1981 participavam da Orquestra mesmo sem contrato.
Como a intenção do regente Julião Marques era a promoção da cultura musical erudita na juventude, antes das apresentações, havia explicações sobre cada música executada. Ao final, os jovens conversavam com os musicistas e também experimentavam os instrumentos.
Como não conseguia mais unir o trabalho no Departamento de Pessoal com a regência da Orquestra, consultou o então reitor Fernando Gama sobre o que escolher. “Não vou lhe dar a liberdade de escolha porque sei que você vai escolher dirigir a Orquestra e isso não é a melhor opção para quem tem que sustentar uma família”, decidiu o reitor, que também é pianista.
Em 1985, com a chegada do maestro Oswaldo Luppi, ficou evidente a necessidade de mais alguns profissionais. A Fundepes contratou então os seguintes músicos: José Ailton (violino), Jair Barbosa (violino), Dário Américo (violino), Catarina de Labourè (viola), Marcos Maciel (viola), Roberval Oliveira (violino), Ely Albuquerque (violino), Liduina Freire (violoncelo) e Almir Medeiros (Violoncelo).
Maestro Oswaldo Luppi
Antes de deixar a Orquestra, Julião Marques ficou ainda encarregado de encontrar o seu substituto.
Consultou o primeiro regente da Orquestra Sinfônica da Universidade de São Paulo (OSUSP), maestro Camargo Guarnieri, com quem tinha contato desde os tempos que morou na capital paulista.
Partiu dele a indicação do maestro argentino Oswaldo Luppi, que estava em São Paulo como exilado político. Havia deixado a Argentina após o golpe que colocou os militares no poder.
Passou a ser perseguido em sua terra por criticar o regime ditatorial, mesmo que veladamente. Era regente da Orquestra de Rosário.
No Brasil, procurou abrigo na casa do amigo e também maestro Camargo Guarnieri. Chegou a dar aulas de música em São Paulo, mas resolveu não correr mais riscos numa cidade tão ao sul.
Em 1985, chegou a ser aprovado em concurso para maestro da Universidade Federal de Minas Gerais. Guarnieri convenceu-o a desistir pelos mesmo riscos que corria em São Paulo.
A consulta de Julião Marques a Guarnieri veio a calhar: prontamente indicou Luppi para o distante Nordeste, onde estaria mais afastado da fronteira argentina, dificultando qualquer ação da repressão daquele país.
Luppi chegou a Maceió em meados de 1985. Assumiu a regência da Orquestra de Câmara e também cumpriu papel semelhante no Coro da Universidade Federal de Alagoas, Corufal, que já existia desde 1977. Permaneceu com a batuta até 1990, quando passou a ser somente professor da Universidade.
Morreu com problemas cardíacos em 1997, com 74 anos de idade, quando o avião em que viajava para o Rio de Janeiro pousava no Aeroporto do Galeão. Estava com a esposa, uma alagoana, e seu filho recém-nascido, que pretendia apresentar a seus familiares.
Almir Medeiros
Quem assumiu a Orquestra de Câmara depois de Luppi, em 1990, foi o maestro Almir Medeiros, que fazia parte do grupo desde 1984, onde chegou contratado como violoncelista.
Licenciado em música pela própria Ufal, Almir Medeiros integrava também, como violoncelista, a Orquestra Filarmônica de Alagoas e a Orquestra Sinfônica de Sergipe.
Foi em 1990 que o recém-nomeado Diretor do Espaço Cultural, professor Ismar Gatto, convidou o músico Almir Medeiros para iniciar um novo trabalho à frente da Orquestra de Câmara.
“A Orquestra praticamente não existia mais. Com seus salários defasados, por conta da inflação que era muito alta na época, os músicos de outros estados, que eram contratados pela FUNDEPES (Fundação Universitária de Extensão e Pesquisa), deixaram a orquestra, ficando a mesma com somente cinco músicos, que eram então os efetivos da UFAL. Foi me dada a tarefa de reconstruí-la a partir da inclusão gradativa dos próprios alunos formados nos cursos de extensão que tínhamos no Departamento de Artes”, relembra Almir.
Em pouco tempo, estes novos músicos já permitiam algumas apresentações. “Tivemos que elaborar novos arranjos para facilitar a execução de um grupo ainda muito novo. Foi assim que ampliamos o repertório incluindo algumas peças da música brasileira e dando vez também aos compositores alagoanos”, explicou o maestro, lembrando que esse repertório deu tão certo que as apresentações da Orquestra lotavam o auditório do Espaço Cultural.
Em 1996, Almir Medeiros deixou a Orquestra após ser aprovado em concurso para o Instituto Federal de Alagoas.
Nicolas Gosse
Teve início então a regência do maestro holandês Nicolas Gosse Vale, que incorporou a participação de cantores, alunos da Ufal.
Nicolaas Vale estava no Brasil desde 1962, quando ainda era padre e por aqui desembarcou a pedido de Dom Hélder Câmara, que lhe deu a tarefa de estudar a possibilidade do uso de música popular nas missas.
Abandonou a vida religiosa para dedicar-se aos estudos da Psicologia. Chegou a Maceió para atender a um pedido do tio de sua esposa, padre Teófanes Augusto de Barros. Veio para colaborar no curso de Psicologia do Centro Universitário Cesmac.
Gosse de afastou da regência em 1998 e voltou à Orquestra em 2001. Nesse intervalo, a maestrina Flávia Vieira assumiu sua função.
No ano seguinte, quando Gosse definitivamente deixou a Orquestra, a batuta foi entregue ao maestro Nilton Souza, que até então era o regente substituto.
A Orquestra recebeu expressivo reforço em maio de 2009, quando dez novos integrantes foram selecionados.
Eis a relação dos aprovados: Jairo Soares da Rocha Junior, Contrabaixo; Etni Rodrigues Albuquerque da Silva, Clarineta/Clarone Bb; Sivaldo Lima de Melo, Arquivista/Copista; Chaleidesá Silva de Queiroz, Flauta/Flautim; Jorge Luis Hora Pereira, Trompete Bb, Hailton Santos de Almeida, Tuba; e Nicholas Mike Queiroz de L. Coelho, Violino.
Nilton Souza
Em 2011, ainda sob a regência de Nilton Souza e contando com participação de José Alípio Martins, a Orquestra tinha 35 membros e já se aproximava da formação sinfônica. Era vinculada ao Curso de Música e à Coordenação de Assuntos Culturais da Pró-Reitoria de Extensão.
A partir de 2012, passou a ser a Orquestra Sinfônica Universitária da UFAL (OSU). Contava com 60 componentes, incluindo o pessoal administrativo, bolsistas, funcionários músicos e regentes.
Almir Medeiros voltou a dirigir a Orquestra, como maestro convidado, entre 2018 e 2019. Nesta sua passagem, sem abandonar os clássicos da música erudita universal, buscou novamente inserir peças do repertório nacional, com especial atenção especial aos esquecidos compositores alagoanos.
Nesse período, Joselho Rocha Batista, que estava na Orquestra desde 1982, assumiu a regência e nela permanece até a atualidade.