Para garantir que uma vacina seja segura e não tenha traços de um contaminante chamado endotoxina, todas as grandes empresas farmacêuticas do mundo dependem de um dos animais mais antigos do mundo. Conhecido como um “fóssil vivo”, estima-se que o caranguejo-ferradura esteja na Terra há cerca de 450 milhões de anos.
O animal tem sangue azul (literalmente), e nele é encontrado o Lisado de Amebócitos de Limulus. A substância, que só existe no caranguejo-ferradura, detecta a endotoxina e se solidifica ao ter contato com qualquer traço dela — com o líquido, é possível ter certeza que um medicamento é estéril e pode ser injetado sem perigo no corpo humano.
Em 2016, foi criada uma alternativa sintética, mas muitos países ainda não a aceitam — os Estados Unidos, por exemplo, declinaram a inclusão do rFC, como é chamado o substituto, na Farmacopeia Americana de 2020, que define os critérios científicos para remédios e outros produtos de saúde.
Por ser tão exclusivo, o sangue do caranguejo-ferradura é um dos produtos mais caros do mundo. Cada litro dele pode ser vendido por cerca de US$ 15 mil (cerca de R$ 80 mil). Para garantir que as empresas tenham acesso a ele, são capturados quase meio milhão de animais por ano — a concha é perfurada perto do coração do bicho, se colhe 30% de seu sangue, e ele é devolvido à natureza.
Porém, se estima que entre 10% e 30% dos animais acaba morrendo no processo. As fêmeas que passaram pelo procedimento também apresentam mais dificuldade em procriar. Especialistas já estão começando a se preocupar com a diminuição rápida na quantidade de exemplares da espécie.
Apesar de a produção em massa da vacina contra a Covid-19 provavelmente apresentar um baque no recolhimento do sangue azul, a revista National Geographic fez uma estimativa com os três principais laboratórios que comercializam o líquido. Para fazer 5 bilhões de doses da vacina contra o coronavírus, a quantidade necessária de sangue seria o equivalente ao que os centros produzem, juntos, em apenas um dia.
Metrópoles