Gêmeo de bebê que morreu com Covid-19 está na UTI: ‘Achei que não ia chegar na minha família’, diz mãe
Diagnosticada com Covid-19, um parto de gêmeos feito às pressas e a dor de perder um filho apenas dois dias após o nascimento. Aos 21 anos, a estudante de enfermagem Carla Vitória se divide entre o luto e a esperança de rever o outro filho, que continua internado na UTI neonatal.
“Antes de pegar [o coronavírus], achei que não ia chegar na minha família, mas chegou. E chegou no meu melhor momento”, disse a mãe dos gêmeos Benjamin e João Marcelo.
Em entrevista ao G1, na quinta-feira (14), Carla contou que os bebês nasceram no dia 2 de maio, com apenas 28 semanas. Em casa após receber alta do Hospital Universitário Professor Alberto Antunes (HUPAA), ela aguarda a recuperação de João Marcelo para poder pegá-lo no colo pela primeira vez.
“Ele está em uma sala isolado, sozinho, aí só os médicos entram lá. Estou esperando dar o tempo do vírus sair do corpo dele pra eu poder ficar como mãe acompanhante. Hoje eu só desejo meu filho com vida e saúde pra poder ficar comigo”, contou Carla.
Ela recebe ligação da médica todas as noites, com notícias do seu filho. A mãe conta que só viu Marcelo uma vez, e sem poder tocá-lo. Os médicos contaram para ela que, como o bebê é um prematuro muito extremo, a alta deve demorar. A previsão é de dois a três meses.
Até lá, fica a lembrança de um encontro rápido e cheio de protocolo. “Eles disponibilizaram capote, luvas, toucas para eu poder entrar e eu conheci o Marcelo com dois dias de vida, mas não pude ficar muito tempo. Foi bem rápido. Eu entrei, olhei e saí”.
“Quando ele for curado do vírus, eu vou para o hospital ficar com ele. No dia do parto, como eles foram muito prematuros, precisaram ser entubados logo, então eu não os vi. O Benjamin, que foi o que faleceu, só vi sem vida, num caixãozinho”, lamentou a mãe.
Diagnóstico da Covid-19
A estudante de enfermagem foi internada por causa de risco na gestação e descobriu no hospital que estava com o novo coronavírus. “É muito forte pra qualquer pessoa, eu quase morri”.
“Eu estava com os sintomas, só que eu não desconfiava que estava com o coronavírus. Eu me internei por conta da gestação, da síndrome de transfusão feto-fetal [síndrome causada por desequilíbrio no fluxo de sangue entre os bebês] e precisava fazer ultrassom a cada 48 horas, 72 horas, para poder ver como os bebês estavam”, explicou.
A mãe dos gêmeos lembrou ainda que os sintomas da Covid-19 foram muito fortes.
“Quando eu comecei a dizer que eu estava com os sintomas do vírus, eles já me isolaram e fizeram o exame em mim, aquele do cotonete (swab). Dois dias depois, saiu o resultado positivo. Eu fiquei isolada, fui para UTI, fiquei no oxigênio, precisei fazer exames que mostraram que 25% do meu pulmão foi comprometido. Depois que eu saí da UTI, dois dias depois fiz uma ultrassom e o médico viu que precisava interromper a gestação, porque um dos bebês estava sofrendo. Eu fui para a sala de parto e, na hora, houve a contaminação”, disse.
Quando ela voltou do isolamento, ficou sabendo que Benjamim havia morrido e que João Marcelo estava na UTI.
Carla fez um apelo para que as pessoas cumpram as regras do isolamento social e evitem a disseminação do vírus.
“Acho que as pessoas precisam se conscientizar. Muita gente ainda fica brincando, achando que o vírus não existe, mas por conta dele eu estou sem ver meu bebê há 12 dias”, disse.
Doação de sangue
Mãe fez campanha para doação de sangue para bebê com Covid-19 internado no HU em Maceió — Foto: Reprodução/Instagram
Nas redes sociais, Carla criou uma campanha para que as pessoas possam doar sangue para o filho. Como ela já conseguiu a quantidade que precisava, incentiva a quem quiser doar, também para ajudar aos outros bebês que estão internados no hospital.
Para doar para o bebê da Carla, é preciso ir no banco de sangue do HUPAA e informar que irá doar para João Marcelo Gonçalves Santos.
Para maiores informações, os interessados podem entrar em contato com o banco de sangue do Hospital Universitário através dos números (82) 3202-3743 e (82) 3202-5476.
Carla Vitória, moradora de Maceió, em registro da gravidez de gêmeos — Foto: Arquivo Pessoal