A falta de tempo virou tempo de sobra: uma análise comportamental
As configurações do cenário atual, mediante pandemia que assola a população mundial denotam aspectos muito importante decorrente de decisões preventivas tomadas pelos órgãos de saúde, agentes controladores do comportamento: o distanciamento social. A exposição a um ambiente físico limitado por um tempo indeterminado se configuram como pré-disposição para a emissão de comportamentos inadequados diversificados. Numa linguagem menos técnica, pode dizer que estar em casa é fator que pode desencadear problemas de comportamento como ansiedade, depressão, agressividade, estresse, procrastinação, entre outros, muitas vezes associados a um mau gerenciamento de tempo. “Ficar em casa” dá ao sujeito a sensação de ter muito tempo para usar e não saber o que fazer. O “tempo” que sempre foi vilão do mundo moderno, uma vez que as pessoas se viam limitadas, hoje mantém a posição de vilão, só que por apresentar-se em excesso. Como diminuir comportamentos disruptivos em período de quarentena?
A pandemia do corona vírus que se espalha drasticamente por todas as partes do mundo, causando dor e sofrimento e morte para muitas pessoas que são diagnosticadas com COVID-19, tem levado autoridades de saúde e chefes de estado a tomarem decisões coercitivas que impactam diretamente sobre o comportamento social. Skinner afirma que as agencias de controle fazem manejo ambientais que funcionam como estímulos antecedentes para respostas controladas por parte dos controlados. “O governo usa seu poder para “manter a paz” – para restringir comportamentos que ameaçam a propriedade e as pessoas de outros membros do grupo.” (SKINNER, 1953, p. 367). Dessa maneira, controlar o comportamento das pessoas sob comando verbal de que ficar em casa é uma maneira de prevenção, também está associado a uma premissa muito básica relacionada a sobrevivência. As pessoas automaticamente reconhece o valor reforçador de ficar em casa, pois implica em sobrevivência.
Ficar em casa pode também tornar-se aversivo para muitas pessoas, uma vez que resolver problemas, trabalhar, estudar e sair sempre foram comportamentos cotidianos e agora se veem impossibilitadas de emitir tais comportamentos. Devido a isso comportamentos ansiosos podem começar ser emitidos pois as pessoas tendo tempo de sobra em casa, não sabem lidar com essa ociosidade de ficar em casa. Conforme essa perspectiva, o “gerenciamento de tempo” é comportamento. Portanto, é produto das variáveis ambientais e, nesse sentido, pode ser analisado como qualquer outro comportamento (MICHELATOYOSHIY, 2018, s/p). considerando que nosso comportamento é controlado pelas consequências de que ele é função, passar maior parte do tempo no sofá vendo TV ou dormindo torna um ciclo vicioso com pré-disposição para desenvolvimento de comportamentos problema, como a ansiedade.
As subcategorias autocontrole, autoconhecimento, resolução de problemas e tomada de decisão dizem respeito a ações do sujeito determinadas e mantidas pelas suas consequências. Por isso também são importantes nesse processo de ficar em casa e gerenciar seu tempo, pois “quando o homem se controla, escolhe um curso de ação, pensa na solução de um problema, ou se esforça em aumentar o autoconhecimento, está se comportando” (SKINNER, 1953, p. 250). Como estratégias para lidar com o vasto tempo que agora tem disponível, faz-se importante primeiro criar uma rotina. Um cotidiano sem rotina é condição para comportamentos estressantes pois vivem na imprevisibilidade. Então aconselho preencher o dia com atividades pelas quais as pessoas tem prazer de fazer, buscando sempre aquelas produtivas. Se você gostaria de desenvolver uma nova habilidade o momento é agora. Estreitar o vínculo afetivo com familiares também pode ser uma estratégia. Elaborar planos para executar, aproveitar para conferir as vídeo aulas sobre o assunto que mais gosta, por meio dos estudos. Aproveite o tempo em casa para criar. Para elaborar um plano de vendas fabuloso para seu negócio. Favoreça um ambiente fortalecedor para você e seus familiares. Emita comportamentos produtivos que lhe trarão benefícios desde que planejado para alcançar o comportamento alvo.
Diego Marcos Vieira da Silva
Psicólogo Analista do Comportamento
CRP 15/4764
REFERENCIAS
MICHELATOYOSHIY, Shimeny; KIENEN, Nádia. Gerenciamento de tempo: uma interpretação analítico-comportamental. Psicol. educ., São Paulo , n. 47, p. 67-77, dez. 2018 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-69752018000200008&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 23 mar. 2020. http://dx.doi.org/10.5935/2175-3520.20180019.
SKINNER, Burrhus Fredcric, 1904-1990. Ciência e comportamento humano / B. F. S kinner; tradução João Carlos Todorov, Rodolfo Azzi. – 1 Ia ed. – São Paulo: Martins Fontes, 2003. – (Coleção biblioteca universal).