Quer perder peso? Você precisa de psicólogo comportamental
Lembro-me com muita clareza quando no último ano do curso de psicologia, precisávamos responder a prova onde montaríamos um plano para que um obeso perdesse peso, conseguindo manter-se motivado para tal. Foi desafiador montar esse plano, com programação para os sete dias da semana. Em quê nossa avaliação de psicologia diferia da avaliação de outros cursos com forte aporte teórico/prático mais orgânico, levando-nos a sermos profissionais habilitados para tal função? Além de motivação (operação estabelecedora), temos a função de analisar quais os arranjos contingenciais que o sujeito está envolvido e, se esses são capazes ou não de impulsioná-lo à execução do que almeja. Seguindo o mesmo raciocínio podemos responder por que o sujeito não se sente motivado para perder peso mesmo tendo dinheiro e aparelhos para isso. A motivação para emagrecer é vista como uma peça chave no sucesso do que se pretende por meio dos exercícios físicos e alimentação.
Tenho convicção de que a economia de esforço tem sido a vilã de quem deseja perder peso, pois compreende um reforçador primário natural de ordem filogenética, assim como a fome, sede, temperatura, reconhecimento social, etc. O grande desafio em questão é transformar um reforçador primário em algo que não seja tão prejudicial a sua saúde. O segredo está no AUTOCONTROLE. Não podemos nos isentar de estar expostos a tais reforçadores porque filogeneticamente precisamos deles. Precisamos, sim transformar um reforçador primário por outro, reconhecendo os limites de sua função. O autocontrole tem raízes na história de aprendizagem do sujeito, onde evoca os comportamentos já condicionados, dessa maneira, a “punição condicionada” é aliada da pessoa que sobre com a falta de controle e o “reforço condicionado” acompanha pessoas que conseguem se controlar. Mas quais variáveis implicam na falta de controle? São diversas e é nela que nós profissionais do comportamento humano atuamos; pessoas com níveis de ansiedade elevados tendem a emitir comportamentos de que fogem do seu controle, pessoas que agem por impulso também. Mas o repertório comportamental que o sujeito emite frente aos desafios pode ser treinado e trabalhado em terapia comportamental.
Manter dietas, caminhadas, evitar alguns programas, de fato, podem ser muito aversivos, à curto prazo. Porém, como bem sabemos cada pessoa possui uma história de reforçamento/punição diferente e, por assim ser, o que muitas vezes é aversivo para mim, pode não ser para você, e vice-versa. Com isso, deve-se analisar de forma mais clara como estimular contingências de reforçamento mantenedoras de cada comportamento. Envolver-se em operações estabelecedoras é primordial. Fazer uma caminhada, por exemplo, pode ser bem reforçadora desde que sendo feita em horário e companhia agradável (alguém que goste muito), manter a dieta light e/ou dight também pode ser bacana quando acrescentamos em pouquíssima quantidade decrescente o alimento que mais gostamos, ainda mais se somos elogiados por tal dieta (lembremos do comportamento molar para o molecular). A reeducação do comportamento alimentar requer técnicas de autocontrole, as quais diminuem a emissão do comportamento indesejado. Segundo Pires e Santos (2012) “É preciso que o sujeito diminua sua exposição às condições que facilitam a alimentação inadequada”. Vale ressaltar, contudo, que estar envolvido em arranjos ambientais que incentivam a perda de peso é essencial quando equiparado ao comportamento verbal encoberto (pensamento) bem estimulado e focado. Quais os programas que tem assistido? Do que seus amigos mais falam? Quais programas seus amigos mais gostam? Quais ambientes anda frequentando? O que é mais valorizado nesses ambientes?
Foque. Perder peso é muito mais que estar de bem consigo e com o mundo, seguindo padrões de beleza essencial em nossa cultura, os quais são valorizados pelas grandes ferramentas de controle social; é, antes de tudo, estar livrando-se de prejuízos para sua saúde a curto e longo prazo, pois a obesidade é vista como uma doença crônica. Doenças do coração, hipertensão, trombose, apneia, esteatose hepática, asma, diabetes, infertilidade e colesterol alto são as principais doenças provocadas pelo excesso de peso, dificuldade para respirar (apneia) talvez seja a mais preocupante à curto prazo. É evidente também que pessoas acima do peso passam por situações diversas de desconforto no meio social. A discriminação tem liderado o ranking de aversivos enfrentados por essas pessoas. Piadas de mau humor, olhar de desprezo, afastamento das pessoas, dificuldade para comprar roupa, não ser incluído na festinha dos colegas, não ser convidado para sair, não caber num espaço em que todos ficam bem acomodados, transpirar muito, bem como, ficar cansado em pouco tempo de atividade são as situações mais angustiantes enfrentadas. Sem falar na dificuldade em se relacionar com alguém amorosamente, enquanto seus colegas estão “muito bem, obrigado” com seu/sua namorado/namorada. Problemas como estes podem causar sérios prejuízos comportamentais, levando a pessoa a desenvolver sérios comportamentos-problema classificado, segundo DSM-V como transtornos mentais, dificultando, dessa maneira, seu bem estar físico e mental (comportamental). Os transtornos mentais mais associados à obesidade são transtorno depressivo maior, transtorno delirante, fobia social e transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).
Vale lembrar, também, que muitas vezes um ambiente totalmente aversivo e repressor (punidor) foram operações estabelecedoras de pessoas que resolveram levantar e mudar sua realidade melhorando sua condição de vida, mas nem sempre é assim. Nem todo mundo tem pré-disposição para agir dessa forma, e isso dependerá da história de reforçamento/punição de cada um.
Ao nível psicoterápico, no tratamento de pessoas obesas, as técnicas comportamentais que são mais utilizadas, segundo Pires e Santos (2012) são: a reestruturação cognitiva (o paciente faz uma reavaliação e correção de suas cognições distorcidas, permitindo assim que ele possa perceber que, na maioria das vezes, estava desvalorizando sua capacidade de enfrentamento de determinada situação), treino de assertividade, exposição e prevenção de respostas. Vale lembrar que estas técnicas devem ser adaptadas de acordo com cada pessoa, depois de um estudo detalhado das variáveis envolvidas no padrão de resposta do sujeito. Uma vez instalados os novos padrões de comportamento, a manutenção deve ser feita e o trabalho multidisciplinar se faz importante.
Opte por uma vida mais rica em qualidade, com hábitos gerado e mantido pelas contingências de reforçamento em um ambiente adequado, possibilitando uma imagem muito mais valorizada no meio social. Busque companhias que incentivem sua motivação; esteja em ambientes que lhe proporcionem aprendizado e mantenha seu hábito alimentar reeducado, atividades e caminhada. A psicoterapia continuada também é importante nessa nova adaptação de vida. Dessa forma, além de estar melhorando sua qualidade de vida (orgânica), tendo mais saúde, passará a ser visto com outro olhar no meio em que vive, criando condições para continuar sendo reforçador, desde que você também possua outros hábitos os quais não explorarei aqui. Aderindo a novos hábitos mais saudáveis de vida, você também estará construindo a adesão de novos repertórios comportamentais suficientes para mantê-los. As pessoas mais bem sucedidas foram aquelas as que tiveram a “capacidade de estar em ambientes com contingências adequadas para se organizar e traçar planejamentos para sair de uma situação de risco ou vulnerabilidade social” (Silva, 2012).
Diego Marcos Vieira da Silva
Psicólogo (CRP 15/4764), especializando em neuropsicologia
Atendimentos no Empresarial Norcon, Mangabeiras, Maceió-AL
Contato: (82) 999449214 / psicologodiegovieira@outlook.com
Referências:
Silva, G. A. Inteligência limitada e sua relação com a pobreza é confirmada. disponível em: < http://cadaminuto.com.br/blog/psicologia-gerson-alves/157886/2012/02/12/inteligencia-limitada-e-sua-relacao-com-a-pobreza-e-confirmada>.
SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes insaciáveis: anorexia, bulimia e compulsão alimentar. 2. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005. 272.
Pires, H. S., Santos, M, R, M. Transtornos alimentares: uma visão da análise do comportamento. Disponível em: < http://blog.newtonpaiva.br/psicologia/wp-content/uploads/2012/06/pdf-e3-14.pdf>.
HELLER, Denise Cerqueira Leite; KERBAUY, Rachel Rodrigues. Redução de peso: identificação de variáveis e elaboração de procedimentos com uma popula- ção de baixa renda e escolaridade. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva. Disponível em: . Acesso em: 7 nov. 2010.
Muito pertinente o artigo, e super recomendo esse profissional, Aliás, a cada artigo tem surpreendido! É um prazer essa leitura
Parabéns