Sororidade e respeito: as chaves de um carnaval agradável

Respeito às diferenças e sororidade são palavras-chave para um carnaval agradável e sem machismo e LGBTfobia (Pollyana Ventura/Getty Images)

O Carnaval 2020 está chegando e, com ele, muito samba, glitter, alegria, festas, bebidas, e curtição! Mas para que a maior festa do Brasil seja realmente agradável para todas as pessoas, é necessário que fiquemos atentas em algumas atitudes que podem ser bastante desrespeitosas – e saibamos como evitá-las.

Nesta época, o número de casos de assédio e importunação sexual, violência contra a mulher e contra pessoas LGBTI+ costuma aumentar. De acordo com dados registrados nos últimos anos pelo Disque 100 (Disque Direitos Humanos) e Ligue 180 (Central de Atendimento à Mulher), as denúncias de violência sexual contra crianças, adolescentes e mulheres sobem até 20% no período do Carnaval.

Além disso, no ano passado foram registradas no Brasil 141 mortes de pessoas LGBT de janeiro a maio, segundo relatório do Grupo Gay da Bahia (GGB). De acordo com a entidade, desse número, 126 foram homicídios e 15 foram suicídios. Somado a isso, um dossiê feito pela Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) e lançado no Dia da Visibilidade Trans neste ano, aponta que 124 pessoas transexuais foram assassinadas no país em 2019 que, apesar de se tratar de um ano inteiro, mostra como essa parcela da população está mais vulnerável à violência.

Seja empática com mulheres conhecidas e desconhecidas

Mulheres já correm alguns riscos ao saírem para as ruas sozinhas. Assédio, importunação sexual e violência são casos bastantes comuns e recorrentes. No carnaval não poderia ser diferente. Por isso, fique atenta ao seu redor. Se você encontrar alguma mulher sozinha, alcoolizada ou perdida, tente ajudá-la! Não custa nada indicar a ela onde fica o metrô mais próximo ou ir com ela até lá; ajude-a a procurar os amigos dela; peça um Uber ou táxi para ela e acompanhe a viagem, ou, até mesmo, vá ao banheiro com ela, se precisar. Tenha empatia!

O mesmo vale para as suas amigas mais próximas: não deixe que uma delas vá ao banheiro sozinha, ainda mais se estiver alcoolizada. Sempre tentem ficar juntas e marquem um ponto de encontro para caso vocês se percam.

Meta a colher sim! 

Se você presenciar um homem brigando com a namorada ou sendo violento com alguma mulher – assediando-a ou importunando-a – se intrometa! Você pode estar salvando a vida dela! Mas lembre-se de observar se o ambiente é realmente seguro para você, afinal, você não deve se colocar em risco também!

Por exemplo, você viu um amigo seu dando em cima de uma mulher, mas ela não parece estar muito a fim. Se ele insistir muito, chame a atenção dele e explique o porquê a atitude dele não é legal. Faça o mesmo com desconhecidas. Viu uma menina do seu lado que está “presa” em uma situação desagradável com um rapaz, puxe-a. Entre na conversa. Seja amiga dela. Pode ter certeza de que vai ajudá-la!

Se a situação estiver muito violenta, chame reforços. Peça ajuda de alguém para separar o casal que está brigando ou alguém que está maltratando um homossexual ou uma pessoa trans. Chame as autoridades e use os canais de denúncia (Ligue 180 para as mulheres e Disque 100 para casos de LGBTfobia). Lembre-se: violência contra a mulher e LGBTs é crime!

Cuidado com comentários gordofóbicos!

Mulheres gordas têm todo o direito de dançar e se vestirem da forma que bem entenderem no Carnaval. E para que elas se sintam confortáveis para se divertirem com liberdade, é preciso tomar cuidado com pequenas atitudes que podem ser gordofóbicas.

As amigas Luana Carvalho e Gabriella Morais, modelo e produtora de projetos relacionados aos direitos humanos, respectivamente, se juntaram para lançar a campanha Carnaval Sem Gordofobia. Nas redes sociais, elas publicaram um manual sobre como não ser um gordofóbico no Carnaval.

Deixe as mulheres lésbicas à vontade!

Tem uma amiga lésbica e quer curtir o Carnaval com ela? Pense em ir com ela em um bloquinho LGBT, como o Toco Xona, que neste ano irá desfilar no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, onde elas poderão se sentir mais à vontade do que em blocos sem público específico.

À pedido de CLAUDIABruna Capistrano, uma das fundadoras do Toco Xona, e outras integrantes do bloco listaram algumas atitudes que podem ser lesbofóbicas e falaram como podemos ajudar mulheres que estiverem passando por situações desconfortáveis:

  • Se você presenciar duas meninas se beijando, não peça para participar, nem peça para duas mulheres se beijarem para provar que estão juntas;
  • Não pergunte quem é o homem da relação: são duas mulheres!
  • Não peça um beijo triplo;
  • Não diga que você é uma mulher hétero, sem que tenham te perguntado. Não é só porque uma mulher é lésbica que ela quer te beijar;
  • Lute contra a “fetichização” da sexualidade lésbica e nunca se cale diante de situações como essa;
  • Não pergunte se “não está faltando algo” pois o falocentrismo está somente na cabeça dos homens;
  • Fique atenta a possíveis atitudes lesbofóbicas, principalmente se estiver com um casal de meninas.
  • Garanta que sua amiga esteja confortável no rolê (e isso vale pra qualquer mulher);
  • Lembre-se que depois do ‘não’, tudo é assédio. Ou seja, “não é não” sempre!

Respeite as pessoas trans

Não podemos esquecer, também, de respeitar as pessoas transexuais e não-binárias (aquelas que não se identificam nem com o gênero feminino, nem com o masculino). Afinal, elas têm o mesmo direito que você de se divertir.

Thomas Nader, analista de projetos da TODXS, startup social sem fins lucrativos que trabalha para empoderar a comunidade LGBTI+, também apontou algumas atitudes que são transfóbicas e que, de maneira nenhuma, devem ser aceitas:

  • Não use roupas do sexo oposto que o seu como fantasia;
  • Não fique encarando uma pessoa trans sem camiseta, não aponte e não faça comentários desagradáveis;
  • Evite ficar cantando marchas com letras transfóbicas, como “Maria Sapatão”(cujo refrão é composto pelos versos: “Maria sapatão, sapatão, de dia é Maria, de noite é João”. Além de ser transfóbico, também é lesbofóbico) e “Cabeleira do Zezé” (cujos versos dizem: “Olha a cabeleira do Zezé. Será que ele é?” e “Parece que é transviado, mas isso não sei se ele é”);
  • Falando nisso, não faça nenhuma brincadeira sobre “João que virou Maria no Carnaval”.

Nader ainda faz uma crítica às organizações de bloco de rua, que colocam banheiros químicos sem nenhuma acessibilidade para pessoas trans. “Nunca nos sentimos confortáveis em banheiros químicos sem nenhum segurança por perto, sempre tem algum maluco pronto para bater”, afirma.

Além disso, a TODXS preparou uma cartilha com informações importantes para garantir a segurança da população LGBTI+ e separou algumas sugestões de como agir em caso de ameaça ou situação de violência:

  • Tenha sempre um amigo sóbrio no rolê que possa identificar a gravidade de uma situação e reagir de acordo;
  • Não deixe seus amigos desacompanhados. Faça questão de não deixar ninguém ir para casa sozinho;
  • Se você for vítima ou presenciar alguma situação de risco ou ameaça, denuncie!
  • Saia da situação de risco ou ameaça e ajude outros a encontrar um local seguro;
  • Faça uma lista com as informações das pessoas que presenciaram a situação, anotando nomes, endereços e telefones;
  • Reúna informações que auxiliem identificar o agressor, como características físicas e trajes;
  • Sendo possível, fotografe, filme, grave em áudio elementos que possam comprovar o ocorrido;
  • Registre um Boletim de Ocorrência (BO) na Delegacia de Polícia mais próxima;
  • Denuncie em canais de apoio, como o App da TODXS, Disque Direitos Humanos (#100), Ministério Público Federal, Central de Atendimento à Mulher (#180), Polícia Militar (#190), entre outros. Observe que cada Estado poderá ter um órgão de proteção e denúncia específicos.

Priorize ambulantes mulheres!

Nos bloquinhos de rua, é sabida a infinidade de ambulantes vendendo bebidas, comidas e até acessórios de Carnaval. Que tal priorizar as ambulantes mulheres? Muitas estão ali trabalhando horas a fio para conseguir uma renda extra. Priorizá-las também é uma forma de empoderá-las! Pense nisso.

Falando em ambulante, viu alguma sendo maltratada por alguém? Se posicione e chame reforços se necessário! O mesmo vale para moradores de rua. Como os bloquinhos são eventos públicos, é comum vê-los participando também. Se você assistir algum pessoa nessa situação sendo agredido – principalmente se for mulher ou trans – ajude-o e chame as autoridades! O disque 100 também pode ser útil para denunciar a ocorrência. E se ele te pedir dinheiro ou comida, não custa nada ajudar, não é mesmo?

Se cuide e cuide de quem você ama!

Por último, mas não menos importante, tome alguns cuidados pessoais! Vai transar com alguém? Use camisinha! A preocupação em se prevenir de doenças sexualmente transmissíveis deve existir no ano todo, mas no carnaval se intensificam as campanhas do Ministério da Saúde para o uso do preservativo.

Segundo relatório divulgado no ano passado pela Unaids, programa das Nações Unidas sobre o HIV, o Brasil teve um aumento de 21% no número de infecções pelo vírus entre 2010 e 2018. Logo, não se esqueça de se proteger!

Além disso, prefira levar bebidas em garrafas de plástico ou latinhas, assim você evita algum acidente grave com vidros. E não se esqueça de jogar o lixo no lixo! Se não tiver nenhuma lata perto de você, segure ou guarde até encontrar uma. Grande parte desse lixo vai para os bueiros, o que pode causar alagamentos.

O ideal é levar o seu próprio copo (de plástico que não seja descartável ou metal) para evitar descartes excessivos. E uma boa ideia, também, é levar copos com tampa, para evitar que uma pessoa má intencionada coloque alguma substância ilícita em sua bebida! Dê a mesma dica para suas amigas!

Como nos bloquinhos há poucas opções de banheiro limpo – na verdade, a maioria só tem banheiros químicos usados por várias pessoas –, leve um lenço umedecido ou de papel para garantir que você vai conseguir se limpar. Se puder, leve um álcool em gel de bolso para higienizar suas mãos após o uso. E se alguma menina te pedir um emprestado, não hesite em dar. Ela vai precisar e você estará ajudando-a.

Por fim, lembre-se que essas atitudes não valem apenas para o carnaval e, sim, para o ano todo, para toda a vida. É preciso ter respeito às diferenças para que consigamos viver em harmonia e, quem sabe, em um mundo mais inclusivo, positivo e melhor!

 

 

Fonte: Cláudia

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