Mourão recupera espaço no Planalto com novos cargos

O presidente Jair Bolsonaro resgatou o protagonismo do seu vice, Hamilton Mourão, escalado na semana passada para assumir o Conselho da Amazônia e a Força Nacional Ambiental, destaca o jornal O Estado de S. Paulo. Interlocutores viram neste movimento e no convite à atriz Regina Duarte para assumir a Cultura uma tentativa de dar espaço no governo a nomes mais moderados dentro do grupo político do presidente. Eles ocupam funções de integrantes da “ala ideológica”, alvos de críticas nas últimas semanas.

00As indicações de Mourão e Regina seriam respostas às crises provocadas pela repercussão do desmatamento da Amazônia, que chegou a ser discutido no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na semana passada, e à publicação de um vídeo de inspiração nazista que derrubou o secretário de Cultura Roberto Alvim no último dia 17.

Mourão estava afastado das conversas decisórias do governo. Em abril do ano passado, ele foi criticado nas redes sociais pelos filhos do presidente e o escritor Olavo de Carvalho, que o acusavam de jogar contra Bolsonaro. O presidente chegou a confidenciar a parlamentares que “casou” errado e preferia ter dividido chapa com o deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP).

Ao oferecer dois novos postos para seus vice, Bolsonaro tinha consciência que entregava também parte dos “holofotes”. O que antes era motivo de preocupação do clã Bolsonaro virou moeda de troca na disputa velada com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, cuja popularidade é maior que a do presidente e, na semana passada, protagonizou um debate com Bolsonaro sobre a organização da sua pasta. Assessores também ressaltam que a Casa Civil, do ministro Onyx Lorenzoni, abandonou a tradição de coordenar ações interministeriais, algo que o Conselho da Amazônia terá que fazer.

Bolsonaro aproveitou um encontro de ministros no Palácio da Alvorada no último dia 21 para tirar seu vice da “geladeira”. No encontro no Alvorada, Bolsonaro ouviu análises do impacto negativo da atuação do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, para exportadores e anunciou a criação dos novos órgãos ambientais. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, vinha alertando o Planalto que as ações de Salles prejudicavam os setores de grãos e carne. Houve reclamações sobre o esvaziamento de órgãos de fiscalização do meio ambiente.

Durante a reunião da semana passada, segundo pessoas que estavam presentes, Bolsonaro abriu espaço para Mourão se posicionar. “Eu acho que essa é uma tarefa que posso assumir”, disse o vice, sobre os novos órgãos da Amazônia. “Está decidido”, afirmou Bolsonaro na sequência. Interlocutores do governo observam que Mourão construiu uma imagem de equilíbrio junto a setores diversos.

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