Chefe do Petrolão: Lula ainda vê no espelho um reizinho do Brasil

Em 2003, ao sair de uma audiência com o presidente da República, Marilena Chauí parecia estar saindo de uma crônica de Nelson Rodrigues: estava varada de luz feito um santo de vitral. Voz de cambono de terreiro de macumba, a professora de Filosofia da USP comunicou aos jornalistas a visão que tivera durante a conversa com um analfabeto funcional: “Quando Lula fala, o mundo se ilumina!”, avisou. Como apenas Marilena viu a garganta do semideus do PT gerando mais energia que mil Itaipus, como a solitária espectadora do fenômeno se dispensou de descrições mais precisas, ninguém soube exatamente o que aconteceu no gabinete presidencial.

Antes e depois da audiência, os brasileiros sem avarias na cabeça continuaram enxergando o que acontece na vida real quando o palanque ambulante desanda na discurseira. Quando Lula fala, a gramática se refugia na embaixada portuguesa, a ortografia se asila em velhos dicionários, a regência verbal se esconde no sótão da escola abandonada, o raciocínio lógico providencia um copo de estricnina sem gelo, a razão pede a proteção da ONU para livrar-se de outra sessão de tortura e os plurais saem em desabalada carreira, fora o resto.

Há poucos dias, em entrevista concedida a um jornalista de estimação, a descoberta de Marilena foi novamente revogada por Lula. Irritado com o avanço do processo de privatização, o meliante duplamente condenado em duas instâncias por corrupção e lavagem de dinheiro exigiu o imediato afastamento de Paulo Guedes. “O que faz o ministro da Fazenda?”, pergunta no começo do falatório. (Nada, poderia ter alertado o entrevistador. Quem faz ou deixa de fazer é o ministro da Economia. O ex-presidiário talvez não saiba disso porque estava na cadeia quando o ministério mudou de nome).

“Você não vê ele dizê (sic) a palavra crescimento, a palavra desenvolvimento”, prossegue o Exterminador do Plural. (Só Lula vê o que alguém diz. O resto ouve). “Ele só fala em vendê (sic): eu quero vendê, eu quero vendê, eu quero vendê (sic, sic e sic). Ele deveria sê (sic) presidente, sabe, de uma associação de mascate (sic) e nunca sê (sic) ministro da Fazenda (sic)”. Porque ele não tem criatividade, ele não pensa, ele não pensa no Brasil. Ele só pensa em vendê (sic), como é que pode? Quando vendê (sic) tudo, onde é que a gente vai arrumá (sic) dinheiro?”

O motivo do chilique está na última frase. Contra todas as evidências, Lula imagina que um dia será presidente de novo. Se todas as estatais forem vendidas, como tentar fazer o que fez antes do advento da Lava Jato? Como ficar mais rico e, simultaneamente, financiar campanhas eleitorais bilionárias sem exercer o ofício de camelô de empreiteira? Usando empresas vinculadas ao governo, ele comandou a montagem do maior esquema corrupto de todos os tempos. Com o sumiço dos cofres federais, como superar o recorde de ladroagem estabelecido pela quadrilha do Petrolão?

O Lula se enfurece com quem defende a privatização da Petrobras não por achar que o petróleo é nosso, como são nossos os Correios, a Casa da Moeda ou a Eletrobras. Como ainda enxerga no espelho o reizinho do Brasil, acha que é tudo dele.

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