Uma vez cesárea, sempre cesárea? São benéficas para mãe e para o bebê?
Gestantes devem estar cientes dos riscos e problemas. Na maior parte da Europa e Ásia, um quarto dos bebês nasce por cesariana. Na Alemanha, essa proporção é de um terço. Já o Brasil é o segundo país do mundo em número de cesáreas, com um percentual acima de 50%.
Quais são os riscos da cesariana para a criança?
Um estudo da operadora alemã de planos de saúde Barmer mostrou que, na Alemanha, muito poucas mulheres optam pela cesariana por esse parto ser mais fácil de planejar e se encaixar melhor no cronograma. A maioria está preocupada com o bem-estar da criança que vai nascer.
Elas dizem querer poupar o bebê do estresse de um parto normal. Mas as contrações e o processo do parto são até mesmo bons para o novo terráqueo, ajudando o bebê a adaptar seu metabolismo. No útero, os pulmões da criança estão cheios de água. Esse líquido é pressionado apenas durante o nascimento, e os pulmões passam a respirar.
A cesariana impede esse processo gradual, surpreendendo praticamente a criança com o nascimento e, em certo sentido, assustando-a. Por isso que os bebês costumam ter problemas após uma cesárea e precisam receber oxigênio ou até mesmo ir para a UTI. No longo prazo, o risco de asma, diabetes, alergias e outras doenças autoimunes aumenta em crianças nascidas por partos cesarianos.
Que riscos corre a mãe após uma cesariana?
A cesárea planejada do primeiro filho não é mais um problema em países com um bom sistema de saúde. As dificuldades surgem, geralmente, apenas após a cesariana. O risco de um deslocamento perigoso da placenta aumenta a cada intervenção desse tipo. Posteriormente pode haver também mais sangramentos, tromboses e aderências.
A cada cesariana, o parto se torna mais perigoso para a mãe. Isso é particularmente problemático em regiões onde as mulheres tradicionalmente têm muitos filhos.
Uma vez cesárea, sempre cesárea?
Mesmo que a gravidez transcorra sem dificuldades, problemas podem surgir após uma cesariana. A cicatriz pode se abrir devido aos esforços expulsivos durante um futuro parto normal. No entanto isso raramente acontece. Passados mais de dois anos entre os nascimentos, o risco é menor que 1%.
Após uma cesariana, um segundo parto normal é possível, desde que tudo esteja bem com a criança e a mãe.
Também gêmeos e crianças em apresentação pélvica (nádegas saindo primeiro) podem nascer por parto vaginal. O mais importante é uma boa equipe de médicos e os cuidados de uma parteira experiente.
A indução do parto é um problema?
Hoje as mulheres dispõem de menos tempo para o parto do que no passado. Sem um motivo válido elas frequentemente recebem uma infusão para provocar contrações imediatamente após a admissão no hospital. Se o colo do útero não dilata pelo menos um centímetro por hora, muitos obstetras ficam nervosos. O parto é então acelerado.
Além disso, o número de parteiras caiu drasticamente, pelo menos na Alemanha. Embora exista uma proporção vinculativa entre o número de enfermeiros e pacientes, no caso das parteiras, cada hospital pode decidir quantas contratar. A atenção individual que dá à mulher uma sensação de segurança durante o parto está se tornando cada vez mais rara.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) também reconheceu essa tendência e está recomendando, em suas novas diretrizes para o parto, menos intervenções e melhores cuidados.
As maternidades têm vantagens financeiras com uma cesariana?
Na maioria dos países, as cesáreas custam mais do que os partos normais. Também na Alemanha, um médico pode cobrar cerca de mil euros a mais por uma cesariana do que por um parto vaginal. Mas, como intervenção também custa mais ao hospital, no fim das contas não vale a pena.
Por outro lado, as cesarianas são mais fáceis de planejar e, portanto, mais eficientes. Esse é um fator importante para os gestores de um hospital, que visam, acima de tudo, obter lucro.
Como na Alemanha a obstetrícia é, de forma geral, mal remunerada, rendendo muito pouco aos hospitais, quase metade das maternidades do país foi fechada desde os anos 1990. E essa tendência continua, apesar do aumento das taxas de natalidade.
Em quais países se realizam muitas cesarianas?
O Brasil ocupa o segundo lugar no mundo em número de cesáreas, com uma taxa de acima de 55% do total de partos. Na América Latina, região com maior taxa de intervenções (44,3%) do mundo, o país perde somente para a República Dominicana (58,1%), segundo estudo de 2018.
Por outro lado, em muitos países da África Subsaariana essa taxa é extremamente baixa. Os Estados com os menores números de cesáreas são o Níger, Chade, Etiópia, Burkina Faso e Madagascar, abarcando menos de 2% do total de partos.
Qual taxa de cesáreas é “boa”?
A OMS recomenda uma taxa de cesáreas entre 10% e 15%. Em média, isso corresponde ao número de nascimentos em que há complicações que uma cesariana pode eliminar, salvando vidas.
Um estudo da Organização Mundial da Saúde comparou como bebês vêm ao mundo em 137 países. A pesquisa mostrou que apenas 14 dos países analisados atendem às diretrizes da OMS. Entre eles estão, por exemplo, Ucrânia, Namíbia, Guatemala e Arábia Saudita. Em todos os demais países, o bisturi é usado ou com frequência excessiva (por exemplo, na Alemanha, no Egito, na Turquia, nos EUA e no Brasil) ou insuficiente.
Uma das constatações mais dramáticas da pesquisa é que os países com as maiores taxas de natalidade apresentam os menores números de cesarianas. Isso se deve, principalmente, às condições financeiras: os Estados com as menores taxas de cesáreas também estão entre os mais pobres do mundo.