Quem é Bruno Rocha, mais conhecido como Hugo Gloss?

Durante a entrevista Bruno Rocha mostrou-se sério, compenetrado e obstinado. A combinação de características garantiu, em parte, o sucesso do CEO (como ele define sua posição) de 32 anos, que está à frente de uma potência da comunicação de entretenimento – incluindo site, redes sociais e participações em programas de TV. A postura ao vivo realmente difere da personalidade descolada e divertida da internet, mas isso não significa que o que você vê nas telas seja mentira. Pelo contrário, o bom humor é regra e chamariz para os mais de 12 milhões de seguidores que ele tem no Instagram.\

Bruno, no entanto, difere de muitos influenciadores digitais porque não usa a comédia para mascarar apurações rasas e incertas. “Sou formado em comunicação e estou estudando o tempo todo. Nunca chego despreparado para uma entrevista ou evento”, conta ele, que cursou jornalismo e letras e fez pós-graduação em comunicação na Espanha.

“Mesmo assim, ainda existe preconceito. As pessoas generalizam, acham que não é profissão. Eu já ouvi: ‘Ah, você é aquele cara que escreve sobre famosos’.” Não que Bruno se importe com esse tipo de comentário. Afinal, seu tempo está praticamente todo ocupado – lidera uma equipe de dois editores, cinco redatores, além dos setores de finanças e judicial. Essa estrutura é mantida de maneira remota, cada um em um estado diferente. “Odeio escritório. Quando trabalhava fixo, achava desgastante aquelas 50 reuniões que podiam ser resolvidas com um e-mail. Hoje só ajudaria ter um espaço para diminuir o número de pacotes que enchem a sala da minha casa”, diz sobre os presentes e as amostras que recebe das marcas.

Bruno leva essa vida digital desde muito antes de o Brasil ter pelo menos um smartphone por pessoa. Em 2007, ele criou um perfil no Twitter com o nome Christian Pior (igual ao personagem de Evandro Santo no Pânico na TV). A rede estava se tornando popular, atraindo celebridades, virando assunto de reportagens na TV, e os seguidores de Bruno cresceram. Ele comentava programas brasileiros que assistia num aplicativo lá de Barcelona, onde morava na época. “Sempre amei televisão e tenho boa memória, então fazia referências, colocava conteúdo nas análises”, lembra Bruno, que sonhava em ser autor de novelas.

Em 2009, para evitar confusões do público com o Christian Pior interpretado por Evandro, mudou o nome da sua conta. “Christian Pior vem de Christian Dior, é uma piada. Então fiz uma lista desses trocadilhos com marcas. Tinha Dolce me abana, Donatello versátil”, conta. Mas foi Hugo Gloss que venceu a disputa e caiu no gosto das pessoas.

Pouco tempo depois, o perfil de Bruno foi descoberto por Luciano Huck, apresentador do Caldeirão do Huck, um dos favoritos do blogueiro. Sem timidez, Bruno pediu ao carioca uma vaga em sua equipe e tornou-se redator na Rede Globo. “Realizei o sonho de andar de carrinho de golfe no Projac”, diverte–se. Seu primeiro trabalho foi assistir a todos os episódios do Caldeirão e preparar um material especial para o aniversário de 10 anos. “São 52 programas por ano. Via as fitas e transcrevia as partes mais legais. Era cada pérola. Eu virava madrugadas, mas amava”, lembra.

No tempo livre, tocava suas redes sociais. Em 2013, com a ajuda de um amigo, lançou o site para poder publicar conteúdos maiores. Escrevia pelo menos dez notinhas por dia. A dedicação rendeu convites para participar de festas, pré-estreias e viagens. “Algumas ações pagavam até três vezes meu salário, mas demorei a abrir mão do programa porque mantinha uma relação de afeto e carinho”, conta. Só três anos depois escolheu seguir com o próprio negócio.

“Virou meu filho, que cresceu e ganhou o mundo. Agora eu sou mãe de criança grande, mas, mesmo com mais funções, não tiro o olho das outras tarefas.” O lado empreendedor o levou a momentos históricos. Foi um dos seis jornalistas que estiveram presentes na coletiva dada por Beyoncé no Brasil, em 2013. Entrou ao vivo direto do tapete vermelho do Oscar, em Los Angeles, pela GNT – ele recebera o convite apenas um dia antes. “Fui com a cara e a coragem. Eu repetia para mim mesmo: ‘Finge que é só um vídeo no Snapchat’.”

Nesse percurso, os sucessos são muitos, mas é claro que erros também ocorreram. No início, o conflito foi com a TV Globo. Ele percebeu, ainda dentro da emissora, que não poderia comentar alguns programas como antes. “Não era ético criticar o produto da casa. Comecei a pegar mais leve. E acho que a empresa também se adaptou, porque era uma situação nova para ambos os lados”, diz.

Recentemente, Bruno teve sua conta no Instagram retirada do ar por questões com direitos de imagem. Em nota publicada no seu site, ele explicou que isso aconteceu porque algumas fotos usadas para divulgar notícias, mesmo creditadas, foram reivindicadas pelos autores. “Eu sou bastante autocrítico, mas não vejo problemas em me desconstruir, em errar. Não me levo tão a sério assim”, continua. O certinho, aliás, irrita Bruno. Ele adora situações em que a troca com o público é, como diz, mais “humanizada”. “Sabe quando o Willian Bonner dá aquela risadinha no ar?”, explica.

Ele já disse que não gosta do termo influenciador digital porque não acredita que influencia as pessoas. Também jura que não é famoso. Mas admite que às vezes é parado na rua ou no shopping pelos admiradores de seu trabalho. “Eles criam uma relação porque estou ali na tela do celular. Perguntam da minha cachorrinha, do pessoal da equipe.” Em casa, a família não estranhou esse interesse do público. “Acho que nem entenderam”, debocha Bruno. A mãe, Nailda, sempre soube que o filho tinha potencial e foi ela quem mais o incentivou nos momentos de medo e incerteza. Hoje moram longe, mas falam sempre por telefone. Ele fica no Rio e ela em Brasília.

Bruno divide a maior parte de seu tempo livre com o namorado, um advogado que evita a vida pública. Juntos há dois anos, eles ensinam muito um ao outro. “Para ele, que vive a rotina, meu mundo é leve, diferente.” Com o par, Bruno aprendeu que o relacionamento não faz parte da persona Hugo Gloss. “Tem muita gente que quer se aproximar só para aparecer; com ele foi justamente o contrário”, revela. Além disso, o brasiliense acredita que eles têm objetivos em comum, mas que não entram em competição por quem vai conquistar mais. “Não dá para dormir com o inimigo. Melhor deixar para a Julia Roberts”, brinca, em referência ao filme Dormindo com o Inimigo (1991).

Essas horas de folga dos holofotes são importantes para ele. “Sou sagitariano. Canso de tudo de repente, mas nada que uma noite de sono não cure”, conta, tranquilizando os fãs de que ele e sua equipe seguirão produzindo conteúdo por muito mais tempo.

 

 

Revista Cláudia

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