Djavan requebra e ensaia strip-tease em show do novo disco
O Djavan que se apresentou na noite de sábado (23) no lotado Espaço das Américas, em São Paulo, atravessa agora sua quinta década de produção musical. Tem repertório para construir shows que garantam uma noite fantástica. Mas a apresentação, que mostrou também muito de seu último álbum, “Vesúvio”, poderia ter sido melhor.
Não que tenha faltado alguma coisa. Todos os grandes sucessos foram entregues ao público. E esta turnê, em especial, tem potencial para ser uma das grandes da carreira do cantor, já que seu álbum mais recente é poderoso. “Vesúvio” tem doses fartas de romantismo e observações políticas.
Para quem queria apenas dançar e se emocionar com a presença tão próxima do ídolo, a noite foi incrível, mas uma análise um pouco mais exigente deixa claro que alguns arranjos não foram escolhas muito felizes.
A “culpa” é do próprio Djavan e seus discos memoráveis. Talentoso e conhecedor das minúcias da produção musical, a ponto de ter um acolhedor estúdio profissional dentro de sua casa, no Rio, o cantor tece intrincadas tramas sonoras em seus álbuns.
Mesmo que os fãs possam cantarolar as músicas, não são canções de construção simples. Com um time de bambas nas gravações, encaixa cordas, metais e outros penduricalhos preciosos para arquitetar sucessos. Mas, no show, apesar de seus músicos carregarem credenciais irretocáveis, há uma simplificação na execução.
Seus dois tecladistas fazem muitas passagens que nas gravações originais contam com mais instrumentistas. Assim, o som do teclado eletrônico dá um pouco do tom do show. Em alguns momentos, parece um grupo de baile retomando o repertório de Djavan. Um grupo de baile competentíssimo, é verdade, mas algo não soa bem.
No centro de tudo, Djavan está em ótima forma. Aos 70 anos, canta com vigor e exibe a simpatia de sempre. Começa o show meio “escondido”, com chapéu, óculos escuros e um casaco grande. Aos poucos vai tirando essas peças excessivas, e esse lento strip-tease traz uma descontração cada vez maior.
Nas músicas agitadas, arrisca requebrar o corpo, numa dança um tanto contida, mas suficiente para arrancar o carinho da plateia, que responde com gritinhos. Falou do Flamengo, campeão da Libertadores poucas horas antes, e contou algumas histórias.
A mescla do material mais recente com os hits históricos flui bem. O público vê o show se aproximar do final e vai listando as músicas “obrigatórias” que ainda devem vir. E Djavan não nega prazer aos seguidores. “Topázio”, “Esquinas”, “Samurai”, “Lilás”, estão todas ali.
As músicas são mesmo ótimas, mas o crítico ranzinza ainda pode reclamar da orientação dos arranjos. A ponto de classificar como o melhor bloco do show o momento em que Djavan fica sozinho no palco, com banquinho e violão.
Ele afirma que aquele instante é dedicado a “canções sobre a natureza”, então emenda “Madressilva”, “Orquídea”, duas recentes de “Vesúvio”, e um de seus maiores hits, “Flor de Lis”. Sem a moldura pesada da banda, Djavan mostra em versões enxutas alguns exemplos que justificam sua presença no panteão dos gigantes da MPB.
Folhapress