Gugu Liberato: a cara do Brasil, ele viverá na nossa memória afetiva
Sorriso largo no rosto, cabelo sempre impecável e aquela simpatia que fazia o telespectador acreditar que ele era “gente como a gente”: Gugu Liberato era um apresentador querido, daqueles que entrava na casa do público trazendo atrações musicais, estrelas da televisão, brincadeiras e, às vezes, polêmicas, com o jeito de quem ia tomar um cafézinho e conversar sobre as novidades. O paulista de 60 anos, que morreu nesta sexta-feira (22) após uma queda em sua casa em Orlando, nos Estados Unidos, foi um dos reis dos programas de auditório nos anos 80 e 90, boa parte devido ao carisma e jeito de bom moço. Reservado, sempre preservou sua vida pessoal, não deu corda a boatos e brincou, na medida certa, com quem passou pelo palco em quadros como A Banheira do Gugu, entre tantos outros.
Popular, Gugu esteve à frente de atrações como Viva a Noite, Sabadão Sertanejo e Domingo Legal e em todas elas nunca teve dedos para mostrar o que estava em alta no Brasil, virando, ele mesmo, a cara do país. Isso aconteceu não só nos primeiros anos após o fim da ditadura militar como no começo da internet. Ele aprendeu, programa a programa, a lidar com as possibilidades e a responsabilidade de uma imprensa livre, marcando uma nova era dos programas de auditório.
Na TV, recebeu de Chitãozinho e Xororó e Sandy e Junior aos Titãs e colocou todo mundo para cantar e dançar Meu Pintinho Amarelinho, canção ultrapopular de seu segundo álbum, Gugu. Em tempos de crise, fez muita gente sonhar com A Princesa e O Plebeu, quadro em que Netinho de Paula dava a uma jovem um dia de princesa, em um conto de fadas que tirava o peso da realidade. Não tinha talk-show mas fazia um a cada dia ou noite no ar, conseguindo furos, confissões e até lágrimas. Era quase um representante do cidadão comum.
Gugu fazia pegadinhas, mas também sabia rir de si mesmo: no palco, foi “vítima” de várias brincadeiras dos famosos que recebia. Com eles dançou e cantou, tanto com ídolos latino-americanos como Shakira, Thalia e Os Menudos de Ricky Martin, sempre com o terno bem-passado. Ria – muito e de si mesmo – com anônimos e celebridades. Ajudou pessoas endividadas, levou de volta à terra natal quem tinha deixado as origens para tentar a vida em São Paulo, realizou sonhos. Nunca deixou de passar a imagem do menino pobre, filho de um caminhoneiro e uma lavadeira, que conseguiu vencer na vida usando o dom para a comunicação às custas de muito trabalho duro.
O apresentador também mergulhou no jornalismo hardnews: no Domingo Legal comandou, emocionado, a cobertura do massacre do Carandiru, em 1992, a morte dos Mamonas Assassinas, em 1996; o acidente que ultraleve que deixou Herbert Vianna paraplégico e matou sua mulher, em 2001. Deu em primeira mão a morte de PC Farias, chefe de campanha de Fernando Collor de Mello, envolvido no escândalo que levou ao impeachment do ex-presidente. Da vertente jornalística do programa veio seu maior escândalo, uma entrevista com supostos integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital (PCC), grupo criminoso de São Paulo, em 2003.
Os homens fizeram ameaças a apresentadores de televisão e ao então vice-prefeito de São Paulo, Hélio Bicudo, e assumiram uma tentativa de sequestro do padre Marcelo Rossi, fato ocorrido uma semana antes. A reportagem foi alvo de investigação da Justiça e um comunicado do próprio PCC negou que os homens fossem do grupo.
Deu a volta por cima, criou outros programas, teve a coragem de mudar de emissora – saiu do SBT e foi para a Record -, manteve o jeito cordial e abraçou as mudanças na televisão: investiu nos games, no formato de reality show e no humor, que sempre foi uma de suas marcas registradas. Sempre atento aos novos talentos, continuou dando espaço o sonhos de quem queria deslanchar na carreira artística.
Em tempos em que famosos expõem os detalhes de suas vidas particulares nas redes sociais ao ponto da banalização, usou seu Instagram, com 1,9 milhão de seguidores, como uma plataforma para seu trabalho. Ali falava de seus programas, mostrava as “variedades”, como fazia desde a estreia na TV aos 14 anos. Pai de três filhos: João Augusto, de 18 anos, e as gêmeas Sofia e Marina, de 15, da relação com Rose Miriam di Matteo, corujava a família com orgulho em fotos esporádicas, mas cheias de amor e gentileza, como se manteve em uma vida pública de mais de quatro décadas.
QUEM