Segundo o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), de 2,4% a 4,8% das pessoas (com maior incidência entre mulheres) desenvolvem o transtorno do luto complexo persistente.

No caso dos adultos, os sintomas do luto prolongado incluem: saudade persistente do falecido; intenso pesar e dor emocional em resposta à morte; preocupação com o falecido e com as circunstâncias da morte; dificuldade em aceitar a perda; dificuldade de ter memórias positivas do falecido; sensação de culpa; sentir-se sozinho, com a vida vazia; dificuldade ou relutância em buscar interesses desde a perda ou em planejar o futuro.

O transtorno do luto complexo persistente pode desencadear problemas de saúde, segundo a médica psiquiatra Tania Alves, do Ambulatório do Luto do IPq (Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

“Quando a pessoa enluta, tem a dor física e a dor psíquica. A dor psíquica pode virar depressão, ansiedade, abuso de substâncias. A dor física se transforma em arritmias, pressão alta, gastrite, dores crônicas… Se for uma pessoa idosa, o luto é vivido no corpo como um grande estresse biológico e o órgão de menor resistência vai sofrer mais.

Alguns fatores aumentam o risco de desenvolver o luto persistente, acrescenta a médica.

“A inversão na ordem da natureza – pais que perdem filhos; quando a pessoa já tem uma doença psíquica e aí vem a morte de alguém; um luto seguido do outro; quando a perda é inesperada, sem tempo de adaptação; e morte do tipo violenta; como homicídio e suicídio, ou desaparecimento.”

Acolhimento

A maior parte das pessoas, acrescenta a psiquiatra, passa pelo luto naturalmente, “porque há uma colhimento social e entre os familiares daquele que sofreu a perda”.

No entanto, é preciso estar atento quando alguém em nossos círculos sociais perde um ente querido. A solidão é um fator que preocupa, explica Tania, justamente pela alta dos casos de suicídio.

Ela recomenda a busca de ajuda especializada. Levar a pessoa a uma entrevista com um psicólogo ou um psiquiatra pode ajudar a identificar se ela está sofrendo de luto prolongado e, se for o caso, iniciar o tratamento. “Objetivo do tratamento é arranjar um sentido para aquela morte”, afirma.

Finados

Para a médica, este Dia de Finados, tem um papel importante no aspecto social. “O Dia de Finados é um dia escolhido do ponto de vista religioso para visitar os seus mortos. É um dia reservado que dá direito aos enlutados poder visitar, falar, fazer algo e ser aceito socialmente. Existe uma solidariedade, respeito.”

“A pessoa [que perde alguém] pode ter os seus rituais unitários, as datas reservadas a cada relação, mas também pode ter a vivência de aceitação comunitária, que é um acolhimento.”