Obesidade aumenta risco cardíaco independente dos fatores de risco
A ideia de que algumas pessoas podem estar com sobrepeso ou obesidade e ainda manterem-se saudáveis pode ser um mito, de acordo com um novo estudo desenvolvido na Universidade de Toronto, no Canadá. Segundo o trabalho, mesmo sem a pressão arterial elevada, diabetes ou outros problemas metabólicos, pessoas com sobrepeso e obesidade têm maiores taxas de morte por qualquer causa, infarto e AVC em um período de 10 anos. O relatório foi publicado online dia 03 de dezembro na revista Annals of Internal Medicine.
Os autores revisaram oito estudos que analisaram as diferenças entre as pessoas acima do peso e aquelas mais magras em termos de saúde geral e risco de ataque cardíaco, AVC e morte. Esses trabalhos incluíram mais de 61.000 participantes. Em estudos com acompanhamento de uma década ou mais, aqueles que estavam com sobrepeso ou obesidade, mas não tem pressão alta, doença cardíaca ou diabetes ainda tinha um risco 24% maior de ataque cardíaco, AVC e morte, em comparação com as pessoas com peso normal, segundo os pesquisadores.
Um risco ainda maior foi observado entre aqueles com síndrome metabólica (como colesterol elevado e altos níveis de glicose no sangue), independentemente do peso. Segundo os cientistas, esses dados sugerem que o aumento do peso corporal não é uma condição benigna, mesmo na ausência de anormalidades metabólicas. Isso porque há a possibilidade dessas pessoas parecerem metabolicamente saudáveis, mas terem baixos níveis de alguns fatores de risco que pioram ao longo do tempo.
Obesidade favorece desde enxaqueca até câncer
Os dados inéditos do Ministério da Saúde são alarmantes. Pela primeira vez, o percentual de pessoas com excesso de peso supera mais da metade da população brasileira. A pesquisa Vigitel 2012 (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico) mostra que 51% da população (acima de 18 anos) está acima do peso ideal. O estudo também revela que a obesidade cresceu no país, atingindo o percentual de 17% da população. Se compararmos com o ano de 2006, no qual o índice era de 11%, perceberemos que o aumento foi significativo.
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Apesar da obesidade e do sobrepeso serem epidemias desse porte no Brasil, a população ainda não considera o excesso de peso uma doença. Um trabalho desenvolvido pela farmacêutica Allergan em parceria com a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), a Associação Nacional de Assistência ao Diabético (ANAD) e a Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (SBED) entrevistou mil indivíduos em diferentes estados e descobriu que 55% da amostragem não acreditava que a obesidade fosse uma doença. Além disso, 93,5% dos entrevistados não sabia seu próprio Índice de Massa Corpórea (IMC (Descubra seu peso ideal) ), sendo que 64% se enquadravam na faixa da obesidade. Mais do que uma doença grave, a obesidade é um problema que pode favorecer diversas outras condições em nosso organismo. “O quadro pode prejudicar a saúde de uma forma global e em vários sistemas no corpo”, afirma o endocrinologista Isaac Benchimol, do Conselho Empresarial de Medicina e Saúde da Associação Comercial do Rio de Janeiro. Ainda não está convencido? Veja como essa doença pode afetar todo o funcionamento do seu corpo:
Coração em alerta!
Quanto mais elevado é o nosso peso, mais esforço o coração precisa fazer para bombear sangue e deixar tudo funcionando plenamente. Isso sobrecarrega o órgão, que terá que bater mais rápido do que o ideal. “O tecido adiposo é um grande produtor de substâncias inflamatórias – e os adipócitos (células de estoque da gordura) aumentam em número e volume com a obesidade”, afirma o endocrinologista Isaac Benchimol, do Conselho Empresarial de Medicina e Saúde da Associação Comercial do Rio de Janeiro. Ele explica que o organismo se cansa de corrigir o erro alimentar e o sedentarismo, e vai progressivamente lançando de volta na circulação o colesterol e os triglicerídeos que não conseguiu armazenar no fígado e tecido adiposo. Essa gordura em excesso no sangue pode formar placas e entupir as artérias, causando um infarto ou AVC. Esse estado inflamatório também pode favorecer a oxidação do colesterol bom (HDL), que se transformará em colesterol ruim (LDL). Todo esse cenário favorece doenças como hipertensão, angina, insuficiência cardíaca, entre outros.
Metabolismo alterado
Quando ganhamos peso, há o aumento do tecido adiposo em dois compartimentos importantes: o visceral (abdominal) e o subcutâneo. “Quando o adipócito está cheio de gordura, existe a produção de substâncias inflamatórias que geram uma cadeia de desequilíbrio no nosso corpo”, afirma a endocrinologista Andressa Heimbecher, de São Paulo. Isso causa o aumento dos níveis de colesterol ruim e triglicerídeos, aumento de gordura no fígado, diabetes tipo 2, elevação da pressão arterial, do risco de aterosclerose e consequentemente de doenças cardíacas e cerebrovasculares. “O acúmulo de gordura abdominal é o mais danoso, porque estimula mais a produção dessas substâncias inflamatórias.”
Quando o adipócito está com sua capacidade de estoque cheia, ocorre também um depósito de gordura no fígado, conhecido como a esteatose hepática. “Neste contexto, há aumento dos níveis de ácidos graxos livres circulantes, que geram um efeito no pâncreas chamado de lipotoxicidade – a gordura circulante é tóxica ao funcionamento das células beta do pâncreas”, diz Andressa. Ocorre também um excesso de ácidos graxos circulantes nas células musculares, impedindo a entrada de glicose estimulada pela insulina, gerando a resistência insulínica. “Nesse cenário, vai ficando cada vez mais difícil para as células absorverem glicose, acarretando no aumento de ácidos graxos livres e substâncias inflamatórias, gerando um ciclo vicioso.” Esse mau funcionamento das células beta do pâncreas, que causa a resistência insulínica, pode agravar e se transformas em diabetes tipo 2.
Quanto mais a pessoa ganha peso, maior é o depósito de gordura acontecendo no tecido adiposo e no fígado. O fígado é o nosso órgão de processamento do colesterol, e se ele não funciona de maneira adequada nossos níveis de colesterol e triglicérides aumentam. “Além disso, quando existe a resistência insulínica, as células dos músculos e tecido adiposo passam a não absorver glicose e a usar gordura quando precisam de energia”, afirma a endocrinologista Andressa. Apesar de isso parecer bom, a quebra de gordura em vez de glicose na obesidade aumenta mais ainda a liberação de ácidos graxos no sangue e consequentemente de colesterol ruim e triglicérides.
“A doença do refluxo gastroesofágico tem, em muitos casos, uma ligação direta com a obesidade”, alerta a gastroenterologista Fernanda de Oliveira, do Hospital Santa Luzia, em Brasília. Ela explica que o aumento da gordura abdominal causa a elevação da pressão dentro do estômago, o que leva ao retorno do conteúdo gástrico para o esôfago – causando assim o refluxo. “Os pacientes com obesidade também têm uma incidência maior de Hérnia de Hiato (deslocamento do estômago para o tórax), que também é uma alteração anatômica que pode levar à Doença do Refluxo”, afirma.
A obesidade também aumenta o risco de pedras na vesícula devido ao desequilíbrio de alguns elementos no sangue que influenciam na formação da bile. “A bile é produzida pelo fígado e armazenada na vesícula, e consiste em uma mistura de várias substâncias, dentre elas o colesterol, que é responsável pela maioria dos casos de formação de cálculos na vesícula”, conta a especialista. Desta forma, quando o colesterol ruim (LDL) está alto e o colesterol bom (HDL) está baixo temos um maior risco de aparecimento de pedras na vesícula, justamente pela alteração deste elemento na bile.
A obesidade também é um fator de risco para pancreatite. Os casos de pancreatite relacionados à obesidade ocorrem principalmente pela formação de cálculos na vesícula que migram para o pâncreas – mas também podem acontecer pela elevação dos triglicerídeos. A maioria dos pacientes com obesidade também tem um acúmulo de gordura no fígado. “O grande risco da gordura no fígado é o aparecimento da esteatose hepatite, que é destruição das células do fígado pela presença de gordura”, explica a gastroenterologista. A persistência deste quadro por muitos anos pode levar a cirrose hepática e por isso deve ser acompanhada. “O emagrecimento é fundamental nesses casos.”
Fertilidade em perigo
Quanto maior é o tecido adiposo, maior é a concentração de estrona, um tipo de estrógeno, no sangue. “Isso irá estimular o endométrio (parte de dentro do útero, que descama nas menstruações) e aumentar o fluxo menstrual”, demonstra a ginecologista Renata Di Sessa, do Hospital 9 de Julho, em São Paulo. Ao mesmo tempo, com o aumento do estrógeno, o estímulo para os ovários irá diminuir, não havendo ovulação, o que impede a menstruação. Assim, a mulher demora a menstruar e, quando acontece, é em grande quantidade. “A dificuldade de obter a ovulação também pode favorecer um quadro de infertilidade”, alerta a especialista. Já o aumento dos triglicerídeos e a instalação do quadro inflamatório no organismo pode favorecer a infecção urinária de repetição e a candidíase de repetição, ou seja, que sempre voltam a aparecer. “Essas últimas também estão fortemente associadas ao diabetes e pré-diabetes, que tem como fator de risco a obesidade.”
No homem, a obesidade com IMC acima de 40 pode interferir na produção de uma enzima chamada aromatase, responsável por transformar a testosterona em estradiol, um hormônio feminino que, quando em grande quantidade no homem, pode interferir na produção de espermatozoide e diminuir sua contagem. Com o aumento acentuado de peso, a aromatase passa a ser produzida em maior quantidade, transformando mais testosterona em estradiol e interferindo na fertilidade.
Fonte: Minha Vida